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Isabela Boscov

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Sede de Sangue

Por Isabela Boscov Atualizado em 11 jan 2017, 15h58 - Publicado em 31 mar 2010, 19h03

Questão de escolha

No sul-coreano Sede de Sangue, ser vampiro não faz de alguém um monstro. Mas entregar-se ao vampirismo – isso sim é monstruoso.

O vampirismo que se vê em Sede de Sangue é bem literal: Sang-hyeon, o protagonista, necessita se alimentar dos vivos para existir. Também se queima ao sol, como os vampiros clássicos, e tem força descomunal. Mas o significado dessa sede que nunca se aplaca, para o diretor Chan-wook Park, é integralmente metafórico – representa o desejo irredutível do ser humano de viver e, mais ainda, de experimentar coisas que o façam sentir-se vivo. No início, para Sang-hyeon, esse é um desejo elevado. Padre católico, ele quer sublimar sua vida na realização do bem, oferecendo-se para um teste com uma vacina contra um vírus. O médico lhe explica que, se ele contrair a doença, estará perdido, já que nunca se registrou uma cura. Sang-hyeon de fato morre – mas revive, misteriosamente, quando tentam salvá-lo com uma transfusão. Levará um bom tempo ainda até que o padre compreenda que se curou porque recebeu o sangue de um vampiro. E aí as aspirações do ministério divino já terão passado para o segundo plano: para seu tormento, Sang-hyeon só consegue pensar em sangue e em outras formas de prazer. Numa cena de sexo brutalmente intensa, filmada de maneira a ressaltar não apenas a intimidade física entre Sang-hyeon e a jovem Tae-ju, mas em particular a profunda conexão emocional que eles assim estabelecem, o filme põe em pauta uma outra questão ainda: a moralidade – ou não – de agir segundo o que se é.

Tae-ju, uma órfã criada como empregada pela mãe adotiva, enlouquece Sang-hyeon e o leva a cometer atos que ele julga repugnantes – inclusive o de transformá-la. Uma vez feita vampira, Tae-ju mandará para o inferno todas as regras: ela agora é uma fera, diz, e pretende se regozijar em sua ferocidade. Diretor dos também extremos Oldboy e Lady Vingança, o sul-coreano Chan-wook Park é um cineasta que investe fundo no choque, mas costuma levá-lo em direções inesperadas: o que é mais nauseante, pergunta seu filme nas entrelinhas, ver Tae-ju alimentando-se dos inocentes que ela assassina (Sang-hyeon prefere métodos menos, digamos, invasivos) ou olhar para o nariz remelento de seu irmão adotivo e imaginar o que ela sofreu ao servi-lo como escrava sexual? O humor negro ressalta o dilema da situação: não é tão fácil assim culpar Tae-ju pela violência de sua recém-adquirida imortalidade. Mas, apesar da sua simpatia para com as razões da jovem, Park é um autor de convicções morais severas. Não é no instante em que se vira vampiro que se perde a alma, esclarece seu desfecho – só quando se decide esquecer o sentimento de ter sido humano.

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Isabela Boscov
Publicado originalmente na revista VEJA no dia 31/03/2010
Republicado sob autorização de Abril Comunicações S.A
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© Abril Comunicações S.A., 2010


Sede de Sangue
(Thirst)
Coreia do Sul, 2009
Direção: Chan-wook Park
Com Kang-ho Song, Ok-bin Kim
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