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Isabela Boscov

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O Conto dos Contos

Por Isabela Boscov Atualizado em 30 jul 2020, 22h41 - Publicado em 18 Maio 2016, 20h05

Um realista no território da fábula

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Na primeira das histórias de O Conto dos Contos, o rei (John C. Reilly) morre feliz no combate com uma gigantesca salamandra marinha: pelo menos derrotou o monstro, e agora o coração deste, servido à sua rainha no jantar, fará com que ela gere o filho que tanto deseja. Dito e feito; mal terminou de enfiar os dentes no coração sangrento e a rainha (Salma Hayek) sente a barriga crescer. No dia seguinte, acompanha o funeral do marido já com o bebê nos braços. Mas sua satisfação nunca será completa: a criada que preparou as entranhas engravidou também, ao aspirar os vapores do cozimento, e gerou um filho plebeu idêntico ao príncipe real. Pálidos como a salamandra que lhes serviu de pai, os meninos (Christian e Jonah Lees) se adoram – e separá-los será a obsessão da rainha. Também as outras duas histórias que se entrelaçam a essa no filme do diretor italiano Matteo Garrone tratam de gratificações fugidias. Um segundo rei (Vincent Cassel), este dissoluto e libidinoso, se apaixona por uma mulher de voz encantadora. Ele crê se tratar de uma jovem formosa; na verdade, a voz pertence a uma velha feia e enrugada (Hayley Carmichael) que, junto com sua irmã igualmente anciã (Shirley Henderson), tentará enganar o rei. Finalmente, o terceiro rei (Toby Jones), viúvo e comedido, dedicado à sua jovem filha (Bebe Cave), perde o senso de realidade ao cair de amores por uma pulga, que ele vai alimentar até ela atingir dimensões espantosas – e, pela pulga, entregará sua filha em casamento a um ogro repelente.

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Em todas as três histórias, esse impulso do desejo que tem de ser atendido em nome da vaidade, da ambição ou do orgulho vai levar os personagens por caminhos estranhos, cujo destino final quase sempre é a ruína – a deles e a dos incautos apanhados em seu egoísmo. E isso é o que O Conto dos Contos tem em comum com os dois filmes anteriores de Matteo Garrone, o brutal Gomorra, sobre a máfia napolitana, e o mordaz Reality – A Grande Ilusão, que trata da obsessão pela celebridade: a devastação que o desdém e o descaso cavam à sua volta. O Conto dos Contos, porém, troca o registro realista desses dois trabalhos pelo fantasioso: da ambientação medieval à lógica tortuosa de conto-de-fadas, este novo filme se relaciona muito mais com o Gaviões e Passarinhos (1966) e o Contos de Canterbury (1972) de Pier Paolo Pasolini que com qualquer produção italiana contemporânea (à exceção, resguardadas as diferenças, do A Grande Beleza de Paolo Sorrentino, em que a atmosfera irreal frequentemente acentua as aventuras mundanas do protagonista).

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Para quem vai ver o filme pensando em Gomorra, portanto, O Conto pode ser um choque. Para quem está avisado da guinada ou tem familiaridade com essa vertente fabulesca do cinema italiano (na qual se incluem desde o ocasional Pasolini até comédias escrachadas como O Incrível Exército Brancaleone, de Mario Monicelli), ele pode ser uma experiência altamente compensadora, ainda que irregular. Adaptando as fábulas compiladas no século XVII pelo poeta medieval Giambattista Basile em seu Pentamerão, Garrone ao mesmo tempo respeita as notas morais e surreais do material original e torna seus temas relevantes para a plateia de hoje. O desconforto que O Conto dos Contos às vezes provoca vem em grande parte, na verdade, de seu elenco, que não se casa bem com o tratamento escolhido por Garrone. Este é o tipo de material em que rostos menos conhecidos, e mais autenticamente comuns e italianos – como os que Pasolini costumava escolher –, ajudariam muito o espectador na mergulhar no mundo de fábula criado pelo diretor.

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Trailer


O CONTO DOS CONTOS
(Il Racconto dei Racconti)
Itália/França/Inglaterra, 2015
Direção: Matteo Garrone
Com Salma Hayek, Toby Jones, Vincent Cassel, Hayley Carmichael, Bebe Cave, John C. Reilly, Christian Lees, Jonah Lees, Shirley Henderson, Stacy Martin, Giuseppe Carnemolla, Guillaume Delaunay
Distribuição: Mares Filmes

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