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José Casado

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Informação e análise

Acabou em pizza

Bolsonaro e sócios demoraram para perceber que foram excluídos da mesa

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 12 dez 2025, 06h00 • Atualizado em 12 dez 2025, 11h00
  • Depois de horas de impasse, dirigentes do Palmeiras transferiram a discussão para a mesa da pizzaria mais próxima do clube, a antiga Papa Genovese, na Zona Oeste paulistana. O repórter Milton Peruzzi (1925-2001) relatou o desfecho à Gazeta Esportiva, que publicou: “Crise do Palmeiras termina em pizza” — e assim se conta a história dessa expressão dos anos 1960 usada para definir pactos políticos contemporâneos.

    Está acabando “em pizza” mais um capítulo da crise institucional brasileira, o da punição aos condenados por tentativa de golpe de Estado. O acordo que avança no Congresso começou a ser formatado no último Natal, alguns dias depois de Jair Bolsonaro ter sido acusado de conspirar e tentar derrubar o regime democrático em 2022.

    A negociação foi facilitada quando ficou claro que a delimitação da denúncia a três dezenas de militares e civis escanteava os sócios da trama bolsonarista no Congresso, a maioria agrupada no Partido Liberal, e em áreas adjacentes, como o Tribunal de Contas da União. Mera coincidência para quem identifica beleza no aleatório.

    A alternativa inicial era a da anistia ampla, geral e irrestrita. Em outro acaso, já havia uma iniciativa legislativa em curso. Seria o sexto perdão a golpistas frustrados na história republicana.

    Esse projeto aparecera dois anos antes, mais uma coincidência, no meio do enredo para anular a derrota de Bolsonaro na eleição presidencial. Foi apresentado na Câmara às 11h35 da quinta-feira, dia 24 de novembro de 2022, pelo então deputado federal Vitor Hugo Almeida, do PL de Goiás. Recebeu o número 2.858.

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    O autor, conhecido como Major Vitor Hugo, havia sido escolha privativa de Bolsonaro para a liderança do governo na Câmara — posição incomum para um estreante na vida parlamentar e absolutamente singular na biografia de um “kid preto”, com duas décadas em quartéis das Forças Especiais do Exército.

    “Bolsonaro e sócios demoraram para perceber que foram excluídos da mesa”

    O texto era propositadamente amplo e genérico, concebido como uma espécie de apólice de seguro de impunidade para todos, com ou sem mandato. Coincidentemente, apareceu no protocolo da Câmara apenas 48 horas depois que o chefe do partido de Bolsonaro pediu à Justiça a anulação “parcial” do resultado da eleição presidencial.

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    Valdemar Costa Neto alegou “erros” nas urnas eletrônicas fabricadas antes de 2020. Nunca explicou por que rejeitou somente os votos para presidente, mas aceitou todos aqueles dados nessas mesmas urnas aos candidatos a senador e deputado. O Partido Liberal elegeu a maior bancada do Congresso. A manobra custou 22 milhões de reais em multa ao partido, paga com dinheiro público.

    O debate sobre a anistia foi se tornando mera conversa com as revelações da investigação policial sobre a trama golpista. No último verão, casualmente, o ex-presidente Michel Temer falou a Robson Bonin, de VEJA, sobre uma possibilidade: “A Corte poderia modular as penas alongadas”. Ou seja, a anistia se tornara inadmissível, mas a ideia de “pacificação” política poderia estimular uma redução de penas de prisão específica para golpistas até com certa naturalidade, porque reduzir pena é parte da rotina do Judiciário.

    Os Bolsonaro e parlamentares associados demoraram para perceber que nunca foram reconhecidos como protagonistas nas negociações durante sua longa e malograda batalha pelo perdão legislativo, marcada por cenas grotescas como as da ocupação dos plenários da Câmara e do Senado. Entre outras razões, porque no recurso à teatralidade radical sempre insistiram em vetar qualquer outro entendimento sobre a tentativa de golpe diferente da própria narrativa de que tudo não passou de ato de patriotismo.

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    Dos episódios de autoengano, talvez o mais ilustrativo tenha sido o do filho senador, Flávio. Visitou o pai na cadeia, saiu e anunciou-se candidato presidencial em 2026 — “o Bolsonaro diferente”, como se definiu. Horas depois, apresentou-se disposto a vender a eventual renúncia. “Tem um preço” — divagou diante de jornalistas, acrescentando: “Imagina quanto custa. Quero que vocês pensem o que está em jogo no Brasil e quanto custa retirar a minha candidatura”. Ouviu um eloquente silêncio como resposta da sempre obscura feira de negócios eleitorais. A anistia foi abstraída, prevaleceu o acordão da elite política sobre a redução de penas. E, assim, está acabando “em pizza” mais um capítulo da crise brasileira.

    Os textos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de VEJA

    Publicado em VEJA de 12 de dezembro de 2025, edição nº 2974

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