Agência brasileira oferece viagens para a Coreia do Norte
Rumo ao inusitado: colecionadores de países irão para a nação comandada por Kim Jong-un

Ir para a Coreia do Norte nas férias pode soar como roteiro de filme distópico — mas para um grupo crescente de brasileiros, é apenas o próximo destino. Com uma proposta ousada e fora dos circuitos turísticos tradicionais, a agência Estrela Vermelha é a primeira brasileira a oferecer viagens, após a pandemia, ao país presidido por Kim Jong-un. A viagem inaugural está marcada para o dia 31 de outubro deste ano. O país voltou a aceitar estrangeiros em fevereiro de 2024, começando pela região de Rason, uma zona econômica especial na fronteira com a China e a Rússia.
“Temos autorização para levarmos os turistas no fim do ano”, explica o paulista Rodrigo Ianhez, um dos sócios da agência, que é historiador e mora em Moscou desde 2011.
O grupo para a Coreia do Norte parte da China, com recepção em Pequim. De lá, voa-se até Pyongyang, capital norte-coreana. Após nove dias de visitas guiadas, o retorno é feito de trem até a fronteira com a China, e dali um trem-bala até Pequim encerra a jornada.
“O trem é uma experiência à parte. Você convive com coreanos e poucos falam inglês. É um mergulho real na vida cotidiana. Nosso foco sempre foi destinos incomuns para o brasileiro. Depois do eixo América Latina e Europa, abrimos espaço para lugares como Irã, Coreia do Norte, Mongólia, Vietnã, além das 15 ex-repúblicas soviéticas”, conta o fortalezense Cauê Araujo, outro sócio da Estrela Vermelha.
Os roteiros combinam história, cultura e natureza. Há visitas a fábricas de vidro, a fazendas coletivas, a cidades litorâneas e até a resorts de esqui. O turismo também passa por museus como o da Vitória (sobre a Guerra da Coreia), o Palácio do Sol (onde estão os corpos embalsamados de Kim Il-sung e Kim Jong-il) e monumentos dedicados ao legado revolucionário do país. O turista que topar a empreitada tem que sair do Brasil sabendo que é uma viagem guiada. Ele não pode, por exemplo, sair do hotel sem autorização e sem um guia norte-coreano:
“Claro que existem restrições: não é permitido circular sozinho e certos materiais, como k-dramas, laptops ou livros publicados na Coreia do Sul e Japão, são proibidos. Nós avisamos para passageiros limparem os celulares antes de entrar no país. Levar conteúdo, como k-drama, é crime, avisa Rodrigo Ianhez.

Com foco em experiências imersivas, os roteiros incluem todas as refeições (com direito a cerveja por refeição), hospedagem e acompanhamento de guias locais e tradutores. A parte terrestre custa cerca de 2,7 mil euros, além dos voos de ida e volta para Pequim, que variam entre R$6.500 e R$11 mil, saindo de São Paulo.
“Trabalhamos com grupos pequenos, no máximo 16 pessoas. Nossa proposta é oferecer uma viagem que você não conseguiria fazer sozinho. Por isso, cada roteiro é pensado nos mínimos detalhes, sem padronização”, diz Cauê.
A viagem inclui praias coreanas, visita a uma tumba real, compras de produtos como ginseng ou roupas típicas em lojas estatais e a principal biblioteca do país. Aliás, na biblioteca há dois livros de autores brasileiros: Jorge Amado e Paulo Coelho.
“A gente trabalha com destinos que foram, ou ainda são, parte de projetos de sociedade alternativos. São lugares que contam outras narrativas da história, e isso encanta tanto os apaixonados por política e história quanto os ‘colecionadores de países’ — aqueles que buscam experiências únicas e autênticas”, conclui Cauê.