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Isabela Boscov

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Tom Hardy e Tom Hiddleston, direto na sala de sua casa

Lendas do Crime e I Saw the Light, os últimos trabalhos dos dois atores, vão para o on-demand sem passar pelos cinemas

Por Isabela Boscov Atualizado em 4 jun 2024, 22h27 - Publicado em 16 jul 2016, 19h10

Primeiro vem a crise, que obriga o espectador pensar a duas vezes antes de desembolsar o dinheiro do ingresso. Depois, compute o alto custo de lançar um filme nos cinemas, que faz as distribuidoras ficarem cheias de dúvidas com os títulos mais difíceis de promover. Inclua aí a ocupação maciça das salas por blockbusters. E, por fim, enquadre todos esses fatores locais dentro de uma tendência global – o peso cada vez menor do elenco para o sucesso de um filme na bilheteria (entre todos os vinte primeiros colocados de 2016, não há nenhum em que um astro ou estrela tenha sido o chamariz decisivo). Está criada uma situação peculiar: com frequência crescente, lançamentos de primeira linha agora estreiam diretamente na sala da sua casa, sem passar pelo circuito comercial. Dois exemplos fesquinhos: nos últimos dias, Lendas do Crime, com Tom Hardy, e I Saw the Light, com Tom Hiddleston, entraram de fininho na grade do NOW. Ou seja, embora tenham sido muito comentados, ambos os títulos vão ficar inéditos nos cinemas brasileiros. Para vê-los, só comprando-os no serviço on-demand, ou então esperando pelo lançamento em DVD e Blu-Ray.

É claro que o cinema sempre vai ser o melhor lugar para ver um filme. Mas quer saber? Assistir a esses dois em casa não chega a ser uma perda irreparável. No caso de I Saw the Light, em particular, é provável que você considere ter feito um bom negócio.

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Não por culpa de Tom Hiddleston, que está impecável (embora um tantinho suave demais) no papel de Hank Williams, um dos grandes ícones da música americana. Dos 23 anos, quando se tornou conhecido, até sua morte, aos 29 anos, em 1953, o cantor e compositor criou uma obra totêmica para o country e o folk americanos. Hank subia ao palco com o violão, soltava a voz em canções como Lovesick Blues, Cold Cold Heart ou a própria I Saw the Light e carregava a plateia consigo numa viagem que tinha mais a ver com seus timbres puríssimos, e sempre tingidos pela melancolia, do que com aspectos mais objetivos de sua música. Garoto pobre e sem pai do Alabama, atormentado por uma má-formação na coluna (é a razão da sua postura muito característica, que Hiddleston imita tão bem), desesperado pela garrafa, pela estrada e pelas mulheres, Hank tinha uma ligação atávica com o seu público, que ouvia nas suas canções uma história partilhada do Sul, da vida americana e de uma busca quase religiosa pela elevação. Tire seu chapéu para o inglês Hiddleston (e leia aqui uma entrevista com ele): ele reproduz da melhor maneira possível a voz mítica de Hank, e chega quase à perfeição com o seu sotaque esticado do Sul profundo.

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Os problemas de I Saw the Light vêm de outros lados. Vêm do roteiro, que faz muita menção aos demônios íntimos de Hank e à sua conexão com o público, mas nunca mergulham o espectador nem em uma coisa, nem na outra. Vêm da direção de Marc Abraham, monótona de tudo, e do Sul retocado, quase de cartão-postal, que ela compõe. E vêm da mulher que foi tão importante na vida de Hank, a cantora sem talento Audrey. Está claro que a intenção era seguir os passos de Johnny & June, e narrar a trajetória do músico pelo prisma de um relacionamento. Mas, nesse departamento, Johnny Cash teve muito mais sorte: June Carter cantava que era uma beleza e era uma mulher forte, de personalidade carismática, dessas pelas quais vale a pena lutar – sem falar que Reese Witherspoon, no papel de June, acerta tudo.

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Já Audrey era invejosa do talento do marido, censória, insatisfeita, egoísta – uma personagem desagradável, enfim, cuja grande presença em cena só gera antipatia e que, na interpretação ressecada de Elizabeth Olsen, não convida ninguém a tentar compreender por que ela é como é. Aliás, rapazes, aí vai uma dica: se uma mulher tenta afastar você dos seus amigos por implicância ou ciúme (estou partindo do princípio que eles são gente boa), pense duas, três ou mesmo mil vezes antes de avançar no compromisso. Em geral, isso é sinal de que sua vida vai ser um inferno. A de Hank Williams foi – e Audrey atazana também o filme.

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I SAW THE LIGHT
Estados Unidos, 2015
Direção: Marc Abraham
Com Tom Hiddleston, Elizabeth Olsen, Cherry Jones, Bradley Whitford, Wrenn Schmidt, David Krumholtz

Lendas do Crime, dirigido por Brian Helgeland, é mais redondo e, em várias momentos, positivamente excitante. Tom Hardy faz papel duplo: o dos gêmeos Ronald e Reginald Kray, que durante parte dos anos 50 e 60 mandaram no crime organizado do East End londrino (a história já rendeu um filme bem interessante, Os Implacáveis Krays, de 1990, protagonizado pelos irmãos Gary e Martin Kemp, do Spandau Ballet). Os Kray eram tão destrambelhados que, como gângsters, nem sempre conseguiam ser um modelo de eficiência. Aos 9 anos, Reggie quase matou Ronnie de traumatismo craniano, durante uma briga. Nas suas passagens pela prisão, causavam tanto tumulto, e atacavam os guardas com tanta brutalidade, que logo nenhuma carceragem queria recebê-los. Nos combates com as facções inimigas, eram de uma truculência indizível. Seu reinado foi, portanto, complicado e relativamente breve.

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Mas os Kray eram gângsters com ginga e com estilo, e faziam uma figura condizente com a swinging London da década de 60: atraíam aristocratas, políticos e gente como Frank Sinatra para os seus nightclubs no East End operário, foram fotografados por David Bailey (o über-fotógrafo de moda e estilo), viraram celebridades. Fascinaram tanto quanto aterrorizaram – e Tom Hardy, que não tem quem se compare com ele em ameaça sedutora (e excentricidade) quando lhe dão rédea solta, é a dupla razão pela qual Lendas do Crime pega o espectador de surpresa com suas erupções de violência e eletricidade.

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Quem narra a história é Frances (a australiana Emily Browning, de Sucker Punch), que caiu na conversa açucarada de Reggie, casou-se com ele e teve infinitas ocasiões de desejar que não o tivesse feito. Reggie era inteligente, cativante, ambicioso, bonito e perigoso de um jeito frio, sistemático. Ronnie sofria de esquizofrenia paranóide, e só saiu da internação compulsória porque Reggie deu a entender que ou davam alta a ele, ou se arrependeriam. Ronnie era também o cachorro bravo que Reggie mandava para cima dos inimigos quando necessário – e que começava a assustar bem antes de fazer qualquer coisa, como na cena em que ele deixa um mafioso americano interpretado por Chazz Palminteri boquiaberto e sem ação ao anunciar que não gosta de mulheres, e sim de homens. Como o próprio mafioso conclui, cheio de respeito, está aí um sujeito ao qual não falta audácia.

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Brian Helgeland, em cuja carreira de roteirista há várias histórias de violência de arromba (O Troco, Dívida de Sangue, Los Angeles – Cidade Proibida, Sobre Meninos e Lobos), escreve e dirige Lendas do Crime como que transportado pelo fascínio dos Kray. O retrato que ele faz deles nem sempre é agudo ou inquisitivo. Mas é sempre movimentado, conflagrado – e sobretudo livremente dominado por Tom Hardy, que faz miséria nos papeis tão diferentes de Reggie e Ronnie.

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LENDAS DO CRIME
(Legend)
Inglaterra/França/Estados Unidos, 2015
Direção: Brian Helgeland
Com Tom Hardy, Emily Browning, Paul Anderson, Taron Egerton, David Thewlis, Colin Morgan, Christoper Eccleston, Mel Raido, Sam Spruell, Jane Wood, Paul Bettany

 

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