Carnaval em casa: 7 filmes bacanas que entraram direto no on-demand
Ficou sem programa? Não quer nem ouvir um samba-enredo? Aí vai então um cardápio sortido para o seu feriado

Fúria em Alto Mar (Hunter Killer)
Onde: NOW
Filme de submarino é como pizza: mesmo quando é ruim, é bom. E, embora este aqui passe a muitas milhas náuticas de distância de clássicos como Caçada ao Outubro Vermelho e O Barco – Inferno no Mar, ele tem lá seus momentos bastante divertidos. Com as tensões entre a Rússia e os Estados Unidos se agravando na região do Mar de Barents, perto do Círculo Ártico – cada país perdeu um submarino de forma suspeita –, um capitão sem experiência de comando, mas muito bem considerado, é destacado para ir até lá investigar o incidente num submarino de ataque. Joe Glass (Gerard Butler) é aquele americano de sangue vermelho que esse tipo de filme adora celebrar: começou de baixo, é justo, decidido e destemido – qualidades que vêm a calhar quando, por umas e outras, o presidente russo mais um almirante (o grande Michael Nyqvist, em seu último papel) vão parar na sua embarcação, tentando escapar do fogo de seus próprios compatriotas. Gary Oldman, Toby Stephens e Common completam o elenco.

Sem Rastros (Leave No Trace)
Onde: NOW, Looke
Veterano de guerra com stress pós-traumático em último grau, Will (Ben Foster) há anos vive apenas em companhia da filha Tom (Thomasin McKenzie) em acampamentos rústicos nas florestas imensas do Oregon, evitando ao máximo qualquer outro contato humano. Morar nos parques federais, porém, é ilegal. Assim, quando um turista denuncia a presença de Will e Tom, eles são forçosamente integrados ao sistema de assistência social e a uma nova rotina que, para o ex-combatente, equivale a uma tortura psicológica prolongada. Entre o desejo dele de fugir, e o desejo de Tom de se socializar, cria-se um impasse doloroso para um pai e uma filha que se amam mas já não conseguem achar um termo comum. Em seu primeiro filme desde Inverno da Alma, de 2010 – que lançou Jennifer Lawrence –, a diretora Debra Granik mais uma vez demonstra um tino notável para traduzir personagens por meio da paisagem em que eles vivem, e de novo se debruça sobre as vidas americanas que transcorrem à margem.

A Fera (Beast)
Onde: NOW
Na atuação notável de Jessie Buckley – uma das jovens atrizes britânicas do momento –, Moll definitivamente é uma garota instável: sujeita a repentes de temperamento, sempre prestes a pular de dentro da própria pele, desconfortável onde quer que esteja. Na pequena Ilha de Jersey, onde ela mora, não é fácil a uma pessoa assim passar despercebida, e a família de Moll contribui para a sensação de opressão dela – um irmão que só a critica, uma mãe que a cobra sem parar, um pai com Alzheimer. Assim, embora esteja na cara que Pascal (o ótimo Johnny Flynn, da série Lovesick) é uma fria, ela embarca na dele imediatamente, assim que o conhece em circunstâncias, digamos, curiosas. Pascal afronta a mãe de Moll, não liga para regras e tem aquele jeito inconfundível de perigo. Falando nisso, aliás, ele é o principal suspeito na onda de assassinatos de jovens mulheres que vem apavorando todos em Jersey. Moll tem certeza que a polícia está errada. Mas é como dizem: há certezas certas, e certezas erradas. De qual tipo é a dela? O estreante Michael Pearce dirige com estilo e um ataque ferino que cai muito bem ao material.

A Pele Fria (Cold Skin)
Onde: NOW
Durante a I Guerra Mundial, o oficial-meteorologista Friend (David Oakes) ganha um posto numa ilha próxima à Antártica, completamente deserta, exceto pelo arredio faroleiro Gruner (Ray Stevenson). O sossego e o isolamento, porém, não duram nem uma noite: quando o Sol se põe, estranhos humanóides saem de seus esconderijos e, com ferocidade, atacam a casa de Gruner e, depois, o farol, onde ele vai se refugiar. Pense em A Forma da Água – mas, na pegada do diretor francês Xavier Gens (do apocalíptico O Abrigo, ou The Divide, de 2011), a história vem com mais clima, mais violência, produção mais lúgubre (e excelente) e muito mais empatia para com Aneris (Auda Garrido), a criatura que Gruner capturou ainda criança e que mantém cativa, como companhia e, argh, algo mais.
Fé Corrompida (First Reformed)
Onde: NOW, Looke
No norte gelado do estado de Nova York, o reverendo Toller toca uma pequena igreja histórica, fundada 250 anos antes por puritanos holandeses, e agora mal e mal frequentada por meia dúzia de fiéis. O posto é uma caridade do presidente de uma dessas megacorporações religiosas americanas: ex-capelão militar, Toller encorajou o filho a se alistar, e então o perdeu na guerra; seu casamento se desfez, e seu sentimento de culpa é esmagador. Magérrimo, de cabelo aparado bem rente à cabeça e rosto meticulosamente barbeado, o pastor é um homem que aparenta ter se reduzido ao mínimo indispensável. Anda, ainda, praticando um autosacrifício inconsciente – bebe muito (em segredo), não come nada (seu café da manhã é pão molhado no bourbon) e vem se recusando a procurar um médico, apesar de haver algo muito errado com sua saúde. Quando tenta confortar um ativista ambiental em depressão, a pedido da mulher grávida dele (Amanda Seyfried, muito bem no papel), o efeito é o oposto do pretendido: agora também Toller está obcecado com a ideia do fim do mundo. Severo e imprevisível, o filme do diretor Paul Schrader concorreu ao Oscar de roteiro no dmingo passado, e é todo ele um ato de bravura. Não só esta é a melhor atuação de toda a carreira de Ethan Hawke (e uma das mais notáveis do último ano), como Schrader fala do que conhece muito bem – criado num rigorosíssimo ambiente protestante, ele despontou nos anos 70 como um dos mais transgressivos e questionadores cineastas americanos da sua geração.

Cut Bank: Assassinato por Encomenda (Cut Bank)
Onde: Telecine
Vamos começar pelo elenco: Liam Hemsworth, Teresa Palmer, John Malkovich, Billy Bob Thornton, Michael Stuhlbarg, Bruce Dern, Oliver Platt e por aí vai – ou seja, é difícil entender como um thriller desta qualidade (e lançado no exterior em 2015!) só agora aparece por aqui, sem alarde, diretamente no on-demand. Um casalzinho (Hemsworth e Teresa) sem querer filma o assassinato de um carteiro nas pradarias ao redor da pequena Cut Bank, Montana. Mas será sem querer mesmo? Quanto mais o xerife (Malkovich) puxa o fio da meada, mais o novelo se embaraça. O diretor Matt Shankman já dirigiu episódios de tudo na vida, de Ugly Betty a Mad Men, de The Good Wife a Game of Thrones – e é também produtor da série Fargo, com que este filme enxuto, de parafusos bem apertados, guarda várias semelhanças na trama e no tom sardônico.
A Última Jornada (Journey’s End)
Onde: Telecine On
Na I Guerra Mundial de 1914-1918, a região de Aisne, no norte da França, estava no olho do furacão, cercada pelo fogo mais cerrado do conflito. Ali, numa trincheira fétida, o capitão Stanhope (Sam Claflin) tem a reputação dúbia de ser ótimo comandante, mas também alcoólatra – sem o copo, diz ele, seria impossível ter suportado já quase quatro anos de horror. Amparado por um segundo-em-comando bem mais velho, que todos os oficiais chamam de “Tio” (Paul Bettany), ele aguarda mais uma ofensiva alemã quando um tenente quase imberbe (Asa Butterfield) e amigo de sua família é colocado sob suas ordens, cheio de vontade de lutar e de inexperiência. Está para chegar o dia em que um filme de I Guerra vai superar o padrão-ouro imposto por Glória Feita de Sangue, de Stanley Kubrick. Mas o drama do diretor inglês Saul Dibb (de A Duquesa), adaptado de uma peça clássica encenada pela primeira vez em 1928, dá ao cânone uma contribuição digna, sincera, inteligente e repleta de excelentes atuações.