Digital Completo: Assine a partir de R$ 9,90
Imagem Blog

Isabela Boscov

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Está sendo lançado, saiu faz tempo? É clássico, é curiosidade? Tanto faz: se passa em alguma tela, está valendo comentar. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.

Blue Jasmine

Por Isabela Boscov Atualizado em 11 jan 2017, 15h59 - Publicado em 20 nov 2013, 17h01

O inferno são todos

Blue Jasmine tem uma grande personagem – e, não fosse a veia tacanha de Woody Allen, poderia ser um grande filme

Nascida Jeanette, a protagonista de Blue Jasmine, o novo filme de Woody Allen, se reinventou como Jasmine, mulher de investidor bilionário de Manhattan, e viveu à grande: joias, mansões, festas, filantropia. Mas agora Jasmine (Cate Blanchett) está parada na porta de um predinho numa rua feia de São Francisco e, enquanto o taxista entrega suas malas Louis Vuitton, ela avalia o cenário com olhar atarantado: não há nada aqui que ela reconheça. E nada que ela queira conhecer. Juntamente com um casaquinho Chanel e umas pérolas, as malas são o que lhe restou da fortuna incalculável, que o governo levou quando seu marido, Hal (Alec Bald­win, todo charme escorregadio), foi preso por fraude financeira. Isso e Ginger (Sally Hawkins), a irmã pobre, caixa de supermercado, que vai abrigar Jasmine em seu apartamento modesto. Como a verídica Ruth Madoff, então, a mulher do megainvestidor Bernie Madoff – aquele que cumpre pena de 150 anos por crimes idênticos ao do fictício Hal –, Jasmine despencou das mais rarefeitas alturas para o mais profundo escárnio. E, como Blanche Dubois, a iludida, perdida e dissociativa personagem de Um Bonde Chamado Desejo, Jasmine dependerá agora da bondade de estranhos bem menos patrícios do que ela (sim, estranhos: Jasmine nunca deu a mínima para Ginger, que, como ela, foi adotada, mas resultou morena e baixinha, em vez de loira e estatuesca).

bluejasmine_mat3

Que ponto de partida sensacional para um filme decantar essas duas figuras, Ruth e Blanche, em uma só personagem. E que belo domínio da estrutura dramática tem o diretor, justapondo situações do presente de Jasmine a cenas do seu passado. Pena que quem conta esta história não é o Woody Allen ao mesmo tempo implacável e compassivo do magnífico Match Point – outro filme seu sobre os perigos espirituais do privilégio e do apego material –, mas o Allen de veia mesquinha e venenosa de Celebridades e Dirigindo no Escuro. Jasmine não aceita, e sim exige a bondade alheia, e daí a toma de forma desgraciosa, e a engole junto com quantidades prodigiosas de tranquilizantes e vodca: que valor tem a hospedagem da irmã, se o apartamento dela é tão feio? Que consolo há em ser cantada pelo amigo do cunhado, se ele é baixinho e rude? Que mérito há no emprego num consultório dentário, se ele está tão abaixo dela? Jasmine nunca trabalhou um dia na vida e nunca mostrou talento para nada (só para olhar para o outro lado quando o marido cometia fraude ou adultério; e é isso que lhe dói agora, que quando ela tenta desviar os olhos das coisas que julga feias não encontra algo brilhante para distraí-la, como antes). Mas, embora esteja determinado a dar a Jasmine uma punição exemplar, Allen só finge que a deplora. Na verdade, está com ela e não abre: as pessoas são mesmo um pavor, São Francisco não se compara mesmo a Nova York e não ter fortuna é mesmo uma droga.

Continua após a publicidade

bluejasmine_mat2

Prova de que, para este Allen, ninguém vale nada? Ginger, a bondosa, perdoou a irmã por tê-la levado a perder todo o seu dinheiro. Mas, aos poucos, a atriz inglesa Sally Hawkins vai revelando as verdadeiras cores de sua personagem: Ginger raciocina igualzinho a Jasmine em tudo – apenas as oportunidades que a vida lhe oferece é que são menos vistosas, e por isso obrigam-na a manter os pés plantados no chão. O paralelo, aliás, pode ser estendido às interpretações. A de Cate Blanchett se pretende maravilhosa, mas é coisinha pouca menos narcisista que sua protagonista. A de Sally é só na superfície simples e ligeira. Na verdade, demonstra uma compreensão aguda. Inclusive do fato de que, enquanto vai fazendo o estudo psicológico de sua personagem, é a si mesmo que o diretor mais expõe.

Isabela Boscov
Continua após a publicidade

Publicado originalmente na revista VEJA no dia 20/11/2013
Republicado sob autorização de Abril Comunicações S.A
© Abril Comunicações S.A., 2013

Continua após a publicidade

BLUE JASMINE
(Estados Unidos, 2013)
Direção: Woody Allen
Com Cate Blanchett, Sally Hawkins, Alec Baldwin, Bobby Cannavale, Max Casella, Peter Sarsgaard, Louis C.K., Michael Stuhlbarg. Alden Ehrenreich

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 9,90/mês*
ABRIL DAY

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai a partir de R$ 7,48)
A partir de 29,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a R$ 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.