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Governo Bolsonaro: ano novo, estatal nova

Entrou em operação a ENBPar, nova estrela na constelação de empresas estatais. É a segunda criada por Bolsonaro, que anunciou mas não privatizou nenhuma

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 14 jan 2022, 08h00

Ano novo, estatal nova. Entrou em operação, em Brasília, a Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional S.A. (ENBPar), do Ministério das Minas e Energia.

É a segunda criada por Jair Bolsonaro em três anos — a primeira foi a NAV Brasil Serviços de Navegação Aérea S.A.

A EBNPar assume o controle da Eletronuclear, dona das usinas de Angra, e da metade brasileira na hidrelétrica Itaipu, empreendimento binacional em parceria com o Paraguai.

Vai gravitar nas órbitas da Marinha, responsável pelo desenvolvimento de tecnologia nuclear, e da burocracia barrageira da Eletrobras, que em junho completa 60 anos de existência.

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A EBNPar e NAV Brasil passam a integrar a constelação de empresas públicas. O número companhias varia conforme o método de cálculo.

Em dezembro de 2019, por exemplo, o Ministério da Economia informou a existência 46 empresas e 152 subsidiárias sob controle direto da União.

Além dessas, existiam 218 sob “influência significativa” do governo, “mas sem ter o controle”. E ainda 208 outras “com mera participação” da União entre os acionistas.

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O governo era recém-nascido, e o então secretário de Desestatização, Salim Matar, explicava: “Em janeiro, quando assumimos, encontramos 134 estatais. Fizemos uma revisão nos números e, decorridos esses primeiros nove meses, encontramos mais de 600 negócios nos quais o governo tem participação.”

A investigação interna, alegou, tinha a transparência como objetivo “para que a sociedade saiba onde o dinheiro do pagador de impostos foi investido”.

Empresário e patrono do Instituto Liberal, Mattar calculava em 470 mil o número de funcionários nessas empresas e em R$ 1,2 trilhão o valor dos ativos da União passíveis de privatização — nessa conta incluía as ações do Tesouro na Petrobras. Seis meses mais tarde, estava de volta à sua empresa de aluguel de carros.

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Abandonou Brasília, porque desistiu de Bolsonaro, contou na época: “O governo não é liberal. Eu acreditei no candidato Bolsonaro, no candidato que falava em privatizar a ‘TV da Dilma’, a empresa do trem-bala. Mas foi só um discurso de campanha”.

Em 2018, duas semanas antes do primeiro turno eleitoral, Bolsonaro embalava ilusões neoliberais de seus eleitores, magnetizados pela solidariedade com o candidato vitimado num atentado à faca.

Às 6h17 do domingo, 23 de setembro, usou uma rede social para revalidar promessas: “Assumi compromisso de reduzir número de ministérios, extinguir e privatizar grande parte das estatais que hoje existem. São gastos desnecessários que devem atender à população. Recusar acordões que negociam cargos em troca de apoio já faz parte deste objetivo.”

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Dezessete meses depois, o secretário de Desestatização jogou a toalha: “Não querem privatizar para continuar o toma lá dá cá”, disse Mattar.

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(Reprodução/Twitter)

Bolsonaro chegou ao último ano de mandato com 23 ministérios e sem uma única privatização. Ao contrário, criou duas novas empresas, a EBNPar e NAV Brasil, e uma autarquia, a Autoridade Nacional de Segurança Nuclear.

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Vai à luta pela reeleição esgrimindo com a mesma carta de intenções que encantou liberais como o empresário Mattar em 2018 – era anexo uma desbotada lista de ativos para venda (Eletrobras, Correios, Casa da Moeda, Telebras, Codesp, EBC, Lotex, Serpro, Dataprev, CBTU, Trensurb…).

Se tiver sorte, consegue levar a Eletrobras à leilão ainda neste ano, e ainda assim o ritual de contrato somente seria concluído em 2023, sob novo governo.

O clima, hoje, é de insegurança. Bolsonaro derrete nas pesquisas e o PT de Lula, líder nas sondagens, tem anunciado a intenção de desfazer privatizações.

Como Bolsonaro não fez nenhuma, sobram aquelas privatizadas pelo próprio PT: foram 18 as estatais vendidas no ciclo Lula-Dilma. Seria uma revogação do próprio passado.

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