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Isabela Boscov

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De bronca com o Oscar?

Por Isabela Boscov 26 jan 2016, 18h29 • Atualizado em 30 jul 2020, 23h39
  • Entenda por que todo ano a Academia deixa alguém enfezado

    Uma parte acusa o Oscar de racismo, por não haver nenhum negro entre os vinte indicados nas categorias de ator e atriz. Outra parte se queixa de Jennifer Lawrence estar lá de novo – pela quarta vez, aos 25 anos de idade (e tem gente que ainda não desculpou Gwyneth Paltrow por ter ganhado de Fernanda Montenegro em 1999). Outros reclamam sempre, todos os anos, de marmelada neste ou naquele prêmio. E muitos ficam indignados com a falta de critério nas indicações.

    Afinal, os queixosos têm razão? A Academia faz um mau trabalho?

    Sim e não, não e sim. Para entender por que todo ano ela deixa alguém irritado, é preciso entender primeiro como a coisa funciona.


    1: Os membros da Academia não são críticos de cinema.

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    Os cerca de 6 mil votantes da Academia são produtores, diretores, atores, roteiristas, cinegrafistas, montadores etc. É um pessoal bem variado – e com idade, gostos e cultura cinematográfica bem variados também. Lentamente, esse corpo de votantes se renova: alguns vão ficando idosos e partindo, gente jovem vai sendo convidada a integrar a Academia. Mas a média prevalece, e quem espera dela arrojo e ousadia vai se frustrar. De certa forma, a Academia se parece mais com o público de cinema do que com os críticos. Por exemplo: filmes e atores estrangeiros raramente competem nas categorias principais porque, igualzinho à plateia americana, os membros da Academia morrem de preguiça de ver filme com legendas.

    2: Os membros da Academia não são críticos de cinema, mas…

    …nas categorias mais específicas dá para perceber como essa renovação tem surtido efeito. Um exemplo? O Menino e o Mundo, a animação do paulistano Alê Abreu, foi vista por um público bem pequeno aqui no Brasil. Mas foi notada, assistida e reconhecida pelo povo da Academia que acompanha animação. De certa forma, eles é que se deram ao trabalho de achar essa agulha no palheiro formado por gigantes como Pixar, Disney e DreamWorks, e que “revelaram” a existência do filme ao público nacional.

    3: Votante do Oscar também é gente

    O que quer dizer que são pessoas influenciáveis como todas as outras – e que leem as mesmas notícias, entram nas mesmas redes sociais, e se encantam com fulano ou pegam birra de sicrano como qualquer um. Todo mundo adora Jennifer Lawrence? Eles adoram também; se no ano que vem essa entidade que é a opinião pública decidir que é hora de baixar a crista de J-Law, não dá outra: ela vai para a geladeira do Oscar. Por isso, também, os estúdios fazem o possível para lançar seus “filmes de Oscar” pertinho da hora de a Academia votar as indicações: se um filme ainda está na boca do povo, as chances dele ganhar vaga aumentam muito.

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    4: Mas a Academia não tem seus “queridinhos”?

    Tem, lógico. Qualquer um que tenha feito muita bobagem (na vida, na carreira ou em ambas) e dê a volta por cima é candidato preferencial a Oscar: a Academia é formada por gente da indústria, que vive com medo de cair em desgraça e portanto quer sempre acreditar que as segundas chances existem. Este ano, o caso em questão é a sumidíssima Jennifer Jason Leigh, que Quentin Tarantino ressuscitou em Os Oito Odiados. Enfeiar-se para um papel também é tiro e queda, porque trata-se de um pessoal que vive muito da imagem – e, portanto, acha que não parecer lindo é um ato épico de coragem.

    5: Quem vai emplacar sempre com a Academia?

    Monstros sagrados como Meryl Streep, Daniel Day-Lewis, Helen Mirren ou Christian Bale vão continuar sendo indicados, sempre, porque a qualidade quase infalível do trabalho deles meio que os coloca acima das acusações de favoritismo. Às vezes, claro, o pessoal entra no automático e indica um deles em ano que não era para indicar. Força do hábito.

    6: Por que tem gente que ganha o Oscar certo na hora errada?

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    Porque às vezes os votantes da Academia se dão conta de que estão há anos prometendo o doce para um sujeito, e então dando o doce para outro qualquer na hora “H”. Martin Scorsese mereceu o Oscar em uma dezena de ocasiões, mas foi ganhá-lo por Os Infiltrados, um filme não tão digno do prêmio: já estava pegando mal esnobar tantas vezes seguidas um dos maiores cineastas americanos. Leonardo DiCaprio merecia mais o Oscar por O Lobo de Wall Street do que por O Regresso – mas é por O Regresso que ele provavelmente irá ganhar, porque ele é uma força da indústria e não dá mais para deixá-lo sempre de mãos abanando.

    7: E o barulho deste ano por causa da falta de indicados negros?

    De novo: os votantes da Academia estão tão sujeitos ao assunto do momento quanto qualquer outra pessoa. Em 2013, 12 Anos de Escravidão monopolizou os comentários na imprensa. A Academia reagiu, em 2014, dando ao filme dez indicações com três vitórias, inclusive na categoria de melhor filme. Ele era o melhor filme do ano? Não – se o critério fosse o mérito indisputável, a estatueta teria ficado com O Lobo de Wall Street ou com Gravidade. Mas a sensação de que era necessário premiar um filme “importante” foi mais forte. Em 2015, o barulho foi outro: só se falou da diferença entre os cachês pagos às mulheres. Ninguém “lembrou” aos votantes de buscar ativamente indicações para intérpretes e realizadores negros – e o páreo ficou 100% branco.

    8: Isso é racismo?

    É mais insensibilidade ou mesmo casualidade do que racismo. Primeiro: é bom lembrar que também não há latinos, asiáticos ou pessoas de qualquer outra procedência entre os indicados – e a porcentagem de latinos entre a população americana é maior que a porcentagem de negros. Mas Spike Lee e Jada Pinkett Smith gritaram primeiro e mais alto, e caracterizaram o quadro de indicados como uma suposta rejeição aos negros no Oscar; sobre a ausência de atores com outras tonalidades de pele não se disse uma palavra.

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    Segundo: a Academia faz parte de algo bem maior que o cinema, que é a indústria de entretenimento – e as premiações que incluem televisão indicaram e premiaram muitas pessoas de cores variadas. Hoje em dia a TV é, sim, muito mais diversificada que o cinema, porque ela abrange muito mais formatos, temas e gêneros. O cinema está entrincheirado entre a pequena produção independente e a superprodução de estúdio; todos os enredos que ficariam entre esses extremos foram parar nas séries de TV.

    9: Mas atores e atrizes de outras cores não foram mesmo injustiçados?

    Fui conferir com atenção a lista de filmes lançados em 2015. Velozes e Furiosos 7 tem gente de todas as cores e jeitos, mas vamos combinar que os méritos do filme não são exatamente dramatúrgicos. Michael Peña é um dos pontos altos de Homem-Formiga, mas só por milagre filmes de super-herói rendem indicações. Michael B. Jordan se saiu bem em Creed, mas não tanto que o qualifique como um dos cinco melhores do ano. Will Smith recebeu elogios por seu desempenho em Um Homem Entre Gigantes, mas o filme em si foi muito criticado e não agradou – o que quase sempre inviabiliza a indicação do protagonista. E as regras da Academia inviabilizaram qualquer indicação para Beasts of No Nation. Eu, pessoalmente, senti falta de indicações para Samuel L. Jackson por Os Oito Odiados e para Benicio Del Toro por Sicario – mas quem já viu Juventude, do italiano Paolo Sorrentino (eu ainda não vi) também não se conforma por Michael Caine ter sido esquecido.

    10: Vamos insistir: Straight Outta Compton não deveria estar entre os indicados a melhor filme?

    Na minha opinião, sim, deveria – a indicação só para o Oscar de roteiro tem cara de lembrança de última hora. Mas, em uma entrevista no programa de Graham Norton, o rapper Ice Cube (que no filme é interpretado por seu filho, O’Shea Jackson Jr.) foi de elegância exemplar: disse que, com tanto reconhecimento do público e da crítica que o filme recebeu, reclamar de uma premiação em particular seria como choramingar que o bolo poderia ter mais cobertura. Straight Outta Compton rompeu barreiras e atraiu muita plateia branca também – mas talvez seja irreal esperar que uma plateia branca, rica e de meia-idade como a dos votantes da Academia fosse ver um filme sobre o nascimento do N.W.A. e do gangsta rap em Los Angeles….

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    11: E essa declaração de Charlotte Rampling, de que a gritaria era “racismo contra brancos”?

    Charlotte se expressou muito mal, e no dia seguinte tentou explicar que estava querendo dizer que é uma possibilidade que as indicações façam, sim, jus ao mérito. Mas a frase foi tremendamente infeliz. E é muito provável que, na hora da eleição final, os votantes da Academia se lembrem dela. Ou seja, as chances de Brie Larson, de O Quarto de Jack, aumentaram automaticamente na categoria de melhor atriz.

    12: Ganhar o Oscar pode atrapalhar?

    Pode, e muito. Veja-se o caso do Oscar de melhor atriz para Halle Berry, ou o de melhor atriz coadjuvante para Marisa Tomei: se a percepção geral é de que o prêmio foi um acidente de percurso e o ator não tem estofo para manter esse nível daí por diante, a estatueta vira uma cruz para carregar – pode inclusive fazer o ator ou a atriz voltar para a estaca zero da carreira. E dar Oscar para criança é uma crueldade: imagine ter um auge como esse na carreira aos 8 anos de idade – não há como não sentir que tudo, daí para frente, será ladeira abaixo. Muito correto, portanto, não terem indicado o ótimo Jacob Tremblay, de O Quarto de Jack. Ninguém merece um peso desses nos ombros desde tão cedo.

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