‘Hereditário’: Uma hora e meia de puro pavor…
...e, então, uma meia hora final que quase põe a perder o trabalho fabuloso do diretor estreante Ari Aster até ali
Medo é muito pessoal, e cada um sabe onde exatamente o sapato lhe aperta. Pois Hereditário pisou no meu calo: durante toda a primeira hora e meia de filme, passei aquele tipo de pavor que faz o couro cabeludo pinicar, o sangue fugir do rosto e a boca ficar seca – resultado do trabalho extraordinário do diretor estreante e também roteirista Ari Aster, que trata aqui o terror como uma infecção que se espalha. No caso, essa infecção toma conta da família de Annie (Toni Collette), que acabou de perder a mãe depois de uma longa doença acompanhada de demência. O relacionamento entre as duas foi sempre terrível, e a morte traz consigo uma sensação de alívio. Ela dura pouco, porém. Annie sente que há algo de anormal na sua casa; o marido (Gabriel Byrne), cético, e o filho adolescente (Alex Wolff), desligadão, acham que é o problema está na verdade em Annie – e, talvez, também em Charlie (Milly Shapiro), a peculiar menina de 13 anos que era unha e carne com a avó. Charlie vê a avó, cercada de fogo, na mata que circunda a casa – e, em vez de se assustar, quer se juntar a ela. Annie acha que viu o espectro da falecida no seu quarto de trabalho – e julga estar alucinando. É sobrenatural, ou é loucura? Caminhando na fronteira entre as duas possibilidades, Ari Aster estica os nervos do espectador até o limite: tudo, aqui, está nos enquadramentos, na luz clara mas leitosa, no ritmo deliberado que nunca permite susto ou resolução, nas atuações magnificamente moduladas de todo o elenco e em especial de Toni Collette, que ora se desintegra, ora reúne todas as forças em explosões operísticas de ressentimento.
Um acidente tenebroso faz o que ia mal piorar drasticamente: a família toda cai sob uma nuvem de chumbo, e a intromissão de uma estranha (a sempre sensacional Ann Dowd) – nos dois sentidos da palavra – faz o mal irromper entre eles. Aí o espetáculo passa a ser de Alex Wolff, cujo personagem vai desmoronando em um estado de fragilidade comovente. E, então, vem a meia hora final, em que Ari Aster quase que desfaz por inteiro a costura meticulosa que ele vinha desenvolvendo até ali em conjunto com o diretor de fotografia Pawel Pogorzelski, a desenhista de produção Grace Yun e o compositor Colin Stetson (a trilha é um primor do mal-estar). Não é que eu tenha parado de sentir medo – não parei. Mas ele começou a se misturar à incredulidade e até a um certo sentimento de ridículo. A pior coisa que um filme de terror pode fazer é se explicar: não só o medo do sobrenatural está justamente no fato de que não há o que o explique, como as explicações de Aster são elaboradas demais e muito inconvincentes. Mas não tenho dúvida de que, no futuro, ele ainda vai me fazer passar muito mal no cinema de novo. Ari Aster nasceu para isso.
Trailer
| HEREDITÁRIO (Hereditary) Estados Unidos, 2018 Direção: Ari Aster Com Toni Collette, Alex Wolff, Milly Shapiro, Gabriel Byrne, Ann Dowd Distribuição: Diamond |
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