
Veja aqui a vídeo-resenha.
Se há um sujeito em Hollywood que está habituado a levar pancada, é Ben Affleck: do namoro de tabloide com Jennifer Lopez às paródias do desenho Southpark (que o retratava como “Buttface”, ou “Cara de Traseiro”), das críticas que ele recebe como ator (quando merece e também quando não merece) à esnobada na indicação ao Oscar de direção por Argo (que levou a estatueta de melhor filme), Affleck vive na berlinda. E, no entanto, se há um sujeito que está habituado a fingir que não ouviu, e daí sacudir a poeira e dar a volta por cima – “por cima” é a expressão chave –, esse sujeito é, também, Ben Affleck. Depois de silenciar a indignação dos fanboys e do público em geral com uma atuação muito decente como Batman – e de ganhar o posto de diretor no próximo filme do personagem –, Affleck está de novo por cima esta semana com O Contador, que fez uma bilheteria muito acima do esperado no fim de semana de estreia nos Estados Unidos e foi aprovado por 86% dos espectadores (contra 50% dos críticos, mas já chego lá).
Quer saber? Ben Affleck merece.
O Contador tem um roteiro quase dadaísta de tão absurdo: menino autista, com excepcional habilidade para os números, é treinado pelo pai militar em todo tipo de tática de defesa e ataque: tiro de precisão, lutas marciais variadas, manejo de armas brancas etc. Numa passagem (que eu não entendi) pela prisão, ele é adotado por um mentor – o ótimo Jeffrey Tambor, como um contador da máfia. E saí de lá com uma profissão: super-contador para carteis de drogas, grupos terroristas e máfias em geral. Mas é um trabalho para uma empresa perfeitamente legal que vai colocá-lo em problemas. E ponha-se problema nisso.
Se você quiser levar O Contador a sério, vai achar nele todos os defeitos possíveis. Se você encará-lo como uma brincadeira, é possível que se divirta horrores, como eu me diverti. Inclusive porque é uma brincadeira feita com seriedade (não, não há contradição nisso) e empenho, e dirigida com muito pulso e ritmo por Gavin O’Connor, de Guerreiro (com Tom Hardy e Joel Edgerton) e Em Busca da Justiça (com Natalie Portman). Se você se deixar levar, vai perceber que, pouco a pouco, O Contador está se transformando em um filme de super-herói. Um super-herói que, em vez de superpoderes ou uma super-herança, tem que tirar partido de um transtorno de desenvolvimento neurológico. Ei, nem todo mundo pode ser Batman.