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Isabela Boscov

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Sabor da Vida

Por Isabela Boscov Atualizado em 30 jul 2020, 23h53 - Publicado em 11 dez 2015, 18h59

Outro caminho para o mesmo lugar.

Se em Pegando Fogo perseguir a perfeição na cozinha é uma batalha cheia de fúria e violência, o japonês Sabor da Vida olha a coisa por um prisma radicalmente diferente: no filme da diretora Naomi Kawase, preparar a pasta doce de feijão perfeita (e só ela, e nada mais) é uma busca espiritual na qual se deve entrar com paciência infinita e disposição para a minúcia.

Sentaro (Masatoshi Nagase), um sujeito quietão, toca uma lojinha de dorayaki – uma espécie de sanduíche de panquecas recheado com pasta doce de feijão – numa rua de Nagóia.

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A freguesia é tão pequena quanto a lojinha, e Sentaro tem uma daquelas vidas miúdas que o cinema japonês é mestre em retratar: faz todo dia as mesmas coisas, sempre à mesma hora, do mesmo jeito. Naturalmente, portanto, ele diz não quando Tokue (Kirin Kiki), que já está bem velhinha, pede emprego a ele. E diz não de novo quando Wakana (Kyara Uchida), uma adolescente solitária, faz a ele o mesmo pedido. Wakana, porém, não tem muito para onde ir, e continua passando horas na loja todos os dias. E Tokue não é boba: deixa para Sentaro uma amostra da sua pasta de feijão, incomparavelmente melhor do que o produto industrial que ele compra. Tokue, ademais, é tão meiga e humilde, e tão ansiosa por trabalhar, apesar das mãos deformadas, que Sentaro cede.

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A cena em que eles preparam junto a pasta de feijão pela primeira vez é um belíssimo exemplo de como, geração após geração, os cineastas japoneses consolidam sua imensa tradição visual: o preparo da pasta toma horas a fio, inclui uma dezena de etapas e exige certas delicadezas que Sentaro nunca imaginara existir – e Naomi Kawase encena essa longa sequência quase como uma coreografia em que Sentaro e Tokue ora trocam de lugar seguidas vezes na cozinha minúscula, ora nada têm a fazer senão esperar. As mudanças na luz (eles começam antes do amanhecer) correspondem às mudanças na aparência dos feijões e na postura dos dois personagens (que estão cada vez mais cansados). É quase como ver uma partitura virar música: ao final, essa atividade toda se transmuta em um instante de deleite, quando eles experimentam a pasta pronta e suspiram. É também uma reflexão sobre os rituais e os códigos da cultura japonesa: regras não necessariamente limitam ou restringem; ao mostrar o caminho a trilhar, elas deixam a pessoa livre para se ocupar de algo mais importante – encontrar um significado maior na tarefa que está realizando.

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Sentaro, Tokue e Wakana têm outros dramas que, pouco a pouco, os dorayaki vão trazer à superfície. O de Tokue tem a ver com algo que era tratado como vergonha no Japão do pós-guerra e é o que mais interessa à diretora. Mas é também o que mais enfraquece o filme na sua reta final, quando ele fica meio sobrecarregado de didatismo e sentimentalismo. Para mim, a pasta de feijão já era assunto que dá e sobra.


Trailer

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SABOR DA VIDA
(An)
Japão/França/Alemanha, 2015
Direção: Naomi Kawase
Com Masatoshi Nagase, Kirin Kiki, Kyara Uchida
Distribuição: Califórnia Filmes
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