Dura reação à ajuda de Trump a Milei mostra Brasil no alvo dos EUA
É previsível que os EUA tentem tomar do Brasil parte do mercado de soja da China. Ofensiva dos eleitores de Trump contra Argentina é prelúdio

Vai custar cerca de 20 bilhões de dólares a manobra de Donald Trump em apoio ao governo Javier Milei para influenciar o rumo das eleições legislativas na Argentina, marcadas para o próximo dia 26.
O impacto dessa ajuda a Milei, no entanto, ultrapassa os limites de uma operação financeira para favorecer eleitoralmente a um aliado da Casa Branca na América do Sul.
Virou um problema político para Trump diante de um segmento relevante da sua base eleitoral. Os agricultores americanos estão reagindo duramente porque há quatro meses não conseguem, por exemplo, vender soja à China. Assistem ao avanço dos concorrentes da Argentina e do Brasil no mercado chinês.
Um grupo de 14 parlamentares da oposição democrata divulgou carta enviada a Trump pedindo a suspensão do plano de ajuda financeira ao governo Milei às vésperas das eleições legislativas: “Escrevemos com profunda preocupação sobre seu plano de enviar à Argentina um resgate financeiro de 20 bilhões de dólares, financiado pelos contribuintes dos EUA, poucos dias depois de que o país tomou medidas para prejudicar os agricultores americanos. Na semana passada, a Argentina anunciou um plano de suspensão de impostos sobre suas exportações de soja, afetando assim os produtores de soja dos EUA no mercado internacional.”
“Pedimos a você e à sua administração” — segue a carta — “que detenham de imediato qualquer plano de assistência financeira à Argentina. Em lugar de subsidiar um país estrangeiro para influir nas eleições de metade do mandato em nome do seu amigo — e debilitar ainda mais os agricultores dos EUA no processo —, deveriam priorizar a redução dos custos para famílias americanas e o fortalecimento da competitividade agrícola do país.”
Os senadores e deputados do Partido Democrata criticam a política comercial de Trump, baseada na imposição de tarifas genéricas, numa etapa de aumento do custe de insumos básicos para a produção agrícola. “Os tarifaços de represália estão fazendo com que os produtos agrícolas dos EUA sejam menos competitivos e põem em risco mercados-chave para a exportação — quase 20% da produção agrícola americana se vende a outros países. Comesses mercados em perigo, os agricultores e as empresas de toda a cadeia de suprimento agrícola enfrentam agora a queda ddos preços das matérias-primas e a redução das margens de lucro, enquanto a dívida agrícola, as taxas de inadimplência e as dificuldades operacionais aumentam em todo o país.”
“Os produtores de soja” — acrescentam — “estão sendo particularmente afetados, já que a China, historicamente nosso maior mercado de exportação agrícola, não tem comprado soja americana desde maio e comprou 51% menos até julho, em comparação com o mesmo período do ano passado.”
“Apesar da crise que enfrentam nossos agricultores, sua atenção parece estar em outra parte: em 22 de setembro, sua administração anunciou que está pronta para fazer o necessário para resgatar a Argentina em meio `crise econômica que o país atravessa. O presidente Javier Milei é um dos seus amigos e aliados ideológicos mais próximos, e enfrenta eleições cruciais de metade do mandato. Imediatamente depois do anúncio da sua administração sobre o possível apoio financeiro dos EUA à Argentina, esse país suspendeu os impostos sobre exportação de soja, milho, trio e outros produtos agrícolas. Esta mudança de política te e consequências imediatas para os agricultores americanos.”
“Os produtos agrícolas argentinos são, agora, significativamente mais competitivos nos mercados globais, e informa-se que compradores chineses adquiriram até 40 carregamentos de soja argentina em apenas uma semana. Agora, inclusive depois que a Argentina suspendeu seus impostos sobre exportações, a sua administração avança a plena carga com seus planos de oferecer assistência financeira por um montante de 20 bilhões de dólares, recompensando assim um país que tem implementado políticas diretamente prejudiciais aos agricultores dos EUA, em benefício dos nossos competidores.”
A Argentina é exportador importante, mas é o Brasil quem tem a absoluta hegemonia nas vendas de soja para a China: fornece mais de dois terços do consumo.
Ano passado, o Brasil faturou 36,5 bilhões de dólares, equivalentes a 197,1 bilhões de reais, apenas com a exportação de soja ao mercado chinês. É previsível que os EUA tentem tomar do Brasil parte desse bilionário mercado de grãos. A ofensiva contra a Argentina deve ser entendida como prelúdio.