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Isabela Boscov

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Neve Negra

Em suspense argentino, o passado está sempre bem presente

Por Isabela Boscov 8 jun 2017, 18h42

Todas as famílias têm lá seus segredos, mas a dos irmãos interpretados por Leonardo Sbaraglia e Ricardo Darín (sim, os dois atores obrigatórios do cinema argentino de uma só vez) bate a maioria em matéria de esqueletos no armário. Salvador (Darín) é um proscrito: isolou-se no meio das montanhas depois de ter matado acidentalmente o irmão menor, Juan, numa caçada, trinta anos antes. A irmã enlouqueceu com a desgraça; o irmão restante, Marcos (Sbaraglia), mudou-se para a Espanha, de onde volta agora que o pai morreu e uma companhia estrangeira quer comprar a serraria que eles herdaram. Praticamente não há filme argentino sem tintas políticas, e mesmo exercícios de suspense como o recente No Fim do Túnel (também com Sbaraglia) e este Neve Negra, que entrou em cartaz aqui nesta semana, costumam pintar com elas. Mas, mais do que na alegoria sobre como os cadáveres do passado continuam sempre vivos, é nas reviravoltas e revelações que o interesse do diretor Martin Hodara está concentrado. Não é spoiler, é aviso (e aperitivo): o final choca ou incomoda muita gente – mas o fato é que a vida tem um jeito todo especial de juntar as pessoas que se parecem entre si. Até quando elas nem suspeitam serem tão parecidas.

Leia a seguir a resenha completa:


QUANDO VIER O DEGELO…

No argentino Neve Negra, Ricardo Darín e Leonardo Sbaraglia são os polos opostos de uma família que está arrebentando de tantos segredos enterrados

Salvador (Ricardo Darín) há trinta anos se isolou num chalé perdido entre as montanhas geladas da Patagônia; brusco e intratável, vive do que caça, e de lá não sai. Sabrina (Dolores Fonzi) está recolhida numa instituição psiquiátrica, ora entorpecida pela medicação, ora debatendo-se em surtos violentos. Cabe a Marcos (Leonardo Sbaraglia), portanto, dispor das cinzas do pai e tentar levar os irmãos a uma decisão sobre a venda da serraria que herdaram. Marcos vem a contragosto da Espanha para cumprir as tarefas, acompanhado da mulher, Laura (Laia Costa), jovem e grávida do primeiro filho: pelos flashbacks que se repetem e se expandem, como se fossem cenas gravadas na memória, vê-se que tudo na vida dos três irmãos retrocede a um dia da adolescência em que, numa caçada em família, o irmão caçula foi vitimado por um acidente. Arredondando a fatura da disfunção familiar, eles têm ainda no passado um pai tirano e uma mãe banida de sua convivência. Marcos parece ter escapado relativamente ileso de tanta brutalidade e desgraça. Não tem nenhum vontade de reatar o contato com Salvador e Sabrina, mas resigna-se e os procura, instado pelo velho Sepia (Federico Luppi, excelente como sempre), que dirige a serraria e talvez tenha mais interesse do que divulga nos milhões de dólares oferecidos por uma companhia canadense.

Neve Negra
(Paris Filmes/Divulgação)
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Essa é a história que se apresenta em Neve Negra. Mas, nos seus planos tensos, que seguem os personagens sugerindo que cada curva do caminho pode guardar uma surpresa, a câmera do diretor Martin Hodara esclarece que essa família está arrebentando de tantos segredos guardados – e que, quando a neve sob a qual eles estão enterrados derreter, não é bonito o que vai se revelar. Salvador, defendido por Darín com a verve habitual, parece ser o repositório de todas as culpas familiares. Aos poucos, porém, a câmera tão hábil quanto sutil de Hodara vai transferindo o mistério dele para Marcos (outro grande estudo de Sbaraglia sobre a vacilação), e estendendo-o também para Laura.

Neve Negra
(Paris Filmes/Divulgação)

Exercícios de gênero são mais complicados do que parecem; o cineasta tem de cotejar seu filme contra todo o repertório ao qual ele pertence, e oferecer-se ao julgamento do espectador a cada passo. Neve Negra, nesse sentido, é um muito bem-sucedido exercício nas regras do suspense. E, como boa parte da produção argentina, bate forte também com a ideia de que o passado demora a se decompor e, enquanto o faz, contamina o presente com seu odor ruim. O filme vai muito mais além ainda: avisa que o mal não pode se mostrar como é. Para ter êxito, tem de se recobrir com a inocência da neve recém-caída – e recomenda-se olho vivo à última cena.

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Isabela Boscov
Publicado originalmente na revista VEJA no dia 07/06/2017
Republicado sob autorização de Abril Comunicações S.A
© Abril Comunicações S.A., 2017

Trailer

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NEVE NEGRA
(Nieve Negra)
Argentina/Espanha, 2017
Direção: Martin Hodara
Com Leonardo Sbaraglia, Ricardo Darín, Laia Costa, Federico Luppi, Dolores Fonzi
Distribuição: Paris Filmes
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