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Isabela Boscov

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X-Men – Dias de um Futuro Esquecido

Por Isabela Boscov Atualizado em 11 jan 2017, 16h00 - Publicado em 21 Maio 2014, 17h59

Um salto quântico

Em seu quinto filme, Dias de um Futuro Esquecido, os mutantes X-Men fazem aquilo que todo ser humano comum quer também: reescrever a história em seu favor

Em X-Men – O Filme, naquela que é talvez a cena mais antológica de todos os filmes dos mutantes da Marvel produzidos nos últimos catorze anos, o garoto Erik Lehnsherr revela seu poder único de comandar o metal enquanto atravessa, junto com outros judeus, os portões do campo de extermínio de Auschwitz, em 1944: transtornado pelo medo, Erik faz as barras de ferro se retorcerem, causando um tumulto e funestamente atraindo a atenção dos nazistas para si. O Holocausto, que transformaria Erik no irascível e vingativo Magneto, é uma perfeita encapsulação do tema do encurralamento, alijamento ou aniquilação daqueles que são considerados diferentes e portanto inferiores ou ameaçadores, central a todos os episódios da série – e os ecos desse genocídio reverberam mais fortes do que nunca em X-Men – Dias de um Futuro Esquecido.

Seguindo-se ao intoxicante X-Men – Primeira Classe, de 2011, em que o telepata Professor Xavier e seu melhor inimigo, Magneto, tinham papel insuspeito na Crise dos Mísseis de Cuba, de 1962, este quinto enredo a reunir o grupo de mutantes mais uma vez se dedica a reler a história real à luz da intervenção nela dos X-Men. Agora, está-se em 1973; Estados Unidos e Vietnã negociam o fim da guerra na conferência do Acordo de Paz de Paris. O governo de Richard Nixon, desmoralizado pela necessidade iminente de retirar suas tropas do Sudeste Asiático, encontra-se particularmente vulnerável à influência paranoide de pessoas como Bolivar Trask (Peter Dinklage, o Tyrion Lannister de Game of Thrones). Pesquisador e industrial, Trask identificou a existência de mutantes com habilidades especiais entre a humanidade. Crê que, assim como o Homo sapiens venceu os neandertais na batalha evolutiva, os mutantes agora vencerão o Homo sapiens – a não ser que se comece a implementar seu programa de Sentinelas, robôs que têm eles próprios a capacidade de mudar e se adaptar para combater com vantagem essas criaturas aberrantes. Trask consegue impor sua visão. E, de cinquenta anos à frente, os poucos ­X-Men que restaram do genocídio instaurado com a presença das Sentinelas (o qual resultou na morte ou escravização não só de mutantes, mas de milhões de seres humanos comuns) tentam combinar seus poderes para refazer a história. Especificamente, os velhos Xavier e Erik (Patrick Stewart e Ian McKellen) necessitam que Wolverine (Hugh Jackman) retorne ao tempo da calça boca de sino e da lava lamp para arregimentar a ajuda de seus jovens alter egos (respectivamente, James McAvoy e Michael Fassbender) e impedir que Mystique (Jennifer Lawrence) assassine Trask – evento que, para o Estado-Maior, serve como confirmação das teorias do industrial e sinal verde para o projeto Sentinela.

Que o mais brusco e impaciente de todos os X-Men seja enviado ao passado em missão diplomática é, claro, o toque de humor de Dias de um Futuro Esquecido. O outro elemento de leveza está na entrada de Quicksilver (Evan Peters), um jovem iconoclasta capaz de se mover quase à velocidade da luz e protagonista de um trecho excelente do filme, no qual, com o tempo quase parado, ele caprichosamente ajeita balas de revólver, punhos, mesas e objetos de cozinha para efetuar a bombástica libertação de Magneto de sua prisão no Pentágono (essa, um capítulo à parte, que tem algo a ver com a trajetória errática da bala que matou o presidente John Kennedy em Dallas, em 1963). O tom predominante, porém, é sombrio e apocalíptico. Se no decorrer de sua carreira cinematográfica super-heróis como o Batman do diretor Christopher Nolan ganharam pesados dilemas morais com que lidar, os X-Men já nasceram políticos e engajados nos quadrinhos. Nos três filmes dirigidos por Bryan Singer (os dois primeiros e este aqui), eles são ainda uma representação do impasse existencial entre defender-se ou atacar. E, acima de tudo, são uma ferramenta filosófica: quanto mais do passado se revela, mais ele mudará diante dos nossos olhos.

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Lamentável será se essa regra terminar por se aplicar ao próprio Singer. Nas últimas semanas, um advogado entrou com duas acusações de molestamento contra o diretor; seus clientes alegam ter sido coagidos a fazer sexo com ele quando eram menores de idade. O advogado, porém, já sofreu várias sanções de sua entidade de classe e tem reputação muito duvidosa; a coincidência do anúncio com o lançamento do filme levanta suspeita de oportunismo; e, em depoimento que veio à tona na semana passada sob juramento e pena de perjúrio, uma das supostas vítimas declarou que teria de fato inventado tudo. Esse, porém, é o tipo de dúvida que tende a pairar, e, a não ser que consiga efetivamente refutar as acusações, Singer estará sempre sob a sombra delas. Trazer à tona a história que se desconhecia é sempre necessário, por mais terrível que seja o saldo – e ainda não está claro se não seria esse o caso aqui. Já modificar a história real com dados fictícios é uma prática tolerável apenas em fantasias de super-heróis.

Isabela Boscov
Publicado originalmente na revista VEJA no dia 21/05/2014
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Republicado sob autorização de Abril Comunicações S.A
© Abril Comunicações S.A., 2014


X-MEN – DIAS DE UM FUTURO ESQUECIDO
(X-Men: Days of a Future Past)
Estados Unidos, 2014
Direção: Bryan Singer
Com James McAvoy, Michael Fassbender, Hugh Jackman, Patrick Stewart, Ian McKellen, Jennifer Lawrence, Peter Dinklage, Evan Peters, Nicholas Hoult, Anna Paquin, Shawn Ashmore, Ellen Pagem, Omar Sy e Josh Helman

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