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A crise do PT

Paira uma espécie de censura interna, queixam-se antigos e novos dirigentes

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 09h45 - Publicado em 1 dez 2023, 06h00

O Partido dos Trabalhadores celebra o primeiro ano do retorno de Lula ao Palácio do Planalto empenhado na organização das eleições municipais de 2024. Venceu cinco das nove disputas presidenciais realizadas nas últimas três décadas, mas continua magro no Congresso, com 13% dos votos no plenário, e desnutrido de prefeituras: sem nenhuma capital, controla apenas 4,3% dos 5 569 municípios, dois terços deles com menos de 50 000 habitantes.

O PT vive uma crise silenciosa. Semana passada, numa reunião em São Paulo, antigos e novos dirigentes do partido extravasaram angústia com a apatia interna, para eles refletida na falta de debate sobre as alternativas — com ou sem Lula —, sobre o rumo do governo e o futuro das alianças com bancadas referenciais da direita no Congresso, como as de Progressistas e Republicanos.

Paira uma espécie de censura, dissimulada, queixou-se José Dirceu, ex-­presidente do PT e chefe da Casa Civil (2003-2005) no primeiro governo Lula: — Às vezes, você começa a discutir um pouco e fica com a sensação de ser inconveniente, indesejado…

— Nosso governo — disse — tem problemas de governabilidade, de organização, de avaliação de cada ministério. Então, precisa fazer uma avaliação. Mas onde se discute isso? Ou não é para discutir? É pra fazer de conta que está tudo bem?

Dirceu não está solitário. Outro fundador e ex-presidente petista, José Genoino, partilha a ansiedade:

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— A extrema direita e a direita cercaram o poder e tentam recuperar seu poder com o Lula. Ela procura dizer o seguinte: “Olha, não seja ousado demais, vá com calma…”. Há aí um processo de domesticação. Esse é o grande dilema que estamos vivendo.

Prosseguiu: — Como é que vamos enfrentar o financiamento das políticas públicas? Ou o problema da riqueza acumulada dos super-ricos? Ou nós questionamos essa ordem neoliberal estabelecida ou, então, seremos absorvidos por ela. Há uma estratégia de acomodação, de impotência. Como vamos conquistar os jovens se não somos capazes de falar de sonho, de utopia, de revolução, da libertação das mulheres, da comunidade LGBTQIA+? Temos que voltar a falar do futuro. A gente fica feliz com o governo Lula, mas precisamos construir uma alternativa. Ou seremos derrotados. E, aí, vamos ser enfeite de uma ordem neoliberal que precisa da gente para enfeitá-la.

“Paira uma espécie de censura interna, queixam-se antigos e novos dirigentes”

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Para Dirceu, falta realismo: — Não vamos tapar o sol com a peneira. Nós não aguentamos um tranco da direita como nós estamos. E a direita vai nos dar um tranco. Nós a conhecemos. Tá agora essa negociação com o Arthur Lira (presidente da Câmara, chefe do Progressistas e comandante do Centrão) … Mas, se nós formos derrotados em 2024, eles vão tomar mais um naco do governo. Já existe governo de coabitação no Brasil, né? Além do poder real da maioria no parlamento de direita, tem as emendas impositivas (ao orçamento). Isso exigiria do partido pensar a realidade, mas não sei qual é o problema. (Eles, no comando do PT,) Têm medo da militância? Do debate?

Continuou: — Ouvi o deputado do agronegócio Alceu Moreira (MDB-­RS) dizendo: “Nós temos que ser nacionalistas, não podemos depender da China e de Taiwan, não podemos depender do fertilizante da Rússia, não podemos depender da indústria farmacêutica da Índia e China”. Realmente, se houver uma guerra entre Índia e Paquistão, para a indústria farmacêutica brasileira. E se a Rússia parar de mandar fertilizante, a nossa agricultura para. Então, essa questão da reorganização industrial já não é só nossa, da esquerda.

Arlindo Chinaglia, que presidiu a Câmara (2007-2009), concorda: — Nós temos uma muleta muito grande que é o Lula. É uma referência, mas não é mais suficiente. O que se ouve na bancada federal do PT sobre o ministério do Lula nem sempre são elogios. A gente finge que está concordando, que está todo mundo satisfeito. Não se pode mais discutir. É óbvio que o Lula prefere errar sozinho do que mal acompanhado. Mas tem que ter um núcleo, como já houve, pra chegar e dizer: “Lula, isso não, Lula, não está certo”. Mas não é o Lula que é culpado. Somos nós que não temos coragem para falar. O que estamos fazendo? Só batendo palma.

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A crise petista é real, “brutal” na definição de Valter Pomar, integrante da direção partidária: — Essa crise é mais fácil de resolver hoje do que quando a implacável biologia se impuser. Porque, quando a implacável biologia se impuser, se essa crise não estiver resolvida, o nosso partido corre sério risco de fragmentação. Quem se ilude não parou para ver a história da esquerda brasileira.

Os textos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de VEJA

Publicado em VEJA de 1º de dezembro de 2023, edição nº 2870

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