Autofagia na esquerda derruba chefe da Economia e amplia a crise argentina
Ministro da Economia foi abatido numa luta dentro do governo peronista sobre a gestão da dívida interna e concessões a grupos financeiros
Juan Domingo Perón foi um caudilho que, em três governos, moldou a modernidade argentina na segunda metade do século passado. Na sexta-feira, a coalizão de esquerda herdeira de Perón celebrou a memória do líder, morto há 48 anos. Na noite de sábado, essa aliança peronista que governa a Argentina exibiu uma das suas principais características: a autofagia.
O ministro da Economia Martín Guzmán renunciou em meio ao confronto entre a líder mais influente do peronismo, a ex-presidente Cristina Kirchner, e o presidente Alberto Fernández.
Guzmán, 39 anos, economista, integra uma ala de renovação do peronismo em permanente confronto com outro agrupamento de jovens ativistas, o movimento La Cámpora que é liderado por Máximo, filho dos ex-presidentes Cristina e o falecido Néstor Kirchner.
Esse embate dentro do governo Fernández vai além da fronteira do método de fazer política. Reflete uma grande disputa de interesses no manejo das dívidas interna e externa do país, o que contribuiu para agravar a devastadora crise social e o derretimento da moeda argentina.
Ministro da Economia foi abatido numa luta dentro do governo peronista sobre a gestão da dívida interna e concessões a grupos financeiros, alguns detentores de títulos públicos em pesos e aliados ao clã Kirchner e ao movimento La Cámpora.
Numa extensa carta-renúncia, Guzmán escreveu a Fernández: “Nosso objetivo era tranquilizar a economia. Esse conceito pode não gerar muito entusiasmo para alguns, mas sempre me pareceu — e me parece — que tranquilizar a economia seria um verdadeiro [projeto político] épico.” Também sugeriu: “Será essencial que se trabalhe em um acordo político dentro da coalizão governante para que quem vier a me substituir.”
O ministro cansou. A troca de guarda na Economia ocorrerá no início da semana. Sobram candidatos, mas os nomes pouco importam na crise não resolvida entre o presidente Fernández e a vice Cristina Kirhner. O peronismo avança na autofagia. E não há nada no horizonte sugerindo melhoria das condições sociais e econômicas da ampla maioria empobrecida dos 45 milhões de argentinos.