Socorro, a geada quer matar minhas plantas – e agora?
Diante de um friozão como não se via há mais de vinte anos, jardineiros de várias partes do sudeste do país – incluindo eu aqui – estão tendo de reaprender a lidar com um fenômeno tenebroso para quem gosta de plantas: as geadas. A julgar pelo ímpeto desse final do outono, elas estão de volta com tudo […]

Diante de um friozão como não se via há mais de vinte anos, jardineiros de várias partes do sudeste do país – incluindo eu aqui – estão tendo de reaprender a lidar com um fenômeno tenebroso para quem gosta de plantas: as geadas. A julgar pelo ímpeto desse final do outono, elas estão de volta com tudo a lugares como São Paulo e sul de Minas Gerais. E isso requer cuidados extras se você não quiser sentar e chorar com a morte de flores, árvores e verduras.
Antes de falar dos cuidados em si, vale explicar os mecanismos que levam as geadas a destruir as plantas. É uma chance, ainda, de enterrar certos mitos a esse respeito. O maior deles é a noção de que a geada “queima” folhas e caules. Na verdade, o que danifica as plantas não é o fato de o gelo se acumular sobre elas. O fenômeno causa estrago porque, no momento da madrugada em que atinge seu pico, a água dentro das estruturas dos vegetais se congela, e isso provoca a morte de seus tecidos celulares. Em suma: a planta fica com aspecto de queimada, mas está é ressecada e morta.
Outro mito é o de que o gelo em si é o grande vilão da história. Na realidade, embora a visão de campos congelados pela chamada “geada branca” tenha impacto, sua presença ameniza um pouco o problema: a presença de vapor d’água no ar, em quantidade suficiente para produzir gelo, funciona como um modulador da temperatura. Como sabem os agricultores do sul do país, feia mesmo é a “geada negra”, na qual a ausência de vapor d’água no ar impede a formação de gelo. Nessas condições, a temperatura acaba caindo ainda mais no interior das células vegetais, ampliando consideravelmente os danos.
Mas vamos deixar de teoria botânica e partir logo para o que interessa: a operação de guerra para salvar nossas plantas. Eis algumas dicas simples, mas eficazes:
1) Transfira vasos de flores e folhagens para locais cobertos. Ao cultivar diretamente na terra plantas sensíveis ao frio, como helicônias, bananeiras e certas palmeiras, procure colocá-las em cantos naturalmente protegidos, como ao lado de muros e debaixo de árvores.
2) Se a previsão do tempo indicar risco de geada na madrugada seguinte, cubra tudo que for possível, dos pés de alface na horta à copa de árvores sensíveis (espécies tropicais clássicas, como a mangueira e a jaqueira, costumam ser vítimas fáceis). Você pode fazer isso com lona, sacos plásticos, folhas de papel grosso etc. Mas o ideal mesmo é o plástico-bolha – que, além de evitar contato direto da planta com a lufada congelante, funciona como isolante.
3) Nos meses de outono/inverno, evite adubação muita rica em Nitrogênio (o “N” do NPK, famigerado composto que é a base de quase todos os adubos químicos à venda na floras). Sua presença estimula as plantas a produzir folhas e caules novos grandes e viçosos, mas mais delicados.
4) Nos arbustos e árvores plantados em locais abertos, procure criar uma camada de cobertura morta – folhas e serragem – em torno dos troncos e raízes. Isso dificulta o congelamento da terra, o que pode ser fatal ao afetar a absorção de água pelas raízes das plantas.
5) Na impossibilidade de cobrir as plantas, um bom truque é regá-las em profusão horas antes da madrugada fatídica. A rega ajuda a minimizar o impacto da geada.