Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

Isabela Boscov

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Está sendo lançado, saiu faz tempo? É clássico, é curiosidade? Tanto faz: se passa em alguma tela, está valendo comentar. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.
Continua após publicidade

“Aniquilação”: ficção com Natalie Portman “viaja” no rumo errado

Produtor não gostou do trabalho de Alex Garland, diretor de “Ex Machina”, e filme foi direto para o streaming

Por Isabela Boscov Atualizado em 14 mar 2018, 17h35 - Publicado em 14 mar 2018, 17h29

Há cerca de trinta anos, alguma coisa se instalou num trecho do litoral americano e começou a mudá-lo de forma nem sempre visível, mas ainda assim drástica. Dezenas de expedições foram mandadas para além da barreira translúcida que isola (ou contém?) a chamada Área X. Elas passam por coisas horríveis (que coisas? difícil dizer), e algumas voltam loucas, outras não voltam. Da última vez, os integrantes retornaram todos calmos, passivos – como se fossem clones esvaziados – e morrendo de câncer. Agora, a mulher de um desses participantes, a Bióloga, está na Área X com uma nova expedição, formada por mais quatro mulheres, entre as quais a Psicóloga, e sente que está mudando por dentro desde que entrou num túnel que parece ser um dos epicentros da transformação do lugar. Aniquilação, o primeiro livro de uma trilogia do escritor americano Jeff VanderMeer, já é em si altamente viajandão – tão abstrato que exige um investimento decisivo por parte do leitor para, junto com a protagonista, ir reunindo os fragmentos de informação. Mas Aniquilação, a que se seguem Autoridade e Aceitação (todos publicados aqui pela editora Intrínseca) é também uma especulação provocativa e instigante sobre o temor da assimilação biológica, da mutação e da perda de controle sobre a nossa própria genética e a do ambiente. Com frequência, aliás, a trilogia deságua no terror. Em qualquer caso, seria uma pedreira vertê-lo para o cinema. Mas Alex Garland, o diretor do também ele muito provocativo e instigante Ex Machina, não faz nenhum favor a Aniquilação, disponível na Netflix, com a sua pegada: consta que o inglês Garland decidiu não reler o livro para fazer o roteiro, e preferiu escrevê-lo como se fosse uma sensação do livro – seja lá o que isso quer dizer. Fez impressionismo em cima do impressionismo. E perdeu-se quase por completo.

Aniquilação
(Netflix/Divulgação)

A migração do papel para a imagem sempre exige um sem-número de adaptações, e algumas das que Garland fez são perfeitamente compreensíveis: deixar a trama mais linear, reduzir o tempo de história da Área X de trinta para três anos, simplificar a andança da expedição pelo lugar e as coisas que ela encontra. Reluto bastante em aceitar que ele tenha dado nome aos personagens: no livro, eles não os usam porque a Área X absorve, digere e regurgita todo tipo de informação; quanto menos ela souber sobre quem caminha nela, melhor. E não compreendo por que, da fantasia de VanderMeer, ele tenha resolvido usar apenas alguns elementos para construir sua própria fantasia, com muito menos êxito e muito menos rumo do que o autor. Garland acertou muito em Ex Machina, mas aqui erra na mesma proporção. A direção de atores, desta vez, é um desastre. Natalie Portman não tem personalidade reconhecível como a bióloga. Jenniffer Jason Leigh, como a psicóloga, é um amontoado de tiques e azedume. Tessa Thompson, que foi a ótima Valquíria de Thor: Ragnarok, aqui parece a aluna tímida do colégio, e Oscar Isaac, Gina Rodriguez (Jane, a Virgem) e Tuva Novotny (Nobel) nem conseguem causar alguma impressão. O visual é interessante desde que não olhado com muita atenção – caso em que os efeitos revelam todas as suas deficiências. E os diálogos são péssimos (eles mal existem no livro e aí, sim, a inventividade de Garland teria vindo muito a calhar). E nunca, em momento nenhum, Garland consegue transferir para a tela aquela sensação de mal-estar e de horror que VanderMeer evoca no livro, e que o próprio Garland conjurou de maneira sensacional no seu roteiro de Extermínio.

Aniquilação
(Netflix/Divulgação)

O saldo da abordagem sei-lá-mil-coisas de Alex Garland foi uma tremenda briga entre os produtores. David Ellison, herdeiro do Larry Ellison da Oracle e um dos financiadores junto ao estúdio Paramount, detestou o resultado e exigiu mudanças. Já o produtor Scott Rudin tomou o partido de Garland e autorizou a versão do diretor. Por si só, isso não revela muita coisa: David Ellison já produziu tanta coisa bacana (Além da Escuridão: Star Trek, os dois últimos Missão: Impossível, Guerra Mundial Z) quanto coisas péssimas (Baywatch, Tempestade: Planeta em Fúria). Scott Rudin tem um currículo muito mais ilustre, com títulos como Sangue Negro, Onde os Fracos Não Têm Vez, A Rainha, A Rede Social – a lista cinco estrelas dele vai longe. Mas, no caso de Aniquilação, me parece que Ellison é que estava com a razão (pelo menos em não gostar; se as sugestões dele resolveriam algo ou não é impossível saber). No racha, optou-se por abrir Aniquilação somente em algumas salas dos Estados Unidos e da China, e distribuí-lo diretamente na Netflix no restante do mundo. Há um mês, aconteceu a mesma coisa – ou até pior – com O Paradoxo Cloverfield: também produzido pela Paramount, em conjunto com J.J. Abrams, o filme desagradou de tal maneira ao estúdio que nem chegou a ser distribuído em alguns cinemas. Foi direto para o streaming no mundo todo. Em casa, com a assinatura mensal já paga, certos pecados ficam bem mais fáceis de perdoar do que quando se tira do bolso o dinheiro do ingresso.

Continua após a publicidade

Trailer

Continua após a publicidade
ANIQUILAÇÃO
(Annihilation)
Estados Unidos, 2018
Direção: Alex Garland
Com Natalie Portman, Jennifer Jason Leigh, Oscar Isaac, Gina Rodriguez, Tessa Thompson, Benedict Wong, Tuva Novotny

 

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.