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Bolsonaro fala em chantagem, sem provas, e busca proteção

Suspeito em cinco inquéritos criminais, se diz vítima de crime mas evita dar os nomes de quem o pressiona na presidência

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 5 ago 2022, 11h35 - Publicado em 5 ago 2022, 10h00

Jair Bolsonaro adicionou à tática de tumulto do processo eleitoral a busca de proteção para o dia em que deixar o governo.

Se diz ameaçado e chantageado, conforme o autorretrato que traçou ontem para uma plateia de pastores da Assembleia de Deus, reunida em Guarulhos (SP): “Às vezes me pergunto: Quem sou eu para chegar aonde cheguei? Isso não é da boca pra fora. Quantas vezes eu falo pra vocês: É muito mais fácil estar do outro lado, mas é muito mais fácil estar do outro lado e não estar sendo ameaçado de cadeia quando deixar o governo.”

Ele é protagonista de cinco inquéritos no Supremo Tribunal Federal como suspeito de delitos criminais variados — da quebra de sigilo de documentos governamentais à disseminação de informações falsas sobre a pandemia, o sistema eleitoral, o Judiciário e seus integrantes.

Candidato à reeleição, Bolsonaro tem promovido reuniões de campanha pautadas pela possibilidade de derrota eleitoral. Agora, a dois meses do primeiro turno eleitoral, permeia o discurso não apenas com a ideia de eventual fracasso nas urnas, em outubro, mas também com a hipótese de prisão quando deixar o governo.

Ontem, foi além, ao se descrever vítima potencial do sistema judiciário. Exibiu-se como um presidente sob chantagem frequente: “Tem pessoas que o tempo todo ficam falando: ‘Olha o teu futuro, você tem que fazer isso’, ‘Eu não quero esse nome para o STJ [Superior Tribunal de Justiça], tem que ser outro.”

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No início da semana ele havia nomeado dois juízes para o STJ, a partir de uma lista de quatro nomes que recebeu dos demais integrantes do tribunal.

Não foi caso isolado, disse aos pastores referindo-se ao processo de indicação do ex-ministro da Justiça André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal. “Para o Supremo, a pressão que sofri…”

Contou, como se reproduzisse diálogos:

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‘Não quero o André Mendonça.’

‘Mas eu tenho compromisso com os evangélicos.’

‘Ah, mas não quero. Tua família deve aqui…’

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Definiu como “chantagem” algumas das conversas que manteve sobre a indicação do ex-ministro Mendonça para o STF.

É longo o histórico de Bolsonaro em acusações falsas e sem provas — um dos casos mais notórios nos últimos três anos é o de fraudes no processo eleitoral, que repete sem apresentar qualquer indício crível minimamente consistente.

Agora, acusa juízes de chantageá-lo para influenciar na ocupação de cargos e funções na administração pública em troca de resguardá-lo de eventual prisão, caso não seja reeleito.

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Se houve crime, como alega, deveria nomear os autores. Do contrário, assume o risco de cumplicidade.

Se não é assim, trata-se de um caso de presidente-candidato que, apostando na própria derrota eleitoral, chega ao fim do governo em grave crise psicológica sobre como será o amanhã, longe do Palácio do Planalto.

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