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Em Halston, Ryan Murphy narra ascensão e queda de um estilista dos anos 70

Interpretado com excelência por Ewan McGregor, o designer Halston é, na trama da série, emblema da euforia de construir-se e do temor de destruir-se

Por Isabela Boscov Atualizado em 4 jun 2024, 13h50 - Publicado em 14 Maio 2021, 06h00

Se o nome Halston possivelmente não se inclui junto a outros como Calvin Klein, Armani ou Versace no repertório do conhecedor casual de moda, a responsabilidade é na maior parte do próprio Roy Halston (1932-1990). Durante um auge relativamente breve, entre o fim dos anos 60 e início dos 80, o garoto saído do interior de Indiana ascendeu ao posto de grife mais estelar e influente do mercado americano, para então despencar rumo à irrelevância e, enfim, o quase esquecimento do público. Interpretado por Ewan McGregor com correntes cuidadosamente calibradas de entusiasmo, volubilidade, arrogância e vulnerabilidade, o designer não é apenas o protagonista e razão de ser da minissérie Halston (Estados Unidos, 2021), já disponível na Netflix. Como em outras minisséries calcadas em personagens reais do megaprodutor Ryan Murphy, a exemplo de O Povo vs. O.J. Simpson e O Assassinato de Gianni Versace, ele é também um avatar para tantas outras pessoas, célebres ou anônimas, que encarnaram ideais não convencionais de sucesso, realização e reinvenção até se descobrirem emboscadas pela realidade das coisas e por si mesmas.

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Tino não era o que faltava a Halston: designer de chapéus que ganhara popularidade meteórica por colocar aquele icônico modelo pillbox na cabeça da primeira-dama Jackie Kennedy no dia da posse de seu marido, em 20 de janeiro de 1961, ele não tardou a perceber que seria preciso expandir sua área de expertise. No fim da década de 60, usar chapéu já tinha virado um hábito antiquado. Futuro, inovação e audácia eram os alvos em que Halston mirava, e nos quais acertou em cheio com uma coleção que transformaria o paradigma da alta moda americana. Cercado de colaboradores como Joe Eula (David Pittu) e o depois cineasta Joel Schumacher (Rory Culkin) e de musas como Liza Minnelli (Krysta Rodriguez) e a modelo Elsa Peretti (interpretada pela ótima Rebecca Dayan, ela se tornaria uma celebradíssima designer de joias), Halston lançou vestidos de cortes minimalistas, em tecidos fluidos de cores e padrões caleidoscópicos, que não só eram de originalidade única como também a materialização de uma nova era — e então vestiu as mulheres comuns com um chemisier simples e chique de ultrasuede que vendeu como pão quente.

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Quanto mais seu nome se valorizava, porém, mais Halston perdia o controle dos negócios e da vida pessoal. Antes abstêmio, passou a consumir cocaína aos quilos. Apaixonou-se por um homem tempestuoso, o venezuelano Victor Hugo (Gian Franco Rodriguez), a quem era impossível apaziguar. Enredou-se em um contrato de cifras astronômicas e jamais cumpriu o volume e diversidade de produção exigidos. Gastou dinheiro como se este nada valesse, e deixou sua marca ser descaracterizada até a insignificância. Por fim, perdeu o próprio nome.

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É um declínio rápido no tempo do mundo, mas lento no tempo íntimo do protagonista — uma derrocada que parece não ter fim e o submerge em amargura. Assim como seu protagonista, Ryan Murphy é um garoto do interior de Indiana que sonhou grande e ousa muito, com acertos e erros formidáveis. Amarrado aos fatos — por mais exuberantes que eles sejam —, ele mostra aqui sua melhor faceta de criador, e também de criatura: a de alguém tão atento à euforia de construir-se quanto ao temor de que a construção seja frágil e sua destruição, iminente.

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Publicado em VEJA de 19 de maio de 2021, edição nº 2738

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