
O ator-revelação da temporada.
É tão emotiva e apaixonante a atuação do jovem Rod Paradot neste drama francês que, sozinha, ela é capaz de tornar irrelevantes os excessos da direção de Emmanuelle Bercot.
Paradot, que tinha 18 anos à época da filmagem e nenhuma experiência profissional, faz Malony, um garoto de 16 anos que há uma década é freguês das varas de família da cidade de Dunquerque: filho de Séverine (Sara Forestier), ela própria uma coitada – é drogada, mentalmente desorganizada e tão ignorante que interpreta todas as tentativas de auxílio da juíza Florence (Catherine Deneuve) como interferência –, Malony é agressivo, descontrolado e nem chegou a ser alfabetizado. Já nasceu destinado à delinquência, e vem cumprindo essa profecia com passos tragicamente previsíveis – mas mantém um senso de lealdade indivisível para com a mãe e o irmão menor. A certa altura, não há mais escola em Dunquerque que aceite Malony, e ele inicia então seu périplo pelo “sistema”: um abrigo rural para adolescentes desajustados, um reformatório juvenil, a prisão, outro reformatório.
Um dos aspectos mais comoventes do filme está aí, na quantidade de profissionais preparados, pacientes, dedicados que Malony encontra nessas instituições (não que ele consiga reconhecê-los como tal), a exemplo do educador Yann (Benoît Magimel, magistral), que tem ele próprio um passado semelhante. De Cabeça Erguida, porém, não é aquele filme americano em que todos os ponteiros se acertam no final: é o clássico drama social francês, na linha de Os Incompreendidos de Truffaut, e não é certeza que se possa de fato arrancar Malony do caminho que ele vem percorrendo. São tantas as suas quase-salvações e recaídas, tão tirânica a sua raiva, tão persistente a sua inarticulação, que mesmo uma simples mudança de marcha – de dois passos para a frente e um para trás, em vez dos habituais dois passos para trás e um para a frente – já seria um êxito.
Com um desempenho assim potente no centro de seu filme, Emmanuelle Bercot bem que poderia ter dispensado os esforços adicionais para manipular o espectador. Por exemplo, com a improvável reviravolta que ocorre perto do final ou com o uso, na trilha, do Trio para Piano nº 2 Opus 100 de Schubert – uma dessas músicas que causam tristeza fisiológica e que os diretores usam sempre que querem deixar a plateia arrasada. Malony, tão furioso e tão vulnerável, já faz isso sozinho.
Trailer
DE CABEÇA ERGUIDA(La Tête Haute)França, 2015Direção: Emmanuelle BercotCom Rod Paradot, Catherine Deneuve, Benoît Magimel, Sara Forestier, Diane Rouxel, Catherine SaléeDistribuição: Mares Filmes