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Robert Pattinson: que ator é esse??

Com uma atuação sensacional em “Bom Comportamento”, o ex-vampiro põe a pá de cal na sua fase “Crepúsculo”

Por Isabela Boscov 23 out 2017, 19h25

No primeiro filme, percebia-se mesmo um certo encanto: Robert Pattinson, então com 22 anos, e Kristen Stewart, com 18, estavam meio enamorados um do outro e da ideia de estar no centro de um fenômeno como Crepúsculo. Mas, nos filmes seguintes, era visível que a coisa estava azedando. Pattinson parecia cada vez mais apático, e Kristen, cada vez mais contrariada – às vezes, até furiosa. Um jovem ator ganha uma chance como essa e assume-se que não poderia haver sorte maior: vai reclamar do quê? Pois uma pessoa tão nova tem o direito de se assustar com a superexposição massacrante e a possessividade dos fãs, ora. Ou com o compromisso a perder de vista com um material pelo qual não se tem mais gosto. Ou ainda de ter o medo justificado de, tão no início da carreira, ter ficado marcado para sempre por um papel, e de nunca mais conseguir escapar desse ciclo. Também não há como negar as vantagens: cacife e dinheiro – que, a depender da vontade, se traduzem em liberdade para escolher e arriscar. Pois, desde que deram adeus à saga Crepúsculo (segundo ambos, sem nada de saudade), Kristen e Robert têm trabalhado duro para sair da camisa-de-força em que a série os prendeu durante cinco anos, de 2008 a 2012. Para nenhum dos dois tem sido exatamente fácil. Entre os fãs de Crepúsculo, Kristen ficou com fama de ingrata e mal-humorada; entre os não-fãs, a cada vez que ela sobressai num filme, as pessoas se espantam, como se fosse mero acidente – e, no entanto, ela está ótima em Na Estrada, Marcados pela Guerra e Acima das Nuvens, e dá um banho em todo mundo em Para Sempre Alice (inclusive em Julianne Moore, que faz a personagem-título). Em Personal Shopper, seu segundo trabalho com o francês Olivier Assayas, ela está positivamente maravilhosa. Para Pattinson, que desde o início se mostrara um ator mais fraco que sua companheira de cena, tem sido mais difícil ainda. Mas como ele tem se dedicado – e como está sensacional em Bom Comportamento, que está agora em cartaz nos cinemas.

Bom Comportamento
(Paris Filmes/Divulgação)

Em Bom Comportamento, Pattinson é Connie Nikas, ladrão pé-de-chinelo que, ao sair da prisão, decide refazer o relacionamento com o irmão Nick (Bennie Safdie), que tem alguma deficiência mental e com quem ele divide um passado miserável nas mãos da avó. No entender de Connie, reconectar-se com Nick significa arrancá-lo do tratamento psiquiátrico (do qual Nick necessita desesperadamente), botar uma máscara de borracha nele e levá-lo consigo num assalto a banco no Queens, em Nova York. Connie é impulsivo; é bom de reação, péssimo de planejamento. O assalto, claro, dá errado, e Nick é mandado para a detenção de Rikers Island enquanto não chega sua audiência perante o juiz. Connie acha – não sem razão – que, com suas dificuldades graves de compreensão e comunicação, Nick não vai sobreviver nem a uma passagem muito breve por Rikers. Durante toda essa noite, então, ele vai bolar um plano atrás do outro para tentar levantar a fiança, ou para tirá-lo de lá por algum outro meio. É uma espiral desesperadora de decisões ruins tumultuadas por imprevistos, e então mais decisões ruins e mais imprevistos. Bennie Safdie, que faz Nick, é co-montador e codiretor do filme – em parceria com seu irmão Josh Safdie, também corroteirista. Os dois filmam de maneira claustrofóbica, quase sufocante: closes fechadíssimos que reproduzem no espectador a desorientação e a urgência de Connie, muitas zonas de sombra, uma trilha abstrata que é uma perturbação em si. Bennie e Josh Safdie não apenas sabem filmar, como também sabem do que estão falando: de família desfeita, dos becos sem saída da vida no Queens, das burradas da marginalidade. E não só informaram Pattinson muito bem sobre que tipo de pessoa Connie é, como encontraram nele um ator disposto a qualquer coisa.

Bom Comportamento
(Paris Filmes/Divulgação)

Como se diz no teatro, Pattinson deixa tudo ali no tablado. Joga-se inteiro em Connie, e há algo de muito autêntico no desespero dele – aquele desespero de quem não tem nada a perder. É algo que Pattinson vem ensaiando com dedicação admirável nos últimos anos, em seus dois filmes com David Cronenberg (Cosmópolis e Mapa para as Estrelas), em Rainha do Deserto, de Werner Herzog, e em seus dois melhores trabalhos até Bom Comportamento – ambos como coadjuvante, no australiano The Rover e em Z – A Cidade Perdida, um filme morno no qual o trabalho dele é, de longe, o ponto mais alto. Mas essa intensidade e essa garra que ele mostra em Bom Comportamento, essas surpreendem mesmo. Surpreenderiam em qualquer ator, mas surpreendem em dobro por virem de Pattinson, cuja suavidade, em Crepúsculo, beirava a irresolução – e para quem tantas vezes se previu uma lenta queda no esquecimento à medida que a saga dos vampiros fosse sendo também ela esquecida. Pattinson, assim como Kristen, decidiu que não estava gostando desse desfecho escrito para ele, e resolveu mudar tudo. É um novo ator. E muito melhor e mais interessante do que jamais havia sido antes.

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Trailer

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BOM COMPORTAMENTO
(Good Time)
Estados Unidos, 2017
Direção: Bennie e Josh Safdie
Com Robert Pattinson, Benny Safdie, Taliah Lenice Webster, Jennifer Jason Leigh, Barkhad Abdi
Distribuição: Paris Filmes

 

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