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X-Men: Primeira Classe

Por Isabela Boscov Atualizado em 11 jan 2017, 15h59 - Publicado em 8 jun 2011, 17h46

Assim é que se faz

O excelente X-Men: Primeira Classe retoma a série do início e ensina como levar adiante uma ideia de sucesso: fazendo não um bom filme de super-heróis, mas um bom filme – e ponto

Em três filmes inteligentes e bem pensados, a série X-Men deixou ao menos uma cena verdadeiramente memorável: aquela em que, tocado como gado para dentro de um campo de concentração, o menino judeu Erik Lehnsherr, num assomo de medo e fúria, rasga com o poder da mente os portões de ferro que o separarão para sempre de sua mãe – e revela-se assim um mutante. Feita em tom não de fantasia, mas de tragédia plena, essa é a cena que será retomada como ponto de partida para X-Men: Primeira Classe. Se no X-Men lançado em 2000 pelo diretor Bryan Singer ela servia como um aposto, explicando e qualificando o ódio do mutante Magneto – que é como o mundo conhece Erik Lehnsherr –, aqui a cena é o fio com que se desenovelará a história não apenas deste menino especial, mas também a de seu oposto e complemento: Charles Xavier, futuramente denominado Professor X.

Tornado objeto de experimentação por um cientista a serviço do nazismo (Kevin Bacon, em sua melhor interpretação em anos), Erik chegará à década de 60 com um imenso domínio de seus poderes, uma amargura incancelável e um dom para a sobrevivência lapidado durante toda uma juventude em fuga – além de, para sua surpresa, uma grande simpatia por um telepata franzino, chamado Charles Xavier, que usa seus extraordinários conhecimentos de genética para passar cantadas em bares e, por ter sempre vivido cercado de conforto, tem uma visão otimista da recepção que será dada a esse fenômeno tão novo dos mutantes. Está-se em plena Guerra Fria, e Xavier acredita que a oposição entre as duas superpotências atômicas, Estados Unidos e União Soviética, bastará para neutralizar a desconfiança para com seres de habilidades superiores, como ele, que se disponham a tomar o lado certo no conflito – sonho do qual terá um rude despertar no exato momento em que, desarmada a Crise dos Mísseis de Cuba (aquelas duas semanas de outubro de 1962 em que o mundo esteve à beira de uma aniquilação nuclear), os dois arqui-inimigos se unem em torno do que consideram um inimigo maior.

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Mais do que qualquer outra adaptação cinematográfica de quadrinhos, a série X-Men já nasceu com esse engajamento nos eventos maio­res do mundo. Nunca Singer, como diretor dos dois primeiros filmes e produtor executivo desde então, deixou que esse fundamento fosse menosprezado. Em Primeira Classe, entretanto, ele é valorizado como nunca antes: se nos X-Men anteriores os vilões foram sempre seres humanos, e não criaturas de fantasia – senadores dados ao fanatismo político, cientistas que não ponderavam o impacto de suas descobertas –, eles aqui são mais humanos ainda, por assim dizer: são as pessoas que cumprem ordens. Em suma, qualquer pessoa, em qualquer lugar e tempo – vale dizer, qualquer um de nós.

Todas as conquistas de Singer para o gênero dos super-heróis – a sobriedade, a seriedade com que os personagens são encarados e, por que não, o realismo dramático – estão mantidas aqui. Mas o diretor de Primeira Classe, o inglês Matthew Vaughn, as ressalta com seu dinamismo, seu maior refinamento (a concepção visual e dos efeitos melhorou muito) e com seu talento particular, que é para o registro: esta narrativa é um corpo sólido e coeso em que às vezes sobressaem esta ou aquela nota – a leveza do humor, os sentimentos mais densos, como tristeza e rancor, ou os mais gratificantes, como amizade e empatia. Sempre as notas certas, nos momentos adequados, acentuadas por um elenco de afinação impecável.

Para efeito de comparação, Singer gosta de atores; Vaughn gosta de atuações, e as dirige com rédea curta e excelentes resultados. Como em seus trabalhos mais conhecidos até aqui, o filme de gângster Nem Tudo É o que Parece e o pioneiro Kick-Ass, ele está sempre se aproximando com a câmera do rosto de algum de seus atores e descobrindo nele timbres dramáticos que nada mais na cena poderia comunicar com igual eloquência. Em Primeira Classe, esses momentos vívidos podem vir tanto de atores nada famosos em cenas breves (atenção ao eterno coadjuvante Oleg Krupa como o capitão da esquadra soviética) como dos nomes principais – Jennifer Lawrence, a revelação de Inverno da Alma, como Mystique; a gélida January Jones, da série Mad Men, como uma telepata que às vezes se cristaliza na forma de um diamante – e a dupla central, claro, formada por James McAvoy como Xavier e, melhor entre os melhores, Michael Fassbender como Erik.

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Entre os Batman de Tim Burton e o primeiro X-Men, não houve versão dos quadrinhos que Hollywood fosse capaz de acertar. Caricatas e infantilizantes, elas pareciam provar, vez e vez sim, que apesar da afinidade entre a linguagem da HQ e a do cinema algo de essencial sempre se perderia na transposição. Singer mudou sozinho o jogo com X-Men: pela primeira vez, via-se que o elo perdido estava no drama. É por serem dramáticos que os quadrinhos apelam aos adolescentes; a fantasia e a aventura são apenas a forma em que as angústias expostas nas histórias são trabalhadas. Com uma ligeira mudança de diapasão, então, Singer refundou o gênero e o formatou para toda a década que se seguiria: o segredo não está no superpoder em questão, mas no sofrimento que ele causa a seu possuidor. A regra se tornou universal, de sucessos como Homem-Aranha, Batman e Homem de Ferro a fracassos como Demolidor e os dois Hulk, incluindo ainda Super-Homem – O Retorno, do próprio Singer.

Mas, tendo já transformado em franquia quase todos os super-heróis de primeiro, segundo e terceiro escalões (Thor, lançado há pouco, mais Lanterna Verde e Capitão América, que estreiam neste ano, são dos poucos que faltavam), Hollywood começa esta década com uma outra tendência já definida: a do reboot, ou “reinstalação”, desses personagens. Homem-Aranha e Super-Homem retornarão, em breve, com outros intérpretes e outros diretores, e vários mais se seguirão. Como, porém, dar um passo adiante a partir de material já tão explorado? Novamente, X-Men ensina como fazer: primeiro, é preciso entender com mais clareza ainda o que originalmente fez com que o público achasse tão especiais esses super-heróis. Depois, põe-se de lado esse dado, de que se está fazendo um filme de super-heróis: cuida-se de fazer um bom filme – e ponto.

Isabela Boscov
Publicado originalmente na revista VEJA no dia 08/06/2011
Republicado sob autorização de Abril Comunicações S.A
© Abril Comunicações S.A., 2011

X-MEN: PRIMEIRA CLASSE
(X-Men: First Class)
Estados Unidos, 2011
Direção: Matthew Vaughn
Com Hugh Jackman, James McAvoy, Michael Fassbender, Jennifer Lawrence, Kevin Bacon, Rose Byrne, January Jones, Nicholas Hoult, Jason Flemyng, Zoë Kravitz, Álex Gonzáles

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