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Indeciso, Bolsonaro teme impacto da crise na campanha

"Não é fácil tomar decisões", se queixa, preocupado com a dimensão do ônus na campanha à reeleição

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 9 mar 2022, 08h00

Depois de duas semanas de guerra, Jair Bolsonaro ainda não sabe qual rumo deve tomar. “Não é fácil tomar decisões”, queixou-se ontem a duas dúzias de religiosos. “Temos 210 milhões de pessoas que vivem e sentem as consequências de qualquer decisão que eu venha a tomar.”

A guerra de Putin, de quem se diz um admirador, complicou a campanha de reeleição e, também, atropelou suas expectativas para o últimos onze meses do mandato.

“O mundo todo está conectado. O que acontece a dez mil quilômetros de distância, ou a vinte mil quilômetros, tem influência sobre nós” — argumentou, pedindo apoio aos líderes de uma fração evangélica: “Eu dirijo a nação para o lado que os senhores [líderes de uma fração evangélica] assim o desejarem. É fácil? Não é.”

A indecisão presidencial é motivada pela preocupação com a dimensão do ônus eleitoral do candidato.

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Isso porque o governo errou ao apostar que Putin não invadiria a Ucrânia, foi surpreendido pela dimensão do custo da guerra e está refém das próprias fragilidades.

Elas se somam à herança de vulnerabilidades de governos anteriores. O país exporta petróleo, mas depende da importação de derivados na proporção de um terço do consumo nacional. Não tem política de estoque estratégico e enterrou mais de US$ 20 bilhões em projetos fracassados de mega-refinarias como Abreu e Lima, em Pernambuco, e Comperj, no Rio.

Agora, está diante da inflação do petróleo. E, também, dos alimentos. Ambas avançam mais rápido que tanques russos em solo ucraniano, impulsionadas pelo recorde de sanções econômicas impostas à Rússia.

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Em duas semanas de guerra, os preços do óleo subiram em média 30%. Os do gás natural, fonte do gás de cozinha (GLP), aumentaram 280%. E os do trigo saltaram 49%, porque Rússia e Ucrânia eram responsáveis por um terço do abastecimento mundial.

Bolsonaro precisa decidir o que fazer, rapidamente. Como não tem dinheiro sobrando no caixa, suas opções estão limitadas, e todas com risco similar à de tiro no escuro.

Paira no governo a sedução da “solução militar” para um problema econômico — a do controle de preços explícito ou do “congelamento”, um eufemismo. É saída arriscada pelas consequências (represamento de preços, quebra de contratos e abalo nas contas da Petrobras, onde o governo só é dono de 35% das ações).

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Paulo Guedes, ministro da Economia, passou horas no Palácio do Planalto, ontem, descrevendo os riscos. Na saída, resumiu: “Só maluco congela preço”.

Não há chance, porém, de omissão do governo. Há sete semanas os preços dos combustíveis estão sob “congelamento” informal, sem reajuste. Mais de três centenas de distribuidores privados já suspenderam compras no exterior, informa a entidade setorial (Abicom) que adverte: sem importação, existe o risco de desabastecimento.

Se mantida a atual política de equivalência com preços internacionais, haveria aumento de cerca de 30% nos preços da gasolina, diesel e do gás de cozinha. Bolsonaro acha que poderia ir além, e “subir 50%”. Por óbvio, isso não deve acontecer.

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Subsidiar é caro. Para manter o preço atual ao consumidor, o governo precisa bancar a diferença. Quanto custa segurar até dezembro? Não se sabe exatamente, mas um gasto mínimo de R$ 20 bilhões para amortecer R$ 0,90 no custo do litro de gasolina. É menos que o valor somado (R$ 21 bilhões) do orçamento paralelo – emendas parlamentares sem transparência — e do fundo público de financiamento de campanhas eleitorais.

Hoje, no Senado, vai-se tentar um acordo político em torno do financiamento, com divisão da fatura entre o governo federal e os Estados.

Haverá solução emergencial, negociada, porque assim como Bolsonaro, parlamentares, governadores e partidos estão empenhados na caça aos votos para a eleição de outubro.

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Nessa perspectiva, qualquer resposta à crise já nasce fragilizada, porque ninguém sabe o custo final – ontem à noite, o petróleo oscilava em 132 dólar por barril, sete dólares abaixo do preço de domingo, e a tendência é de alta.

Há outros aspectos relevantes. Por exemplo, a decisão de subsidiar gasolina e diesel significa privilegiar com dinheiro público proprietários de veículos, pessoas e empresas, ou seja, o pedaço mais mais rico de uma sociedade empobrecida.

Além disso, em plena crise, o país vai preferir subsidiar e incentivar o consumo de combustível fóssil sem um plano para energias alternativas? O Tesouro vai ajudar a pagar a conta da gasolina, mas não a do pão de cada dia (o trigo subiu 49% em duas semanas)?

Em política a regra é não decidir até que seja necessário, mas não custa lembrar que toda escolha errônea tem consequências nas urnas.

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