A volta da institucionalização do crime ao Planalto
Podemos perceber que um dos mais fortes sintomas da institucionalização do crime é quando os malfeitos são chancelados pelas mais altas esferas do poder

Quando da deflagração da Operação Acarajé – 23ª fase da Lava Jato – que em fevereiro de 2016 alvejou os marqueteiros baianos do Partido dos Trabalhadores, João Santana e Monica Moura, o Brasil inteiro ficou sabendo que a então presidente Dilma Rousseff teria criado um e-mail e compartilhado a sua senha com Monica, durante o período em que o casal se encontrava na República Dominicana – e contra eles a Justiça brasileira fazia seu cerco, com a expedição de mandados de prisão temporária.
Dilma e Monica, dessa forma, se comunicavam sem precisar efetivamente trocar mensagens. Uma abria o e-mail no Palácio do Planalto, escrevia mensagens relativamente cifradas (que não enviava mas que remanesciam na caixa de rascunho) acerca da ação da Polícia Federal – sobre as quais certamente era informada por seu ministro da Justiça – enquanto a outra, fora do país, entrava no e-mail com a senha da primeira, e tomava conhecimento do que aqui se passava, inclusive respondendo, e perguntando maiores detalhes à prestativa governante da Nação.
Trata-se de um truque comumente usado por fugitivos internacionais, traficantes e contrabandistas, enfim, criminosos comuns.
Pois bem, em 2018 o Brasil disse um uníssono “não” ao candidato do PT Fernando Haddad, e elegeu Jair Bolsonaro presidente, em parte, por conta de situações degradantes como essa que a Operação Acarajé da Polícia Federal descortinou ao país.
Com 28 meses de governo Bolsonaro, a Polícia Federal deflagrou a Operação Akuanduba, em maio do corrente ano, na qual cumpriu buscas em endereços do ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, por suspeita de facilitação de contrabando. O celular de Salles (listado como item a ser apreendido pelo ministro Alexandre de Moraes, magistrado do STF que assinou os mandados) não foi encontrado com ele, nem em nenhum de seus endereços.
Passados alguns dias, a imprensa noticiou que Salles teria trocado de número e de aparelho. Há ainda o registro de que o ministro do Meio Ambiente – que segue inabalável no cargo – teve uma agenda com o presidente Bolsonaro, logo após ser alvo da ação da Polícia Federal.
Aí já nos deparamos com um outro expediente, também muito utilizado por fugitivos, traficantes, contrabandistas, corruptos e corruptores: troca de aparelho e de número de celular (com abandono do equipamento velho).
Merece registro que os marqueteiros petistas desembarcaram em Guarulhos, provenientes da República Dominicana, sem notebook e sem seus telefones celulares.
Assinaladas essas duas situações vexatórias, titularizados por autoridades públicas de alto calibre, aproveitamos para lembrar que esse mesmo João Santana foi o marqueteiro da campanha da petista Dilma Rousseff em 2014, e responsável pelo bombardeio de fake news e calúnias disparadas contra a candidata Marina Silva, que liderou a corrida por um bom tempo, até ser vítima das mentiras do baiano.
Vale o registro de que João Santana já se encontra engajando seus serviços na campanha presidencial de 2022, dessa feita para um candidato de menor potencial eleitoral.
Sobre o flagelo da institucionalização do crime, podemos perceber que um dos mais fortes sintomas de sua ocorrência é quando os malfeitos são abençoados e chancelados pelas mais altas esferas do poder central. Aí percebemos que estamos perdidos, quando os governantes não apenas sabem sobre os delitos de seus subordinados, mas, sobretudo, os protegem e os amparam.
Por derradeiro, podemos concluir, com meridiana clareza, que não se tem inventado muita coisa no cenário político-criminal do país. O que se vê é o aperfeiçoamento de uma safadeza aqui, outra ali, e as práticas reprováveis e, sobretudo, a naturalização das coisas erradas, seguem vivas como sempre.
Só as moscas mudaram; e mesmo assim as moscas velhas – de sempre – já estão querendo voltar à cena.