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José Casado

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Informação e análise

Apoteose

Presidente-candidato terá desfile-exaltação no Sambódromo no início do ano eleitoral

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 14 nov 2025, 16h58 - Publicado em 14 nov 2025, 06h00

Sambódromo, domingo de Carnaval, 22 horas de 15 de fevereiro de 2026. Um coro de 2 000 vozes, ritmado pela bateria da Acadêmicos de Niterói, vai levar para a avenida um samba que glorifica o presidente-candidato na abertura do ano eleitoral e incorpora uma das frases melódicas mais conhecidas do marketing político contemporâneo: “Olê, olê, olê, olá/ Lula, Lula”.

Nove compositores liderados por Teresa Cristina produziram versos assim, sob encomenda: “É, teu legado é o espelho das minhas lições/ Sem temer tarifas e sanções/ Assim que se firma a soberania/ Sem mitos falsos, sem anistia/ Quanto custa a fome? Quanto custa a vida?/ Nosso sobrenome é Brasil da Silva…”.

O samba-enredo da vida e obra do candidato à reeleição para a Presidência, entremeado pela estridente vinheta de palanque, vai atravessar a Marquês de Sapucaí durante oitenta minutos, com transmissão ao vivo para todo o país.

Salvo eventuais queixas da oposição sobre concorrência desleal, será uma operação de propaganda notável pelo simbolismo em plena temporada eleitoral. O veículo escolhido é uma escola de samba parcialmente financiada (4 milhões de reais) pela prefeitura de Niterói.

Por trás da cena está Rodrigo Neves, prefeito no terceiro mandato. É um sociólogo de 49 anos de idade, moldado na juventude católica, que foi relevante para a consolidação do Partido dos Trabalhadores do outro lado da Baía de Guanabara durante o século passado. Agora no PDT, sonha governar o estado do Rio.

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O samba-exaltação de Lula aos 80 anos, quase metade como único candidato presidencial do PT, é nova tentativa publicitária de deixá-lo assemelhado a Getúlio Vargas, que ele escolheu como inimigo imaginário durante as greves de metalúrgicos no ABCD paulista para construção do “novo sindicalismo”.

Naquele final da década de 1970, incorporava a novidade sindical do “antipelego”. Se dizia convicto de que a emancipação política dos trabalhadores do Brasil somente seria possível a partir do funeral do legado trabalhista do Estado Novo e, principalmente, da política de cooptação dos movimentos sociais pelo governo.

“Presidente-candidato terá desfile-exaltação no Sambódromo no início do ano eleitoral”

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Vargas venceu Lula. Desde 2006, na campanha pela reeleição, o ex-líder metalúrgico se repete em desculpas ao político gaúcho que comandou uma sangrenta ditadura (de 1937 a 1945), renunciou para não ser deposto e voltou ao poder pelo voto popular.

Na crise criada pelo tarifaço de Donald Trump, meses atrás, reiterou o arrependimento em reuniões no Palácio do Planalto e no PT em São Paulo: “Nasci na política criticando Getúlio (…). Hoje, tenho compreensão da importância das lutas de Getúlio em sua volta ao governo pelo voto e o enfrentamento com as forças que atuam contra a soberania e o desenvolvimento do país (…). Muitas dessas forças são as mesmas que atuam hoje contra o Brasil, com o mesmo discurso e as mesmas táticas”.

Na era do rádio, Getúlio foi tema de infinidade de músicas, em parte estimuladas e até editadas pela seção de propaganda oficial. A figura do ditador esmaeceu com o banho de urna em 1950. Na volta ao governo, pelo voto, escutavam-se nas rádios sambas assim, de Geraldo Pereira: “Seu presidente/ Sua Excelência mostrou o que é de fato/ Agora tudo vai ficar barato/ Agora o pobre já pode comer. / Seu presidente/ Pois era isso o que o povo queria/ O Ministério da Economia/ Parece que vai resolver. / Seu presidente/ Graças a Deus não vou comer mais gato/ Carne de vaca no açougue é mato/ Com meu amor eu já posso viver…”.

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Vargas ficou dezoito anos no poder. Mestre do teatro político, cultivou a imagem de “pai dos pobres” até o suicídio, em 1954 — martírio no qual enredou adversários, inclusive os do futuro, como foi o caso de Lula por pouco tempo. Morto virou mito para compositores como Carlos Alberto Ferreira Braga, mais conhecido como Braguinha ou João de Barro: “Tu vais na História ficar/ Deixas os braços do povo/ Para subir ao altar./ Getúlio Vargas/ Teu vulto audaz, varonil/ Há de ficar para sempre/ No coração do Brasil…”.

Alguns políticos aspiram à distinção pelo realce do “perpétuo e irrequieto desejo de poder e mais poder”, na definição de Thomas Hobbes, que nem a morte cessa, como se vê no retrato de Getúlio em versos de Braguinha/João de Barro.

Há quatro décadas assiste-se a um culto à personalidade de Lula. Numa noite do próximo verão, ele será conduzido à Apoteose, sob os holofotes da Marquês de Sapucaí.

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Os textos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de VEJA

Publicado em VEJA de 14 de novembro de 2025, edição nº 2970

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