Último mês: Veja por apenas 4,00/mês
Imagem Blog

Isabela Boscov

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Está sendo lançado, saiu faz tempo? É clássico, é curiosidade? Tanto faz: se passa em alguma tela, está valendo comentar. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Conteúdo para assinantes
Continua após publicidade

‘Lost Girls’: a desesperada busca de uma mãe pela filha desaparecida

Baseado em um caso verídico, filme disponível na Netflix tem uma atuação poderosa de Amy Ryan — mas seu maior mérito é dar alguma justiça às vítimas reais

Por Isabela Boscov Atualizado em 4 jun 2024, 14h25 - Publicado em 20 mar 2020, 06h00

Em uma noite de 2010, Mari Gilbert (Amy Ryan) esperou que Shannan, sua filha mais velha, viesse visitá-la na hora do jantar. Shannan não veio mas, como ela não levava uma vida muito regular, sua mãe não chegou a se preocupar; apenas ficou desapontada. Foi Sherre (Thomasin McKenzie), a filha do meio, quem deu o alarme: nem mesmo o namorado de Shannan sabia dela, e ligara perguntando por alguma informação. Aí começou a peregrinação da mãe, atrás do namorado, do motorista que levava Shannan aos seus encontros, dos moradores do condomínio em que ela fora vista pela última vez, atendendo um cliente. Mari descobriu que a filha fugira correndo de uma casa, gritando que tentavam matá-la, e ligara para a emergência pedindo socorro — mas só uma hora depois uma viatura dera as caras por lá, quando já não havia nem sinal de Shannan. Na delegacia, Mari não conseguiu que lhe dessem ouvidos: Shannan “devia estar drogada”, uma hora qualquer reapareceria, colocara-se ela mesma no caminho do perigo. Quando o cão de um patrulheiro por acaso farejou um cadáver nas imediações do local do sumiço, um cenário tétrico começou a se descortinar, mas nem aí o desprezo em torno de Shannan se desfez. Ela era, afinal, uma prostituta. Eis o fio condutor do primeiro longa de ficção da expe­riente e talentosa documentarista Liz Garbus: em Garotas Perdidas (Lost Girls, Estados Unidos, 2020), produção da Netflix já disponível na plataforma, a diretora se vale de um caso verídico para, como em muitos de seus trabalhos, destrinchar a maneira indecorosamente desigual como a justiça é distribuída.

Há tempo a Netflix não lançava um filme original com o nível de competência e a força dramática de Garotas Perdidas. Com rigor naturalista e sob a luz desoladora do outono, Liz Garbus cria um quadro austero em cujo centro está um vulcão de energia, teimosia e indignação: Mari, a mãe que parece aos detetives muito fácil julgar — pela tintura barata dos cabelos, pelos modos bruscos, pelos problemas que já teve com Shannan e por aceitar empréstimos do dinheiro que a filha ganhava com prostituição. Igualmente fácil, para eles, é julgar as dez ou mais moças cujos cadáveres são descobertos, todas prostitutas que anunciavam seus serviços no mesmo site. Os corpos foram reenterrados recentemente, sinal de que o assassino está tentando afastar a investigação de seu lugar de ação. Um deles é identificado como de uma garota desaparecida no meio da década de 90; ou seja, há quinze anos jovens vêm sendo mortas sem que ninguém faça caso delas. “Pelo menos o culpado não escolhe suas vítimas entre os cidadãos em geral”, diz um detetive.

Mari e as mães e irmãs das outras vítimas, entretanto, cuidam de que o espectador não esqueça que as moças são antes de mais nada pessoas queridas de alguém, por mais imperfeito que esse “alguém” seja. Amy Ryan é uma atriz poderosa, que sabe como poucas exprimir os estados de ânimo e as forças e fraquezas das americanas de origem proletária, em trabalhos como a série The Wire e em outro thriller sobre um desaparecimento, Medo da Verdade (2007). Aqui, com sua garra, ela faz um belo contraponto com a excelente Thomasin McKenzie, de Jojo Rabbit, no papel da filha do meio delicada e ponderada que descobre mais do que gostaria de saber no curso da investigação, e repete uma de suas melhores parcerias — com Gabriel Byrne, com quem contracenou na série Em Terapia. Ainda assim, a verdadeira estrela de Garotas Perdidas é a justiça com que Liz Garbus, ao menos, trata as vítimas: não como peças de um mistério policial, mas como indivíduos que deixam atrás de si uma ausência irreparável.

Publicado em VEJA de 25 de março de 2020, edição nº 2679

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Veja e Vote.

A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

OFERTA
VEJA E VOTE

Digital Veja e Vote
Digital Veja e Vote

Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

1 Mês por 4,00

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

a partir de 49,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.