O abacaxi de Bosch ensina: preste atenção nas plantas
No momento em que grandes eventos na Europa comemoram os 500 anos da morte do pintor holandês Hieronymus Bosch (1450-1516), vale a pena recuperar uma anedota da história da arte que resume a razão de ser deste blog sobre plantas e jardinagem. Por muito tempo, historiadores acreditaram que a obra mais famosa do holandês – […]

O tríptico O Jardim das Delícias Terrenas, obra mais famosa do holandês Hieronymus Bosch (1450-1516)
No momento em que grandes eventos na Europa comemoram os 500 anos da morte do pintor holandês Hieronymus Bosch (1450-1516), vale a pena recuperar uma anedota da história da arte que resume a razão de ser deste blog sobre plantas e jardinagem.
Por muito tempo, historiadores acreditaram que a obra mais famosa do holandês – o tríptico O Jardim das Delícias Terrenas, pertencente ao Museu do Prado – foi pintada durante sua juventude. A datação da madeira de carvalho que serve de suporte para a pintura, afinal, apontava para isso.

E, no detalhe, o bizarro abacaxi pintado por Bosch na parte inferior do painel central da obra
Mas eis que essa datação caiu por terra quando alguém atentou para um detalhe no canto esquerdo da parte central da obra: estava ali um abacaxi gigante e bizarro, pintado de cor-de-rosa.
O abacaxi – sim, aquela fruta ácida da família das bromélias, tão familiar para os brasileiros – não era conhecido na Europa antes da descoberta da América. Bosch incluiu em seu Jardim das Delícias bichos exóticos como um elefante e uma girafa, depois de possivelmente conhecê-los por meio de gravuras ou como atração de feiras no interior da Holanda. Curiosamente, ele também anteviu, bem antes da descoberta da Oceania, uma criatura estranha como o ornitorrinco. Mas um abacaxi pintado em pormenores tão vívidos só poderia constar de seu repertório após a primeira viagem de Cristóvão Colombo à América – ou seja, não antes de 1492, quando Bosch já era provavelmente um quarentão.
Moral da história: nunca menospreze o que as plantas têm a dizer sobre o mundo. Está aí um ensinamento, aliás, que as novelas brasileiras bem que poderiam captar. Convenhamos: é de lascar ver uma folhagem mexicana na Índia de mentirinha daquela trama de sucesso de Glória Perez ou uma tamareira anã – que, apesar do nome, vem da China – adornando um templo do Egito antigo em novela bíblica da Record.
Espero que a leitura deste blog ajude você a driblar os abacaxis da jardinagem. Seja bem-vindo.