
O Guilherme Gouveia falou das Bond Girls, eu falo da razão pela qual elas existem: os seis atores que já encarnaram 007.
Sean Connery
(1962 a 1971, seis filmes – mais o “clandestino” 007 – Nunca Mais Outra Vez, de 1983)
Não é por acaso que a série fez o sucesso que fez e dura até hoje: o truque é começar bem. Este 007 se vestia com alfaiataria sangue azul mas tinha sangue vermelho, e juntava o que havia de melhor em vários mundos – era suave como conhaque, mas o mais cortante de todos na hora de dizer os célebres “one-liners”; não perdia a fleuma, mas tinha sempre um quê de safadeza; brigava muito bem, e seduzia melhor ainda. Quando Tippi Hedren teve de rejeitar Connery em Marnie – Confissões de uma Ladra, de 1964, ela reclamou com o diretor, Alfred Hitchcock: “Como assim? Você olhou bem para ele?”.
Nota: 10
George Lazenby
(1969, um filme)
007 – A Serviço Secreto de Sua Majestade é um bom filme – apesar do australiano Lazenby, que tinha o charme de um pano de prato e o jogo de cintura de uma porta. Não era exatamente culpa dele: o produtor da série, Albert “Cubby” Broccoli, botou na cabeça que o ex-soldado, mecânico e modelo Lazenby era o melhor candidato a substituir Sean Connery, embora ele só tivesse atuado em comerciais até então. Quando o filme estreou, choveram pauladas e zombarias. Até hoje, quando Lazenby fala de Bond, é com ressentimento.
Nota: 1
Roger Moore
(1973 a 1985, sete filmes)
Moore foi quem mais tempo ficou no papel – tempo demais – e por isso, para uma certa geração, ele é o verdadeiro Bond. Não há como brigar com os afetos do público mas, objetivamente, pode-se argumentar que Moore estragou Bond: era pândego demais, leve a ponto de ser insubstancial, nitidamente descomprometido com a ação e a pancadaria, excessivamente interessado nas Bond Girls. Moore até começou bem. Mas, quanto mais os roteiristas escreviam para se adequar ao seu temperamento, mais a série escorregava para a paródia. A coisa toda quase terminou em piada.
Nota: 5
Timothy Dalton
(1987 a 1989, dois filmes)
Nem tanto ao mar, nem tanto à terra: se Roger Moore era ligeiro demais, Dalton, por sua vez, tornou Bond pesado, deprimido, melancólico, sem graça e sem senso de humor. Foi tamanho o banho de água gelada que a série quase não sobreviveu à sua encarnação do personagem – passaram-se seis anos até um novo 007 ser lançado. Também Dalton, que até viver o agente secreto era um respeitado ator de teatro, demorou a recuperar-se. Na verdade, só desde o ano passado, com a série Penny Dreadful, é que o público voltou a olhar para ele com interesse.
Nota: 3
Pierce Brosnan
(1995 a 2002, quatro filmes)
O irlandês Brosnan foi um 007 perfeitamente decente – muito bom, até – e tem o imenso mérito de ter devolvido à série muitos dos seus elementos essenciais (entre os quais o sucesso). Em seus quatro filmes, ele pegou os fundamentos estabelecidos por Sean Connery – sedução, competência, agilidade – e acrescentou a eles um leve toque do jeito gaiato de Roger Moore. Sua contribuição individual ao personagem é um quê de vulgaridade que, surpreendentemente, caiu bem a Bond. Foi forte também na ação, o que ajudou a modernizar a marca.
Nota: 8
Daniel Craig
(desde 2006, quatro filmes)
Quando terminou a sessão de Cassino Royale, o filme de estreia de Craig, já tinha um monte de gente (eu, inclusive) pensando algo inconfessável: não é que ele é ainda melhor que Sean Connery?????? Hoje não é mais preciso falar isso às escondidas: Craig é o Bond mais perigoso, explosivo, ágil e fulminante de todos. É de longe o mais atlético, e Craig é o ator que mais se arrisca no papel. Que outro Bond toparia que a cena mais erótica de Operação Skyfall, por exemplo, fosse não com uma Bond Girl mas com o vilão Silva de Javier Bardem? Junto com o diretor Sam Mendes, nos dois últimos filmes, Craig acabou com a gordura do personagem, jogou fora todo o excesso de bagagem e tornou Bond decididamente feroz. Qualquer outro ator que se siga a ele vai ter muito trabalho para deixar sua marca – e mais ainda para que ela seja percebida como positiva.
Nota: 10, com louvor
Bonus
David Niven
Casino Royale (1967)