Um sorriso tímido esconde a fragilidade da ‘bolha’
Japoneses consideram os protocolos de proteção uma farsa. O desconforto é evidente

Antes do início da Olimpíada de Tóquio, prevista para começar em 23 de julho, cerca de 10.000 voluntários abriram mão de participar dos Jogos, com medo de contágio com o novo coronavírus. Os que continuaram na lida têm dado as boas-vindas para as delegações estrangeiras com sorrisos constrangidos – um tanto forçados, como o da moça da fotografia no Aeroporto de Narita, que inaugura o blog A Imagem do Dia. Há evidente desconforto. Os japoneses consideram a suposta “bolha” de proteção uma farsa, comparada a uma peneira ou algo esburacado. Apesar do método ter sido adotado sem problemas em inúmeras competições internacionais (como a NBA e o Aberto de Tênis dos EUA), ele começou mal no Japão. Há falhas evidentes. A imprensa local chegou a mencionar, com espanto, a confraternização de membros da delegação brasileira com passageiros comuns durante o desembarque no dia 14.
Para provar que é impossível manter os atletas e o público completamente protegidos do vírus, a tevê japonesa tem mostrado flagrantes de estrangeiros que deveriam estar fechados em hotéis fazendo compras em lojas de conveniência e passeios pela cidade.
Para a professora emérita de Sociologia da Universidade de Tóquio, Chizuko Ueno, paira no ar um efeito indesejado. “Estão tratando os visitantes como se fossem criminosos em potencial”, diz ela. Houve quem, com ironia, tenha imaginado a seguinte comparação: “o Japão se tornaria uma Coreia do Norte durante a Olimpíada?”.
Com 1 387 casos confirmados de Covid-19 na terça-feira, 20, o Japão registrou o segundo dia de maior crescimento de casos desde 21 de janeiro. Foram registrados, desde a sexta-feira, 16, pelo menos 70 testes positivos relacionados à pandemia. “Não podemos dizer que a bolha esteja funcionando”, disse Kenji Shibuya, especialista em saúde pública de Tóquio.