Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Imagem Blog

Isabela Boscov

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Está sendo lançado, saiu faz tempo? É clássico, é curiosidade? Tanto faz: se passa em alguma tela, está valendo comentar. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Conteúdo para assinantes
Continua após publicidade

‘Downton Abbey’: o voyeurismo do filme derivado da série

No longa, são os aristocráticos Crawley que espiam algo inatingível ao receber a visita do rei e da rainha 

Por Isabela Boscov Atualizado em 4 jun 2024, 15h20 - Publicado em 25 out 2019, 07h00

Durante suas seis temporadas no ar, entre 2010 e 2015, Downton Abbey foi mania, vício e tópico constante de conversa. Hábil no teor e no ritmo do melodrama, emoldurada por figurinos e cenários de babar e apoiada no fascínio pela pompa do Império Britânico (que resiste até hoje, um século após ele começar a desmoronar, para quem é súdito da Coroa e mais ainda para quem não é), a série criada pelo roteirista Julian Fellowes virou programa obrigatório em muitos círculos graças a um lance perspicaz: a vida dos aristocráticos Crawley, ocupantes da espetacular propriedade de Downton Abbey, era a novela que o batalhão de serviçais produzia e colocava em cena, por assim dizer, e então acompanhava com o suspense e a empolgação de quem assiste a um folhetim. Esse era, obviamente, o ponto de vista mais próximo do espectador, já que quase ninguém, hoje, pode imaginar o que é viver como viviam os fictícios Crawley nas primeiras décadas do século passado — nem sequer o conde e a condessa de Carnarvon, cuja família desde 1679 está no comando do castelo de Highclere, a locação da série. Dos jardins centenários aos móveis e tapetes preciosos, Highclere posa tal e qual de Downton Abbey (louças e cristais, pela fragilidade, não são cedidos). Mas os aposentos dos empregados no sótão e as áreas de serviço do porão tiveram de ser construídos em estúdio: haviam todos sido destinados a outros usos, porque há décadas o castelo já não mantém criadagem para preenchê-los.

E aí está a esperteza de Fellowes em Downton Abbey (Inglaterra, 2019), em cartaz no país: no filme derivado da série, também os Grantham provam do gostinho voyeurístico de espiar uma esfera inatingível quando o rei George V e a rainha Mary se hospedam em seu castelo. A distância entre patrões e empregados, assim, momentaneamente parece abreviada, e os personagens de “escada acima” e os de “escada abaixo” trepidam juntos — à exceção, claro, de Lady Violet Grantham, que nunca trepida e que, na interpretação da veterana Maggie Smith, continua a roubar a cena sem falha.

Em algum lugar do filme há um subtexto que comenta, de leve, outra novela, a da saída do Reino Unido da União Europeia — algo na linha de que os ingleses têm lá suas excentricidades e seus apegos, mas vêm superando crises há bem um milênio, e não vai ser agora (1927 no filme, 2019 nas entrelinhas) que irão sucumbir. Lady Mary (Michelle Dockery), a herdeira empreendedora, confere as contas da propriedade, olha os preparativos para a visita real e se pergunta se ainda faz sentido viver assim, fingindo que este mundo em vias de desaparecer é eterno — e conclui que sim, claro, ou aí é que este velho mundo sumiria de vez. Nem seria preciso dar esse aceno ao tumulto que corre, pois Downton Abbey foi sempre uma celebração do peculiar jeito britânico de ser e fazer.

Nunca faltaram a Fellowes, porém, empatia e conhecimento para tornar vívidas as aventuras e desventuras do andar de baixo. Aqui, os empregados põem suas diferenças — políticas, sobretudo — de lado para se unir contra um invasor: o exército de criados esnobes e prepotentes que a família real despacha antecipadamente. No conjunto, o filme não é nem menos nem mais do que um dos episódios esticados de Natal que fechavam cada temporada da série: um punhado de subtramas surge atadas ao fio principal e se resolve ali mesmo; velhos costumes são revisados e aprovados; e a harmonia por fim vigora — na tela, ao menos.

Publicado em VEJA de 30 de outubro de 2019, edição nº 2658

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.