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“A Maldição da Casa Winchester”: dois sustinhos e olhe lá

Baseado no caso real de uma viúva que achava seu dinheiro amaldiçoado, terror com Helen Mirren enterra uma boa história

Por Isabela Boscov 1 mar 2018, 18h51

Entre 1886 e sua morte, em 1922, Sarah Lockwood Winchester manteve três turnos de dezesseis carpinteiros e pedreiros trabalhando em sua casa em San Jose, na Califórnia, durante 24 horas por dias, todos os dias da semana, todas as semanas do ano. Estima-se que, na ocasião do terremoto que arrasou a região de São Francisco em 1906, a mansão de Sarah contasse 200 cômodos, 10 mil janelas, 2 mil portas e alçapões, mais de quarenta lareiras e um número igual de escadarias. No total, Sarah construiu e desmanchou mais de 500 cômodos. Nada na casa – que começara como uma agradável sede rural de oito cômodos e hoje está preservada como museu, do jeito que andava na sua última “encarnação” – faz sentido. Escadas terminam no teto, portas dão para paredes, varandas abrem para dentro, e por aí vai. Sarah ordenou os trabalhos sob uma obsessão. Seu sogro fora o criador da Winchester Company, que difundiu o rifle de repetição e vendeu milhões de unidades dele. O Winchester foi uma das armas essenciais na expansão para o Oeste americano; como não precisava ser recarregado após cada disparo, era ágil e rápido, além de preciso. Foi largamente usado por civis e militares, e é possível que, até o advento do fuzil AK-47, nenhuma arma, sozinha, tenha estado ligada a tantas mortes. Sarah perdeu o sogro em 1880, o marido um ano depois e, logo em seguida, a filha recém-nascida. É compreensível que começasse a atribuir suas tragédias à fortuna reunida a custa do rifle; bem mais estranha é a razão que a levou a construir e demolir, e construir e demolir, num ciclo ininterrupto: segundo Sarah, os espíritos dos mortos pelo Winchester pediam pelos cômodos.

A Maldição da Casa Winchester
(Paris Filmes/Divulgação)

Cada um é cada um, mas eu acho esse limiar entre loucura e sanidade de Sarah bem mais assustador que qualquer fantasma que a computação gráfica possa produzir. Assim, assisti ao terror A Maldição da Casa Winchester, que dá umas floreadas na história de Sarah, e tudo que consegui foi tomar uns dois ou três sustos fisiológicos (aqueles que não têm nada a ver com medo; se alguém tocasse uma buzina no seu ouvido daria no mesmo). Lamentei que um bom ator como Jason Clarke e uma tremenda atriz como Helen Mirren também tenham aluguel para pagar, e sobretudo pensei que grande oportunidade foi desperdiçada pelos diretores, uns certos irmãos Spierig, australianos que já haviam jogado fora uma boa ideia em 2019 – O Ano da Extinção (Daybreakers), e que assinam ainda filmes ilustres como Canibais e o recente Jogos Mortais: Jigsaw. Nas mãos de algum realizador menos rotineiro, que tivesse a veia do Alejandro Amenábar de Os Outros, ou ainda que soubesse tomar o pulso do pós-terror que tantas boas coisas tem rendido (de Corrente do Mal a Ao Cair da Noite, entre outros), a história de Sarah Winchester poderia ter virado um miniclássico, como esses filmes. Os Spierig, porém, não têm alma – com o perdão do trocadilho. Pegaram um episódio fértil de possibilidades e o deixaram completamente estéril.


Trailer

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A MALDIÇÃO DA CASA WINCHESTER
(Winchester)
Austrália/Estados Unidos, 2018
Direção: Michael e Peter Spierig
Com Helen Mirren, Jason Clarke, Sarah Snooke, Eamon Farren
Distribuição: Paris
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