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Falta alguém no relatório policial sobre o golpe: quem pagou a conta?

Houve, sim, um grupo de empresários simpático ao desvario golpista. No relatório da Polícia Federal nada consta. Os inquéritos, porém, seguem abertos

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 27 nov 2024, 17h10 - Publicado em 27 nov 2024, 07h30

Há lacunas no relatório sobre o desvario golpista de Jair Bolsonaro, cujas sequelas devem permanecer por longo tempo na vida política do país.

A Polícia Federal demonstrou competência ao retratar com depoimentos e farta documentação a tentativa frustrada de golpe de estado com um plano de triplo assassinato. Mas restaram espaços não preenchidos no “resumo” de 884 páginas enviado ao Supremo Tribunal Federal. Um exemplo: quem pagou a conta?

A polícia dedicou um capítulo (“Da relação com financiadores das manifestações’’) à coleta de dinheiro e materiais no Mato Grosso do Sul. Destacou um agente público, Aparecido Andrade Portela, imposto por Bolsonaro na suplência do Senado pelo Partido Liberal – ele é adversário da senadora eleita pelo Progressistas, Tereza Cristina, ex-ministra da Agricultura.

Tenente Portela, como é conhecido, serviu com Bolsonaro no final dos anos 1970 no Grupo de Artilharia de Campanha em Nioaque (MS), região de fronteira com o Paraguai. No livro “O cadete e o capitão”, Luiz Maklouf relata que Bolsonaro trocou o Rio por Nioaque “por vontade própria”, segundo documentos do Exército, e desenvolveu atividades paralelas e proibidas na vida militar: arrendou terras, plantou melancias e atuou no comércio de fronteira.

A polícia registra contatos frequentes entre Portela e Bolsonaro, mas não menciona nomes de financiadores nem valores, mas ressalva ter realizado a “identificação de novos investigados”. Fica claro, no relatório, que empresários apostaram dinheiro em Bolsonaro na expectativa de “consumação do ato de ruptura institucional”.

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Até a segunda-feira 26 de dezembro de 2022, eles cobravam Portela sobre o golpe. Então, enviou mensagem ao ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid: “Estão me cobrando se vai ser feito mesmo…” O ajudante de ordens da presidência respondeu: “Vai sim. Ponto de honra. Nada está acabado ainda da nossa parte”. E, segundo a polícia, se ofereceu para ajudar Portela: ‘‘Se quiser eu falo com eles…para tirar da sua conta…’’

Uma das peculiaridades da trama em que se enredou Bolsonaro é a rarefeita adesão da elite empresarial. Até onde as investigações indicam foi escasso o engajamento de empresários. Ampla maioria do setor privado se manteve à distância da radioatividade golpista. Empresas relevantes nos segmentos econômicos de grande concentração de capital — finanças, agronegócio, mineração e comércio — foram além: decidiram ficar na contramão; financiaram, subscreveram e divulgaram manifestos públicos em defesa do regime democrático.

Mas houve, sim, um grupo de empresários simpático ao desvario golpista. Alguns de São Paulo, Minas e do Centro-Oeste, por exemplo, se destacaram no apoio aberto com recursos financeiros e materiais. No relatório da Polícia Federal nada consta. Os inquéritos, porém, seguem abertos.

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