
O investigador que investigava a si mesmo
Woody Allen foi buscar nos mistérios e comédias dos anos 40 a inspiração para essa farsa saborosa, que trata do investigador de seguros C.W. Briggs — interpretado pelo próprio Allen — e as desventuras que ele enfrenta depois de ser hipnotizado por um mágico mau-caráter. O sujeito não só faz Briggs se sentir apaixonado por sua nova chefe e pior inimiga, conhecida no escritório simplesmente pelo sobrenome Fitzgerald (Helen Hunt), como também o põe para roubar milhões em jóias durante seus transes. A ironia é que Briggs terá de decifrar os crimes que ele próprio cometeu sem saber. E, como é infalível, é só uma questão de tempo até que termine por se acusar. Para piorar o imbróglio, Briggs se envolve no romance clandestino entre Fitzgerald e o dono da seguradora.
O resultado é menos leve do que em Trapaceiros, o filme anterior de Allen. Mas tem excelentes momentos, boa parte deles concentrada nos diálogos-metralhadora entre o conquistador barato Briggs e a durona Fitzgerald. Eles são uma homenagem fiel, e muito bem escrita, aos tiroteios verbais que celebrizaram a parceria entre Cary Grant e Rosalind Russell em Jejum de Amor. Com a diferença que, no lugar do cínico e suave Grant, se tem aqui o franzino e nervoso Allen, o que só acrescenta ao efeito cômico.
Isabela Boscov
Publicado originalmente na revista VEJA no dia 17/07/2002
Republicado sob autorização de Abril Comunicações S.A
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© Abril Comunicações S.A., 2002
O ESCORPIÃO DE JADE
(The Curse of the Jade Scorpion)
Estados Unidos, 2001
Direção: Woody Allen
Com Woody Allen, Helen Hunt, Dan Aykroyd, Wallace Shawn, Elizabeth Berkley, Charlize Theron, David Ogden Stiers