Lula vai completar onze anos de governo no réveillon. Com três mandatos, em duas décadas, já bateu o recorde de 4 015 dias no Palácio do Planalto. Somente dois políticos permaneceram mais tempo no poder. Pedro II reinou nas últimas seis décadas do Império (1831 a 1889). Getúlio Vargas foi ditador por quinze anos (1930 a 1945), elegeu-se (1951) e ficou três anos na Presidência — até o suicídio (1954). Na luta por um quarto mandato, Lula se mostra enredado nos mesmos problemas que vem driblando desde a primeira disputa presidencial, há 36 anos.
O impasse sobre a política de segurança pública é exemplar. Nunca foi tema prioritário em sua agenda eleitoral. No governo, ele sempre zelou pela prudente equidistância, deixando os governadores com a responsabilidade exclusiva pelos infortúnios nas ruas inseguras. Lula continua sem plano, sem rumo e, principalmente, sem governo com um claro sentido de urgência para a insegurança pública.
Os eleitores, porém, teimam em colocar o aumento da criminalidade no topo da lista dos problemas brasileiros. O nível de preocupação com a violência é o dobro de um ano atrás, indicam diferentes pesquisas. Hoje, exemplifica sondagem da Quaest, a inquietude da população com a escalada da delinquência violenta nas cidades brasileiras é o triplo das aflições declaradas em outubro de 2024 com inflação, pobreza, desemprego, corrupção, má qualidade na saúde e na educação. Nesse quadro cabe a interpretação de incentivo coletivo aos partidos e candidatos a apresentarem propostas de política de segurança pública no debate eleitoral de 2026.
Lula tateia. Numa conversa telefônica recente com Donald Trump, sugeriu ampliar a cooperação entre polícias do Brasil e dos Estados Unidos nas investigações sobre o circuito transnacional de lavagem de dinheiro do crime organizado. A sugestão de Lula tinha alvo e endereço certo: a engrenagem de lavagem de dinheiro de fraudes bancárias e das máfias nacionais (Primeiro Comando da Capital, o PCC, e Comando Vermelho) que começa em escritórios financeiros de São Paulo e se oculta no universo das empresas de prateleira sediadas no paraíso fiscal de Delaware, centro bancário e petroquímico a 200 quilômetros de Nova York.
Foi uma sugestão diplomática perspicaz numa etapa de ênfase de Trump na retórica anticrime, realçada pelo estacionamento de uma força-tarefa militar de catorze navios e 15 000 soldados no Mar do Caribe, supostamente para “contenção” do fluxo de narcotráfico sul-americano. Lula sabe que a iniciativa é insuficiente, mas, sem bússola nem plano para transformação do panorama de insegurança, recorre à sua melhor arma eleitoral — a eloquência no palanque.
“Preocupação com o aumento da violência urbana é recorde”
Depois da conversa com Trump, durante viagem a Pernambuco, discursou sobre a violência contra mulheres. E acabou por introduzir a pena de morte no debate da política anticrime: “Até a morte é suave (para punir agressores de mulheres). Aquele cara que bateu na moça com 61 socos… que pena merece um cara desse?… É preciso que haja um movimento nacional dos homens contra os animais que batem, que judiam e maltratam as mulheres”. Na versão oficial suprimiu-se o “judiam”, considerada palavra politicamente imprópria.
A cúpula do Partido dos Trabalhadores parece ter ficado mais incomodada com a veemência de Washington “Quaquá” Siqueira, vice-presidente do partido. Enquanto Lula falava aos pernambucanos, ele foi a um seminário do partido sobre segurança pública no Rio de Janeiro. E comentou a recente ação policial em favelas da Zona Norte carioca que terminou com 122 mortos, entre eles cinco policiais: “Ou a gente entra nesses territórios para mudar a prática e a vida do território e libertar a vida do povo… se a gente não faz isso, ninguém o fará. É óbvio que a polícia do Rio, o Bope, só matou ali otário, vagabundo, bandido. Eu perguntei: ‘Tem trabalhador aí?’. Não. Tudo bandido…”.
Um ano atrás, Quaquá celebrou a eleição para um terceiro mandato na prefeitura de Maricá (RJ) com o anúncio de mudança na segurança pública da cidade, onde vivem 190 000 pessoas: “Não toleraremos domínio armado do território. Quem portar fuzil vai pra vala. E a palavra é esta: quem portar fuzil vai pra vala!”.
O vice-presidente da sigla acirra ânimos no PT porque personifica contradições visíveis na crise interna do partido, passível de levá-lo à fragmentação. Quaquá, Tarcísio de Freitas e Lula são políticos de gerações diferentes. Às vésperas da temporada eleitoral de 2026, no entanto, demonstram que ainda não têm uma resposta objetiva à principal preocupação dos eleitores: o crescimento da insegurança pública.
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Publicado em VEJA de 5 de dezembro de 2025, edição nº 2973
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