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José Casado

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Informação e análise

Brasil tem recorde de decadência industrial em relação ao mundo

Brasil completou 16 anos de retrocesso industrial em relação ao mundo, segundo o Iedi, e depende de escolhas políticas para escapar do pífio crescimento

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 28 jun 2021, 09h30

O Brasil completou um ciclo de 16 anos de retrocesso industrial em relação ao resto do mundo. E está prisioneiro numa armadilha política, que limita suas chances de levar a economia a um ritmo mais veloz crescimento, em bases sustentáveis, com mais tecnologia, empregos e melhores padrões de remuneração.

A regressão é uma das mais significativas do planeta e a maior entre os países em desenvolvimento, quando se compara o desempenho da indústria nacional com o de trinta países responsáveis por 90% da produção mundial. Essa conclusão é do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial, de São Paulo, ao analisar o declínio da industrialização brasileira nas últimas cinco décadas. O Iedi agrega meia centena dos maiores grupos industriais do país.

Não se trata de efeito pandêmico. Os dados oficiais indicam uma queda de 4,3% na produção durante o ano passado, muito menor que a média mundial (-8,4).

Isso foi possível por causa da eficácia das medidas governamentais de mitigação dos efeitos da Covid-19, entre elas o auxílio emergencial.

Essa renda básica interrompida em dezembro sustentou o consumo 67,8 milhões de pessoas em 45% das residências. O investimento social representou 4% do Produto Interno Bruto. Não foi suficiente, no entanto, para estancar o retrocesso industrial na estrutura produtiva do país.

O recuo é histórico e tem consequências relevantes no desenvolvimento social e econômico, entre outras coisas porque limita as possibilidades de multiplicação da renda, da produtividade e de um mercado de trabalho mais qualificado e com melhor remuneração.

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Há um quarto de século, a indústria tinha o dobro do tamanho do agronegócio e do extrativismo no PIB nacional.

Em 1996, as empresas de manufatura respondiam por 14% da produção de riqueza, enquanto agropecuária e segmentos extrativistas somavam 7%.

A longa decadência resultou numa inversão de posições: ano passado, agropecuária e extrativismo aumentaram sua participação no PIB para 16%, enquanto a indústria se manteve no patamar de 10%.

O cenário piora quando se compara a evolução brasileira com o resto do mundo nos últimos 50 anos.

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Nesse período, o Brasil deu um mergulho enquanto ocorria uma expansão da industrialização mundial.

O declínio da Indústria
(Iedi/VEJA)

“O grau de industrialização do Brasil costumava ser superior ao do mundo”, ressalta o Iedi no estudo, lembrando em alguns momentos (1976 e 1980), chegou a superar a média mundial (5,6 pontos percentuais acima). Desde 1981, essa diferença se reduz ano a ano.

“Desde o início do século XXI”, acrescenta, “o grau de industrialização brasileiro tem sido menor que da economia mundial e essa diferença vem aumentando. É um retrocesso de longo prazo que reforça a tese de que se trata de um problema estrutural com vários componentes – entre eles o ‘Custo Brasil’ – e não circunscrito a apenas um governo.”

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A industrialização foi tardia, intensa, a partir dos anos 1950 do século passado, e durou pouco em relação ao padrão mundial. Por ele, a participação da indústria no PIB primeiro aumenta e, depois, vai caindo à medida em que a renda por habitante sobe.

Nos Estados Unidos, por exemplo, o declínio industrial no PIB começou a ocorrer quando os americanos alcançaram uma renda per capita em torno de US$ 25 mil — chegou a US$ 65 mil em 2019.

O retrocesso
(Iedi/VEJA)

No Brasil o processo foi prematuro, acha o Iedi. A regressão começou numa etapa em que a renda média nacional equivalia a US$ 11 mil, continuou e aumentou quando se chegou a US$ 15 mil de renda per capita.

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A mudança precoce na estrutura produtiva deveria favorecer uma consistente ascensão do setor de serviços. Isso até está ocorrendo, mas não de uma maneira bem-sucedida, argumenta o instituto. “Os serviços que ganham bastante participação no PIB empregam profissionais de baixos salários e possuem baixo crescimento da produtividade.”

Dessa forma, prossegue, o país reduz seu principal motor do crescimento “sem que nenhum outro setor dinâmico assuma essa posição”. É ínfima a a participação econômica de segmentos de serviços de informação e intensivos em conhecimento que remuneram o trabalho com salários elevados, “representam ilhas” numa economia cada vez menos sofisticada em tecnologia e com um crescente volume de baixos salários.

O declínio industrial limita as chances de crescimento. É uma armadilha para o futuro. Desarmá-la depende de escolhas políticas.

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