Hora do jogo: quatro filmes de esporte para ver em casa
Beisebol ou futebol? Tênis ou atletismo? Na dúvida, programa-se para assistir a tudo

McFarland dos EUA (McFarland, USA, 2015)
Onde: na Netflix
Seja no papel de atleta ou no de treinador, ninguém encarna tão bem o espírito dos filmes de esporte quanto Kevin Costner – resignado à eventualidade do fracasso mas desejoso do sucesso, e áspero por fora mas com um coração de ouro lá dentro. Nesta adaptação de uma história verídica, ele é Jim White, treinador de futebol americano de colégio com um temperamento tão explosivo que nem a competência o salva: já maduro, no final dos anos 80, o único emprego que consegue arrumar é numa escola pobrezinha de tudo da Califórnia, frequentada apenas pelos mexicanos que trabalham nas colheitas. A mulher de Jim (Maria Bello) e suas filhas estão infelicíssimas com a mudança. Mais infeliz ainda está o próprio Jim – até reparar em como seus alunos são bons na corrida de longa distância (é o seu meio de transporte), e decidir inscrevê-los em torneios da modalidade então bastante elitista do crosscountry. É feito para ser edificante, lógico. Mas é convincente, agradável e, nem é preciso dizer, tem em Costner seu melhor trunfo. (Para vê-lo em ação também no beisebol, no golfe e na natação, procure Sorte no Amor, Campo dos Sonhos, O Jogo da Paixão, Por Amor, Anjos da Vida e A Grande Escolha.)
Borg vs McEnroe (Borg McEnroe, 2017)
Onde: no NOW
O sueco Bjorn Borg (Sverrir Gunadson), o “Iceborg”, o jogador mais imperturbável da história do tênis, já tinha quatro anos consecutivos como campeão em Wimbledon quando, em 1980, topou pela frente com o jogador mais chiliquento que já houve no esporte – o americano John McEnroe (Shia LaBeouf), que não aguentava um set sem despejar desaforos sobre os juízes, quebrar a raquete (então de madeira) e xingar a plateia. Isso é o que a maioria das pessoas lembra daquele que é tido como o mais sensacional enfrentamento já ocorrido numa quadra. O filme do diretor dinamarquês Janus Metz, porém, se propõe ir além das aparências, e pinta um quadro fascinante. Borg era, na verdade, um vulcão sempre prestes a explodir, treinado no autocontrole (e no tênis, evidentemente) por um ex-finalista derrotado de Wimbledon que se tornou sua figura paterna e queria a todo custo realizar no pupilo aquilo que não conseguira (Stellan Skarsgard está, como sempre, excelente no papel). McEnroe era uma mente matemática de primeira ordem, que ventilava a fúria como estratégia (e como saída para seus próprios problemas com seu pai). E ambos eram pessoas de uma infelicidade extrema. O trecho do poema de Rudyard Kipling sob o qual os dois a certa altura aparecem sentados explica o tom da empreitada: “Se puderes enfrentar o Triunfo e o Desastre / E tratar do mesmo modo esses dois impostores”. Os dois atores principais são ótimos – especialmente LaBeouf –, a recriação dos jogos é muito competente e, não, não vá tentar descobrir quem ganhou e como antes de ver o filme. Não saber, ou não lembrar, só acrescenta à experiência. Curiosidade: quem faz o Borg criança é o filho dele, Leo, que vem seguindo os passos do pai.

Maldito Futebol Clube (The Damned United, 2009)
Onde: no NOW
Não é preciso conhecer o futebol inglês (aliás, nem é necessário gostar de futebol) para apreciar este filme alegre e divertido sobre uma das figuras mais folclóricas do esporte – o técnico Brian Clough (Michael Sheen), que, graças ao seu tino para a inovação, levou o Derby County, no início dos anos 70, da obscuridade para o topo da primeira divisão. Inimigo figadal do técnico Don Revie (Colm Meaney), este do então eterno campeão Leeds United, Clough era o tipo de sujeito que falava o que lhe dava na telha, não resistia a uma briga e adorava um holofote. Gostava tanto, aliás, que em 1974 deu um péssimo passo: assumiu o Leeds no lugar do rival Revie. Foi hostilizado pelos jogadores, caiu em desgraça e, em 44 dias, perdeu o emprego e também a amizade de seu fiel preparador físico (Timothy Spall) – a qual teve de recuperar pondo-se de joelhos diante do amigo. A ascensão, queda e volta por cima do protagonista são contadas com agilidade por Peter Morgan, roteirista de The Crown, e Tom Hooper, diretor da minissérie John Adams. Quem brilha mesmo, porém, é Michael Sheen, irresistível no papel de Clough.

Um Homem Fora de Série (The Natural, 1984)
Onde: na Netflix
Encontrado na década de 20 por um olheiro no interiorzão rural americano, Roy Hobbs, de 19 anos, parece predestinado a uma carreira meteórica no beisebol. Mas algo vai tirá-lo dos trilhos – e Roy então irá reaparecer do nada, aos 35 anos, para assumir uma posição nos Knights, time da primeira divisão que anda numa maré de azar aparentemente sem remédio. De início hostilizado pelo treinador veterano (o ótimo Wilford Brimley), Roy de repente vira a grande esperança do time. Vira também alvo das atenções de uma loira sensacional (Kim Basinger, u-la-lá) e joguete nas mãos de um “cartola” inescrupuloso. Robert Redford tinha 48 anos quando fez o filme dirigido com desenvoltura clássica por Barry Levinson, mas estava podendo. Além de ser um ator de excelentes desempenhos muito discretos e estudados (embora em geral seja subestimado), Redford tem uma postura atlética absolutamente perfeita – melhor até que a de Kevin Costner.
