Coreia do Sul se ilumina com lanternas de papel para o aniversário de Buda
Celebração revela equilíbrio entre cristianismo e budismo no país asiático

Por onde se anda em Seul, os olhos são atraídos por um mar de cores que flutua sobre as ruas. As lanternas de papel — em tons vivos de rosa, laranja, azul e amarelo — começaram a aparecer timidamente no fim de março, mas agora, em abril, já tomaram conta da paisagem urbana. São o anúncio visual de uma das celebrações mais marcantes da Coreia: o aniversário de Buda, que este ano será comemorado no dia 5 de maio, durante a lua cheia do quarto mês lunar.
Essas lanternas, chamadas Yeondeung, têm o formato da flor de lótus — símbolo central do budismo, que representa pureza, renascimento e iluminação espiritual. Embora a legislação sul-coreana não permita feriados religiosos, essa data é uma das raras exceções, ao lado do Natal. Um budista, outro cristão. Um em maio, o outro em dezembro. A coexistência dessas duas datas oficiais diz muito sobre a presença e o peso das duas religiões no país, que hoje caminham lado a lado.
Diferentemente de muitos feriados que trazem uma pausa, o aniversário de Buda é quando Seul se transforma. Os templos — como o belíssimo Bongeunsa, no coração da capital — ganham vida: lanternas floridas, bandeirolas, ornamentos, cerimônias, apresentações… tudo ocorre ao mesmo tempo. E tem mais: os visitantes são recebidos com refeições tradicionais. Não falta o famoso bibimbap no café da manhã e no almoço, servido com chá quente e um sorriso acolhedor.
Segundo a professora de Coreano, pesquisadora e mestranda Milena Abreu, brasileira que mora em Seul, não é somente nos templos que a festa acontece:
“Parques, praças e centros culturais também entram no clima, com jogos tradicionais, danças de máscaras, shows acrobáticos e performances que resgatam o melhor da cultura coreana. E, talvez, o momento mais esperado de todos: o Festival de Lanternas, no centro de Seul”.

Um espetáculo à parte, o Festival de Lanternas é colorido, simbólico e silenciosamente poderoso. O desfile noturno é quase um carnaval zen: não tem batuque, mas tem luzes flutuantes que contam histórias. Cada lanterna carrega um fragmento do budismo, uma imagem, um ensinamento, uma lembrança.
Para o turista, segundo Milena Abreu, é um privilégio poder assistir de perto. Para quem nasceu na Coreia, é uma memória que se repete a cada ano — e que, com o tempo, virou ponto de encontro entre gerações, crenças e culturas.