Relâmpago: Assine Digital Completo por 1,99
Imagem Blog

Isabela Boscov

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Está sendo lançado, saiu faz tempo? É clássico, é curiosidade? Tanto faz: se passa em alguma tela, está valendo comentar. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.

Tudo Pode Dar Certo

Por Isabela Boscov Atualizado em 11 jan 2017, 16h00 - Publicado em 28 abr 2010, 19h03

Faltou óleo

Woody Allen recicla um velho roteiro. Dá para notar

whatever works_mat1

Boris, um físico que certa feita quase foi indicado ao Prêmio Nobel (e mantém o “quase” atravessado na garganta), divorciou-se de sua mulher porque ela era perfeita demais. A física, diz Boris, também virou uma piada. Melhor ensinar xadrez para crianças sem talento: pelo menos se pode insultá-las pelos seus erros, como benefício profissional, já que o dinheiro mal basta para pagar um apartamentinho decrépito. O mundo, reitera o protagonista, está tão cheio de gente estúpida que ser inteligente como ele é um fardo – uma ladainha com que ele chateia seus amigos há anos, e que em Tudo Pode Dar Certo, o novo filme de Woody Allen, ele decide dividir também com a plateia. A piada, lógico, é que Boris apenas se julga melhor do que o restante da humanidade, mas é também ele perfeitamente obtuso. A ocasião de prová-lo se apresenta, como sempre, na forma de uma mulher bem mais nova: Melody (Evan Rachel Wood), uma garota interiorana que Boris encontra chorando na escadaria de seu prédio, leva para casa, ofende de todas as maneiras possíveis, sem que ela perceba ou leve a mal – e por cujo otimismo e doçura ele então se apaixona.

Continua após a publicidade

whatever works_mat2

Allen fez o filme a partir de um roteiro que tinha na gaveta havia décadas. Nota-se. No desfecho, ele tenta recuperar a agudeza de criações recentes, como Vicky Cristina Barcelona, levando os personagens a concluir que cada um sabe melhor do que o faz feliz. Mas, até chegar lá, a história perambula e range sob o peso de estereótipos superados – por exemplo, de que artistas são uma gente muito louca e liberada, e de que intelectuais judeus nova-iorquinos, por contraste, são poços de pessimismo. Não há nada de errado em um cineasta voltar sempre aos mesmos temas. Pelo contrário: essas revisitas, com suas mudanças sutis de enfoque, solidificam uma obra. Mas aqui não há reformulação. Só retrocesso, evidenciado pela escolha de Larry David, da série Curb Your Enthusiasm, para o papel de Boris. Quando encarna ele mesmo seus protagonistas, Allen faz deles homens que agridem os outros de viés, com choramingos e neuroses. David (aliás, um excelente comediante) o faz com um recurso bem mais direto: o da agressão pura e simples. Remove assim de Boris toda a aura de neurastênico adorável, aquela que Allen cultiva, e expõe a mesquinhez no cerne do personagem. Deixa uma impressão forte – e que final feliz nenhum é capaz de apagar.

Isabela Boscov
Continua após a publicidade

Publicado originalmente na revista VEJA no dia 28/04/2010
Republicado sob autorização de Abril Comunicações S.A
© Abril Comunicações S.A., 2010

Continua após a publicidade

TUDO PODE DAR CERTO
(Whatever Works)
Estados Unidos/França, 2009
Direção: Woody Allen
Com Larry David, Evan Rachel Wood, Henry Cavill, Patricia Clarkson, John Gallagher Jr., Olek Krupa, Ed Begley Jr.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

ECONOMIZE ATÉ 88% OFF

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 1,99/mês

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a R$ 1,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.