Bolsonaro dissimula, mas eleitor cobra o combate à inflação
São 95% reclamando da carestia. Acham que é questão a ser tratada com prioridade. Bolsonaro, porém, age como não fosse problema do governo
No país de Jair Bolsonaro a vida está custando cada vez mais caro.
É o que dizem 95% dos mil eleitores de todas as regiões consultados pelo Instituto Ipespe entre segunda e terça feira da semana passada.
Crise econômica não é novidade na rotina dos brasileiros, mas a inflação surpreende pelo ritmo acelerado com que se espraia pela economia.
Mês passado, os preços subiram muito (1,7%) na média nacional apurada pelo IBGE. Foi a maior taxa registrada no mês de abril nos últimos 27 anos.
Já são oito meses seguidos de inflação de dois dígitos. A dos últimos doze meses (11,3%) é a pior em 17 anos.
Em campanha, Bolsonaro pouco fala a respeito, prefere tratar de imaginárias fraudes eleitorais — nunca provadas —, com insinuações sobre ruptura institucional.
Quando não consegue mudar de assunto, adota a equidistância — como se não fosse um problema de governo. Culpa “governadores da oposição” pelos efeitos econômicos de dois anos de crise pandêmica; a guerra na Ucrânia pelo aumento de custo dos alimentos; e, a Petrobras pelo “estupro” no bolso dos consumidores com a alta de preços dos combustíveis.
É impossível prever até quando o candidato à reeleição vai fazer de conta que não é com ele. Porém, são visíveis e crescentes as dificuldades de Bolsonaro de evitar no debate eleitoral a imagem do “governo de dois dígitos” — no desemprego (11,1%), na inflação (11,3%) e nos juros (12,7%).
Esse trio de indicadores retrata a dimensão da crise. Deixa o Brasil em destaque no mundo, entre os países de situação econômica mais crítica, ao lado da falida Argentina, da tumultuada Turquia e da desnorteada Rússia de Vladimir Putin, que invadiu a Ucrânia e enfrenta as mais drásticas sanções já impostas pelos países ocidentais.
Ampla maioria (63%) dos eleitores, informa o Ipespe, julga que Bolsonaro conduz o país pelo “caminho errado”.
Essa crítica, na prática uma cobrança política, vem sendo sustentada por seis em cada dez adultos desde abril do ano passado em quase todas as pesquisas.
A longa estabilidade na contestação majoritária sugere que a crise econômica é o principal problema do presidente-candidato, que se mantém em segundo lugar nas pesquisas com apoio limitado à margem de um terço do eleitorado.
Inflação tem consequências diretas, imediatas, no bolso e no humor das pessoas. Bolsonaro tem o direito de persistir na construção de uma realidade paralela, onde faz de conta que não é problema dele.
Os eleitores, no entanto, discordam. E na lista de desejos políticos já indicam que o aumento do custo de vida seja a questão mais importante a ser tratada pelo próximo presidente, logo no governo.