Amélia é que era mulher, ops, uma flor de verdade
Calma, feministas: a Amélia em questão não é a mulher submissa daquele velho samba, mas a planta empoderadíssima que é um coringa em qualquer jardim
Ela não faz exigências: topa qualquer situação e até passa fome sem reclamar. E não tem a menor vaidade: pode ser titular ou coadjuvante, rebaixar-se ou ser criada soltinha. Ai, que maravilha é essa Amélia!
Se alguma feminista de plantão ficou corada ao ler o começo deste post, pode relaxar. A Amélia de que estou falando não é a mulher submissa de Ai que Saudades da Amélia, o velho samba de Ataulfo Alves e Mario Lago tão apedrejado nesses tempos de empoderamento feminino. Amélia é o nome popular da Hamelia patens, uma planta aparentada do cafezeiro. No caso dela, é justíssimo proclamar em toda potência: sim, Amélia é que era uma flor de verdade.
Deve-se ler este post como uma declaração de amor muito pessoal. Pois a Amélia é um elemento de ouro em qualquer jardim de jardineiro escaldado. Basicamente, por ser uma planta do tipo “pacote completo”. Tem pequeno porte, folhagem de beleza sutil e dá vistosos cachos de flores com delicado formato de tuba e cores que vão do vermelho ao laranja berrante. Depois, essas flores dão lugar a cachos de frutinhas pretas e avermelhadas que lembram as do café.
Além do conjunto incrível, a Amélia é uma mãezona generosa. Talvez nenhuma flor atraia tanta variedade de borboletas. Os pássaros também se esbaldam. As flores são procuradas obsessivamente pelos beija-flores. E os frutos – que dizem dar um barato qualquer nos bichos – têm uma democrática plateia de admiradores de penas, das saíras aos sabiás.
Como elogio pouco é bobagem, a Amélia é um tremendo investimento ecológico. Nativa da nossa Mata Atlântica, ela se espalha com facilidade graças à ajuda das aves que devoram seus frutos. Prova de seu “star quality”, por assim dizer, é a fama internacional que conquistou: da Flórida à Austrália, a Amélia ganhou jardins e projetos paisagísticos mundo afora.
Além de tudo isso, essa Amélia ainda exibe aquela mesmerizante ausência de vaidade. Ela vai bem no sol ou na sombra. Pode ser conduzida soltinha, como um arbusto de até 3 metros de altura e bem ramificado. Ou então ser mantida podada, como um maciço florido ou até uma cerca-viva. No começo, Amélia agradece se lhe derem um golinho de água de vez em quando. Mas, depois de crescida, ela não faz exigência: suporta bem até os períodos de seca.
Ai, que saudades da Amélia!