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Isabela Boscov

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Patty Duke e O Milagre de Anne Sullivan

Por Isabela Boscov Atualizado em 30 jul 2020, 23h09 - Publicado em 29 mar 2016, 21h38

Uma atriz meio esquecida, mas de força monumental

Não vou dizer que conheço muito bem a carreira de Patty Duke, que morreu hoje, aos 69 anos, porque seria mentira. Mas, se há uma atriz que conseguiu muito cedo tornar um papel absolutamente memorável, e que merece ser conhecida por ele, trata-se de Patty. Por acaso, até algumas semanas atrás eu também nunca havia visto Patty no papel que a tornou célebre na década de 60, e pelo qual ela ganhou um Oscar, aos 16 anos – até que, por acaso, deparei no Netflix com O Milagre de Anne Sullivan e resolvi assistir, para corrigir uma falha – era um desses filmes que eu deveria ter no currículo já há muito tempo, mas me escapou.

Patty Duke e O Milagre de Anne Sullivan
Patty Duke 1946-2016 ()

Talvez eu tenha sempre desviado do filme que o grande Arthur Penn (que depois faria Bonnie e Clyde e O Pequeno Grande Homem) dirigiu em 1962 porque o assunto é uma barra: ele trata de como Hellen Keller, que ficou cega e surda em bebê por causa de uma escarlatina, passou a infância toda aprisionada dentro de si mesma, sem nenhuma possibilidade de comunicação, e finalmente, no início da adolescência, foi tirada desse encarceramento dos sentidos por uma professora irlandesa – a Anne Sullivan do título. Isso na década de 1890, quando a ideia de que seria possível educar alguém com deficiências tão graves era considerada coisa de outro planeta. Hellen Keller (1880-1968), porém, se tornaria a primeira pessoa cega e surda a se formar na universidade, além de uma ativista pioneira.

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pattyduke_mat4Se você se animar a ver o filme – e eu recomendo vivamente que o faça –, resista impavidamente à primeira cena, aquela em que Victor Jory e Inga Swenson, que fazem os pais da pequena Hellen, descobrem que ela perdeu a audição e a visão: ela é tão kitsch e exagerada que dá um pouco de vergonha alheia. Em questão de minutos, contudo, você já terá esquecido esse início pouco auspicioso. Como a professora Anne Sullivan, criada nos mais hediondos orfanatos e ela própria quase cega, Anne Bancroft é uma força da natureza: uma mulher jovem, instruída à custa de muita determinação, sem lugar no mundo e miraculosamente sem nenhuma concepção de que isso é um problema ou uma desvantagem, Anne chega à fazenda dos Keller, no Sul americano cheio de rapapés sociais, e bota para quebrar – é um absurdo, insiste ela, que Hellen tenha direito a se comportar como uma selvagem. Os pais de Hellen, assim como o meio-irmão dela (Andrew Prine), insistem que a menina jamais poderia aprender qualquer coisa; no entender deles, a deficiência causou um retardamento mental intransponível.

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Sempre batendo de frente com os Keller, Anne trata de provar que não é esse o caso, nem de longe. Em uma cena estupenda (repito: estupenda), Anne Bancroft e Patty Duke se atracam durante minutos a fio, em um crescendo de violência física e de caos: tudo porque a menina quer comer com a mão, e Anne quer demonstrar a ela que é preciso usar uma colher. Nunca vi duas atrizes embarcarem em um vale-tudo como o dessa cena – ambas furiosas, e ambas determinadas a não ceder um só centímetro de território à adversária. Anne Bancroft, que morreu em 2005, aos 73 anos (41 deles casada com seu hoje viúvo Mel Brooks), sempre foi uma maravilha de atriz, ao mesmo tempo um vendaval e capaz das sutilezas mais arrebatadoras. A surpresa aqui é a força de Patty Duke – que depois faria uma longa carreira quase que só na TV (carreira que, como eu disse, não acompanhei), apesar das dificuldades impostas a ela pela doença maníaco-depressiva (hoje chamada de transtorno bipolar), diagnosticada quando ela estava com seus 30 e poucos anos.

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Duas curiosidades: Anne Bancroft e Patty Duke estavam repetindo, no filme, os papeis que haviam feito no palco, entre 1959 e 1961: conheciam a peça de William Gibson, e uma à outra, do direito e do avesso. E, em 1979, Patty ganhou num Emmy pela versão televisiva da peça, intitulada O Milagre de Annie Sullivan, com um “i” a mais – mas, dessa vez, interpretando não Helen Keller, e sim a professora.

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