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Jorge Pontes

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Jorge Pontes foi delegado da Polícia Federal e é formado pela FBI National Academy. Foi membro eleito do Comitê Executivo da Interpol em Lyon, França, e é co-autor do livro Crime.Gov - Quando Corrupção e Governo se Misturam.

A necropolítica adotada pelo Brasil em 2020 tem as digitais de Bolsonaro

O termo em questão define um conjunto de políticas postas em prática por meio da morte

Por Jorge Pontes
25 jan 2021, 18h50

“É simples assim: um manda e o outro obedece”, disse em 22 de outubro de 2020, um humilhado general Pazuello, para explicar que estava sendo desautorizado publicamente, e que cancelaria a aquisição de 46 milhões de doses da vacina CoronaVac, anunciada no dia anterior (21 de outubro de 2020) pelo próprio Pazuello.

Nos últimos dias, com a instauração de um inquérito no STF – a pedido do pressionado PGR Augusto Aras – para apurar a responsabilidade (inclusive criminal) do ministro da Saúde Eduardo Pazuello no colapso do sistema de saúde em Manaus, ficam bem entendidas as razões que teriam levado o oncologista Nelson Teich a deixar a pasta pouco menos de um mês após a sua posse.

Teich percebeu que, se seguisse no cargo, seria usado como operador e longa manus de uma verdadeira necropolítica, que foi praticada pelo governo federal, seguindo os interesses inconfessáveis de Bolsonaro. Hoje certamente seria ele o alvo do inquérito demandado pela Procuradoria Geral da República.

O termo em questão – necropolítica – foi cunhado pelo professor camaronês Achille Mbembe, que o define como um conjunto de políticas postas em prática por meio da morte. Mbembe questiona os limites da soberania exercida pelo Estado, na medida em que este, por suas ações ou omissões, determina quem vai morrer e quem irá sobreviver.

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A propósito das reflexões do Professor Mbembe, em uma das muitas demonstrações dessa postura totalmente desprovida de empatia, o presidente Jair Bolsonaro declarou, em entrevista de TV que foi ao ar em março de 2020: “Alguns vão morrer? Vão morrer. Lamento, é a vida. Não pode parar uma fábrica de automóveis porque tem mortes no trânsito”.

E o que assistimos com o passar do tempo foi a escolha e manutenção do general Pazuello à frente da pasta da Saúde, que por sua vez lançou mão de sua posição para recomendar remédios de eficácia não comprovada para tratamento do coronavírus, que menoscabou o imunizante CoronaVac, que não fez gestões para adquirir as demais vacinas em tempo desejável, que não se adiantou na compra de seringas e agulhas, e que deixou, inclusive, faltar oxigênio, o que teria acarretado a perda de vidas de milhares de brasileiros em Manaus.

A bem da verdade, o governo federal só saiu da letargia e correu atrás de vacina porque o governador de São Paulo largou na frente, deu a pressão e fez acontecer a CoronaVac. Se não fosse por isso, provavelmente estaríamos até agora sem nenhuma perspectiva de imunizantes para a população do Brasil.

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Agora, as ações – e omissões – de Pazuello, e a condução dessa sua necropolítica, serão objeto de um inquérito presidido pelo Supremo Tribunal Federal, e conduzido pela Polícia Federal, tamanho foi desastre experimentado até aqui. Mas o general, pau-mandado que foi, não pode segurar sozinho essa bucha de canhão.

Se “um manda e o outro obedece”, Bolsonaro terá que responder com ele essa bronca. Simples assim…

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