Novo filme de Woody Allen é tempestade em copo d’água
Apesar do clima tumultuado em torno do diretor, 'Um Dia de Chuva em Nova York' é historieta amena de encontros e desencontros amorosos
Um Dia de Chuva em Nova York (A Rainy Day in New York, Estados Unidos, 2019, em cartaz no país) é aquele filme que Woody Allen faz, ano sim, ano não, como parte do ciclo criativo que, a certos intervalos, o leva a produzir seus rasgos de genialidade. Esta pequena história de encontros e desencontros amorosos, entretanto, ganhou notoriedade desproporcional à sua relevância: em 2018, a Amazon engavetou o filme pronto e ainda cancelou o contrato pelo qual bancaria mais três longas de Allen (o diretor abriu um processo de 68 milhões de dólares contra a corporação, encerrado nesta semana com um acordo sigiloso). A decisão da Amazon se deu no auge do #MeToo, quando o diretor mencionou o “clima de caça às bruxas” que teria contaminado o movimento e sua filha Dylan Farrow, que renovou as acusações de que Allen abusou sexualmente dela em 1992, quando era uma menina de 7 anos. O pai sempre negou, e pelo menos duas investigações independentes concluíram que nada havia ocorrido; também a Procuradoria não conseguiu reunir indícios suficientes para processá-lo. O caso, porém, divide os irmãos de Dylan, e agora os atores que já trabalharam com Allen: enquanto Scarlett Johansson, Kate Winslet e Diane Keaton o defendem, Greta Gerwig, Colin Firth e Timothée Chalamet — que estrela Um Dia de Chuva — o repudiaram.
No filme, Chalamet é um rapaz sofisticado que quer mostrar Nova York à namorada rica e caipira (Elle Fanning). Mas as pancadas de chuva e três homens mais velhos pelos quais a garota se encanta frustram os seus planos. Eles, afinal, nem eram tão bons assim: o imprevisto — na forma da personagem de Selena Gomez — cuida de dar rumos bem mais felizes à trajetória romântica do rapaz. É uma brincadeira amena — mas a temperatura da controvérsia é tão alta que Um Dia de Chuva permanece sem distribuidor nos Estados Unidos.
*A Editora Abril tem uma parceria com a Amazon, em que recebe uma porcentagem das vendas feitas por meio de seus sites. Isso não altera, de forma alguma, a avaliação realizada pela VEJA sobre os produtos ou serviços em questão, os quais os preços e estoque referem-se ao momento da publicação deste conteúdo.
Publicado em VEJA de 27 de novembro de 2019, edição nº 2662