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Congresso desenhou o novo equilíbrio de poder com o governo

Mudança no quadro político foi impulsionada pelo veto do Supremo Tribunal Federal à manutenção do orçamento secreto

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 22 dez 2022, 09h30

Lula saiu das urnas pedindo ao Congresso um cheque para quatro anos de governo — quase 200 bilhões de reais ao ano, fora do previsto no orçamento para 2023. No meio do caminho, topou reduzir o prazo para dois anos no meio das negociações.

Ontem, quarta-feira 21, recebeu 145 bilhões — pelos cálculos do governo, suficiente para cobrir gastos extras nos primeiros doze meses.

O desgaste do novo governo, que ainda não nasceu, pode ser medido pelo tamanho da lipoaspiração feita na PEC da Transição pelo agrupamento de forças da centro-direita na Câmara.

No fim das contas, Lula conseguiu aprovar sua proposta de emenda constitucional, em dois turnos, por maioria de 331 votos. Ou seja, com apoio de 67% dos deputados que participaram da sessão.

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É resultado expressivo para governo eleito com minoria parlamentar. Contém uma boa notícia, na interpretação dada pelo novo ministro da Fazenda, Fernando Haddad: “Ficamos na neutralidade fiscal.”

Em português, ele sugere que não seria necessário um aumento de carga tributária. Pelo menos no primeiro ano de governo.

O placar da Câmara, no entanto, deve ser visto com cautela.

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O jogo ainda nem começou, lembra o senador Esperidião Amim (PP-SC) com o humor cáustico: “Assim como não se nega o último pedido de um condenado à morte, em política não se nega o primeiro pedido de um presidente eleito.”

Lula aprovou a PEC da Transição com vantagem de 23 votos no plenário dos deputados. Obteve 7% a mais do que o mínimo necessário (308 votos).

O êxito foi determinado pela centro-direita, com auxílio do Progressistas de Arthur Lira, presidente da Câmara que fez questão de votar, e do Partido Liberal de Valdemar Costa Neto e Jair Bolsonaro.

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No Senado foram 66 votos a favor entre 77 participantes. Margem de 85%.

No conjunto, o Congresso desenhou sua rota para um novo equilíbrio de poder com o governo.

No resultado das votações fica evidente o desgaste de Lula, realçadas pelas fissuras no bloco dos aliados, minoritário e descontente.

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Ganhou fôlego financeiro de curto prazo, mas levou muito menos do que pretendia: vai atravessar o primeiro semestre de 2023 amarrado numa negociação com a centro-direita sobre o novo padrão de controle de gastos e estabilidade das contas governamentais.

A legislação aprovada estabelece prazo até agosto, mas há pelo menos dois bons motivos para o governo se antecipar:

1) Quanto mais demorar para apresentar o “arcabouço fiscal” — expressão adotada pelo novo ministro da Fazenda —, maior será a pressão do setor privado, que já está adiando investimentos à espera do desfecho;

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2) Pelo ritual constitucional, o governo vai precisar definir até abril as diretrizes orçamentárias para 2024. Seria muito difícil delinear a base do orçamento do ano seguinte sem o mecanismo de controle de gastos e estabilidade nas contas, o “arcabouço fiscal”.

Esse novo quadro político foi impulsionado pelo veto do Supremo Tribunal Federal à continuidade do orçamento secreto.

O Supremo liquidou o modelo Bolsonaro de governança, assentado na concentração de verbas públicas em centena e meia de parlamentares.

Protegidos pelo anonimato, eles manejaram 26 bilhões de reais do orçamento público nos últimos 24 meses. Por enquanto, ninguém sabe quem são e qual o destino dado a essa dinheirama. Por enquanto…

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