Emboscada no Senado contra Marina mostra governo Lula em vertigem
Senadores do governo e da oposição desperdiçaram uma jornada legislativa, caríssima, num show de aversão às mulheres, com a ministra no alvo

A emboscada no Senado contra Marina Silva, ministra de Meio Ambiente, mostra o governo Lula em vertigem. A percepção de debilidade política avança no Congresso e tem encorajado iniciativas antigoverno até mesmo entre ministros e líderes governistas.
Na semana passada, por exemplo, o Senado aprovou mudanças radicais no sistema de licenciamento ambiental sugeridas há tempos por empresas do agronegócio e mineração.
A aprovação aconteceu com o voto de 80% dos senadores que estavam no plenário, numa iniciativa patrocinada por Davi Alcolumbre, presidente do Senado.
Alguns votaram estimulados pela vontade de expor a ministra do Meio Ambiente em isolamento quase total no Congresso e no governo. Faz parte do jogo e é absolutamente diferente da tocaia política preparada na Comissão de Infraestrutura nesta terça-feira (27/5).
Os senadores Marcos Rogério (PL-RO), Omar Aziz (PSD-AM) e Plinio Valerio (PSDB-AM) desperdiçaram três horas de uma jornada legislativa, caríssima para quem paga impostos, num show peculiar de aversão às mulheres. Com a ministra no alvo. Perdeu-se a essência do debate legislativo e, principalmente, a noção de decoro parlamentar — a sessão está integralmente transcrita aqui.
“A senhora atrapalha o desenvolvimento do nosso País”, gritava Omar Aziz, que culpou a ministra do Meio Ambiente por “cinco mil obras inacabadas” — o Tribunal de Contas da União estima em onze mil, parte inclusa desde os anos 1980, quando Marina Silva ainda era uma estudante de História na Universidade do Acre.
“O senador Omar Aziz é um senador da base do governo Lula”, comentou o oposicionista Marcos Rogério que presidia a sessão. “Eu sei que ele é”, retrucou a ministra, completando com mordacidade: “É um governo de frente ampla”.
Faltou governo em defesa da ministra na audiência. A ausência é eloquente sobre a dimensão do racha na Esplanada dos Ministérios, no Palácio do Planalto, no Partido dos Trabalhadores e satélites. Não se trata somente de Marina Silva.
Há conflitos abertos, por exemplo, entre o chefe da Casa Civil, Rui Costa, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad; entre Haddad e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que também está em confronto com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre.
O motivo é único: as eleições do ano que vem. E, nas circunstâncias, a eventual candidatura de Lula à reeleição é a última das preocupações de cada um, dentro e fora do governo.