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Isabela Boscov

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Quanto Mais Quente Melhor

Por Isabela Boscov Atualizado em 31 jul 2020, 00h08 - Publicado em 9 nov 2015, 17h15

Dia de Clássico: Quanto Mais Quente Melhor.

Clássico, para mim, não é o filme que ficou entronizado nas enciclopédias de cinema como “obrigatório”: é o filme que a gente espontaneamente tem vontade de ver e rever, que faz a gente estacionar no meio de um zapping e ficar lá no canal em que ele está passando e que, no fim, faz a gente se perguntar: jura que ele tem toda essa idade? Porque não aparenta, de jeito nenhum.

E não tem dia melhor do que segunda-feira para assistir a algo como Quanto Mais Quente Melhor. É a garantia de começar a semana com o pé direito e sem decepções. Leia aqui a resenha que eu fiz quando o filme foi relançado em 2002:


Quanto mais velho melhor

Relançado em cópia nova, Quanto Mais Quente Melhor mostra por que é tido como a maior comédia americana da história.

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“Veja só aquilo!”, diz Jack Lemmon, extasiado, para Tony Curtis. “É como se ela tivesse molas!” Aquilo, no caso, é o rebolado de Marilyn Monroe, que passa pelos dois amigos a caminho de um trem. Não há nada que eles possam fazer a respeito, contudo. Após presenciarem um massacre perpetrado por gângsteres na Chicago dos anos 30, só lhes resta assumir os nomes de Daphne e Josephine e tentar equilibrar-se sobre saltos altos, para entrarem disfarçados numa banda só de mulheres e, assim, fugirem à execução certa. Naquela que é tida como a mais perfeita comédia americana de todos os tempos, Quanto Mais Quente Melhor, nada é o que se presume ser: caixões funerários transportam uísque clandestino, o Dia dos Namorados é a data certa para um banho de sangue, mulheres na verdade são homens e, não menos importante, interesseiras são românticas e dom-juans são apaixonados.

divulgaçãoEscrito e dirigido pelo austríaco Billy Wilder em 1959, quando a censura americana ainda era implacável, o filme é também um feito magnífico na arte do double entendre, ou duplo sentido. Um comentário sobre um iate ou um pedido para ver uma carta de motorista assumem significados dos mais picantes, sem cair na vulgaridade. É, de certa forma, o que garantiu a atualidade de seu humor: por força da necessidade, ele foi concebido de uma tal maneira que o impede de ficar ultrapassado.

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Muito mais do que o acaso, porém, a força decisiva aqui é Billy Wilder – que morreu em março de 2002, três meses antes de completar 96 anos. Seu casamento de filme de gângster, comédia amalucada, romance e travestismo é de uma harmonia e economia exemplares. Com olho clínico para recrutar atores, Wilder escolheu Tony Curtis, um sujeito tímido, para o papel do saxofonista Joe, que detesta ser Josephine e nas horas vagas se finge de herdeiro da Shell para seduzir a tolinha e desiludida Sugar Kane (Marilyn), que toca uquelele na sua banda de mulheres. Jack Lemmon, muito mais extrovertido e um cômico brilhante, ficou com Daphne, que mal põe um vestido e já se sente como se tivesse nascido com ele. Fazendo o tipo solteirona despachada, Daphne ganha o coração do milionário e casador contumaz Osgood Fielding Terceiro (a quem se apresenta como Cinderela Segunda), esplendidamente interpretado pelo franzino Joe E. Brown, que tinha mais ou menos a metade do tamanho de Lemmon. A cena em que os dois dançam tango, passando uma rosa para os dentes um do outro a cada pirueta, é imbatível.

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Mas, acima de tudo, Quanto Mais Quente Melhor é o auge da parceria entre Wilder e Marilyn, iniciada quatro anos antes com O Pecado Mora ao Lado. O diretor dizia que trabalhar com a estrela o deixava com dores por todo o corpo, a começar pela cabeça. Marilyn atrasava horas, tinha acessos de mau humor e era tão desconcentrada que mesmo uma cena simples, como aquela em que ela entra no quarto de Daphne e Josephine à cata de uma garrafa de bourbon, teve de ser repetida 65 vezes. Ninguém, contudo, entendia o apelo ao mesmo tempo frágil e sensual de Marilyn como Wilder. Sob sua direção, ela se mostrava uma comediante nata, com faro certeiro para o melhor ritmo e a inflexão mais eficiente. Só por isso o pragmático Wilder tolerava seus achaques de diva. Longe dela, ele não a poupava de sua língua ferina. “Discuti com meu médico, meu psiquiatra e meu contador se deveria fazer outro filme com Marilyn, e eles me disseram que estou muito velho e muito rico para isso”, gracejou ao terminar Quanto Mais Quente Melhor. Após a morte da estrela, contudo, Wilder deu a ela o tributo que lhe era de direito. “Há uma certa semelhança entre Marilyn e a II Guerra Mundial”, declarou. “Ambas foram infernais, mas valeram a pena.”

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Isabela Boscov
Publicado originalmente na revista VEJA no dia 29/05/2002
Republicado sob autorização de Abril Comunicações S.A
© Abril Comunicações S.A., 2002

Trailer


QUANTO MAIS QUENTE MELHOR
(Some Like It Hot)
Estados Unidos, 1959
Direção: Billy Wilder
Com Marilyn Monroe, Jack Lemmon, Tony Curtis, Joe E. Brown, George Raft, Pat O’Brien

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