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Isabela Boscov

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A Luz Entre Oceanos

Um daqueles casos em que sofrer é um prazer

Por Isabela Boscov Atualizado em 13 jan 2017, 03h45 - Publicado em 1 nov 2016, 20h36

O diretor Derek Cianfrance adora pegar pessoas bonitas e fazê-las sofrer – mas sofrer muito. Cianfrance partiu o coração de Ryan Gosling e Michelle Williams em mil pedaços em Namorados para Sempre, de 2010, um filme belíssimo sobre os últimos (e terríveis) dias de uma paixão. Fez Gosling sofrer de novo, em companhia de Eva Mendes e Bradley Cooper, em O Lugar Onde Tudo Termina, de 2012. E agora é a vez de Michael Fassbender e Alicia Vikander se despedaçarem – e também a vez do espectador: os dois trabalhos anteriores foram feitos em regime independente e distribuídos em circuito limitado, mas A Luz Entre Oceanos é uma produção maior e ganha, a partir de hoje, um lançamento um pouco mais amplo. Só para já ir avisando, porém, os filmes de Cianfrance ficam vários degraus acima daquelas adaptações de Nicholas Sparks que ano sim, ano não chegam aos cinemas (exceção feita a Diário de uma Paixão, que eu adoro e que por coincidência tem o sofredor-mor deste parágrafo, Ryan Gosling, em começo de carreira). O negócio de Cianfrance não é perfumaria; é melodrama, sim, mas sincero e feito com um bocado mais de inteligência e classe do que os livros de Sparks permitiriam.

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Fassbender aqui é Tom Sherbourne, australiano e ex-combatente da I Guerra Mundial. Tom voltou assombrado do front; não consegue superar a lembrança das trincheiras e da carnificina, e procura o lugar mais isolado em que poderia viver – a ilha de Janus, um pedaço de rocha extraviado entre as correntes do mar, onde ele será o faroleiro. Na última parada antes de rumar para Janus, numa pequena cidade costeira, Tom conhece a jovem Isabel, também ela profundamente tocada pela guerra. Todos os irmãos de Isabel morreram em combate, e ela sente que se tornou ao mesmo tempo preciosa demais e insuficiente para seus pais. Não é só a culpa pela sobrevivência, no entanto, que os aproxima: na interpretação radiante de Alicia Vikander, Isabel é ela própria algo inesperadamente luminoso na sombra que se tornou a vida de Tom. Ele resiste (um pouco), ela insiste (bastante); em questão de meses, eles estão casados e morando em Janus, ambos florescendo.

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Florescendo, sim, porém não frutificando: as gestações de Isabel terminam em sangue e tristeza. A depressão vai se instalando, e começa a minar a felicidade dos dois. Mas, um dia, um barco a remo vem bater na praia. Nele há um homem – morto – e algo mais, que pode ser a resposta à tragédia de Tom e Isabel. Ou, quem sabe, pode ser o início de uma tragédia ainda maior, já que o pacto de segredo que o casal firma entre si é um peso que Tom não é capaz de carregar. Como Janus, o deus romano de duas faces que dá nome à ilha, Tom tem a sina de ver um lado e também o outro de uma questão, e não consegue deixar de enxergar o que está para trás e o que vem pela frente.

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A questão aqui, porém, não é tanto a história. É, muito mais, a maneira como Cianfrance filma: em parceria estreita com o diretor de fotografia Adam Arkapaw (que foi essencial também para a primeira temporada de True Detective), Cianfrance pontua os estados de ânimo de Tom e de Isabel com as infinitas variações do clima, da luz e da água, o que dá ao filme uma qualidade de suspensão – de algo lembrado, em que longas lacunas se alternam com momentos vívidos, cheios de relevo. Principalmente, Cianfrance mostra aqui a mesma conexão com os atores que dava tanta a vida a Namorados para Sempre (eita título infeliz, aliás). Se lá ele fez Gosling e Michelle Williams morarem juntos e se afeiçoarem um ao outro para então começarem a se atacar em cena, aqui ele cerca Fassbender e Alicia (ambos excelentes) de resguardo e proteção – até o momento em que o mundo derruba a porta da intimidade deles e devassa a reclusão que eles construíram tão cuidadosamente (e não é por acaso que o negócio virou romance também na vida civil). É para chorar mesmo, e se deslumbrar com a beleza de ver pessoas lindas sofrendo. Eis, enfim, o jeito correto de fazer um melodrama: abraçando tanto o drama quanto o melô, sem reservas nem constrangimento.

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Trailer

A LUZ ENTRE OCEANOS
(The Light Between Oceans)
Inglaterra/Nova Zelândia/Estados Unidos, 2016
Direção: Derek Cianfrance
Com Michael Fassbender, Alicia Vikander, Rachel Weisz, Jack Thompson, Thomas Unger, Anthony Hayes
Distribuição: Paris Filmes
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