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Avança a rebelião de servidores provocada por Bolsonaro

Fiscais paralisam comércio nas fronteiras. Cresce protesto contra a decisão presidencial de privilegiar com aumentos alguns segmentos do funcionalismo

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 6 jan 2022, 14h26 - Publicado em 6 jan 2022, 08h00

As exportações para a Venezuela foram suspensas. Ontem, centenas de carretas estavam estacionadas em torno do posto da Receita Federal em Pacaraima, Roraima, na saída da rodovia BR-174 para a vizinha venezuelana Santa Elena de Uairén, no estado de Bolívar.

A mesma cena pode ser vista cinco mil quilômetros ao Sul, na fronteira do Brasil com o Paraguai e a Argentina. Caminhões lotam terrenos à volta da alfândega em Foz do Iguaçu, no Paraná. Ficam parados dois a três dias, à espera da vez na “operação-padrão” dos fiscais.

Tem sido assim desde a véspera do Natal, quando a elite do funcionalismo resolveu deixar o governo em “modo apagão”.

É rebeldia contra a decisão de Jair Bolsonaro de privilegiar com aumentos salariais alguns segmentos do serviço público, como militares e agentes de segurança, que formaram sua clientela eleitoral em três décadas como deputado federal e atuaram com peso específico na eleição presidencial de 2018.

Ele pediu ao Congresso reserva de R$ 1,7 bilhão no orçamento deste ano para pagar o reajuste de policiais federais. Deputados e senadores acataram, e deixaram para o governo a escolha das áreas de onde seria retirado o dinheiro necessário. Resultado: a Receita acabou “premiada” com um corte de 51% na previsão orçamentária.

A rebelião provocada por Bolsonaro se espraia pelo serviço público na esteira de inédita mobilização. Agora, todos querem aumento de salários. E não há recursos suficientes no Orçamento de 2022 para atender ao milhão de ativos e inativos inscritos em 309 carreiras na folha de pessoal do Executivo, Legislativo e Judiciário.

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Na próxima quarta-feira (dia 12), mais de trinta associações e sindicatos promovem assembleias virtuais para aprovar uma paralisação por dois dias (na terça, 18, e na quarta, 19).

Essas assembleias fazem parte do ritual estabelecido na legislação trabalhista preparatório à greve. Servidores da Receita fizeram uma reunião do gênero, antes do Natal, com mais de 4,7 mil participantes em todos os Estados.

Agora, serão as 36 entidades que representam cerca de 200 mil servidores ativos de carreiras de Estado. É toda a elite do funcionalismo público federal — grupo onde iniciantes têm remuneração básica acima de R$ 10 mil mensais.

Na sequência, o movimento será ampliado para as demais categorias do funcionalismo, que reúne cerca de 400 mil na ativa. Associações e sindicatos vinculados à Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal marcaram reuniões para a sexta-feira (dia 14). Será decidida adesão à paralisação de dois dias (na terça, 18, e na quarta, 19).

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(Banco Mundial/ Siape/ Governo Federal/VEJA)

O plano com esses atos é levar o governo a dar uma resposta imediata à reivindicação única: aumento para todos — ativos, aposentados e pensionistas. Estimam que em três anos de governo Bolsonaro houve perda salarial de 25% para a inflação, medida pelo Índice de Preços no Atacado.

Caso não obtenham resposta objetiva, o ritual combinado é de nova advertência com mais dois dias de paralisação (25 e 26 de janeiro).

Em seguida, na primeira semana de fevereiro, assembleias simultâneas homologariam uma “greve geral” no serviço público federal, ressalvadas áreas estritamente essenciais como a da Saúde.

Candidato à reeleição, Bolsonaro conseguiu iniciar o ano eleitoral mobilizando o funcionalismo público contra o próprio governo. É, realmente, uma proeza política.

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